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13/08/2021

Infecções fúngicas associadas à Covid-19 são tema do III Seminário Científico 2021 do INI


Texto: Antonio Fuchs e Paula Gonçalves / Edição: Juana Portugal

A Vice-Direção de Pesquisa Clínica do INI promoveu o III Seminário Científico 2021 abordando a aspergilose, a candidíase e a mucormicose, doenças micológicas que vêm sendo diagnosticadas como coinfecções em pacientes com Covid-19. O evento, realizado de forma virtual no dia 11 de agosto, contou com exposições de Rodrigo de Almeida Paes, chefe do Laboratório de Micologia do Instituto, e Andréa d'Avila Freitas, médica infectologista e tecnologista em Saúde Pública da unidade. A moderação do encontro ficou a cargo de Dayvison Freitas, pesquisador do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatologia Infecciosa, e teve ainda a participação de Rosely Zancopé, vice-diretora de Pesquisa Clínica.

Andréa d'Avila Freitas fez a primeira apresentação compartilhando o trabalho desenvolvido durante 2020 na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Centro Hospitalar para Pandemia de Covid-19 do INI. “Percebemos que muitos dos pacientes acometidos por Covid-19, hospitalizados com quadro graves, compartilhavam diversos fatores de risco relacionados às infecções fúngicas invasivas, sendo as mais frequentes a Candida, o Aspergillus e o Mucor”, explicou. A médica infectologista apresentou casos clínicos das doenças que foram tratados na unidade e ressaltou a importância do corpo médico conhecer melhor as infecções fúngicas de forma a prover um melhor tratamento para os pacientes.

Ao falar da Aspergilose Pulmonar Associada a Covid-19 (CAPA), Andréa destacou o papel dos exames de microscopia ou testes de galactomanana no sangue, um polissacarídeo presente na parede celular do fungo, que é um marcador sensível para o diagnóstico da doença. O tratamento é feito com medicamentos antifúngicos como voriconazol e isavuconazol. A Cândida, outro fungo importante neste cenário, chega a estar presente em até 10% de pacientes internados por Covid-19 e está associada a algumas comorbidades como diabetes ou doenças imunossupressoras, uso de ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea), múltiplos acessos vasculares, entre outras. No INI foram nove os episódios de Infecção Primária de Corrente Sanguínea (IPCS) por Cândida de junho a dezembro de 2020, com prevalência da espécie não albicanas em 78% dos casos. O tratamento é baseado em equinocandinas, uma classe de drogas antifúngicas. Finalizando a sua intervenção, Andrea falou sobre a mucormicose, uma micose rara e de difícil diagnóstico, que possui uma alta taxa de morbidade e letalidade, podendo chegar a 80% dos casos. A Índia é o país com maior número de relatos da doença associada à Covid-19, com mais de 15 mil casos decorrentes,  principalmente, de uma grande parcela da população acometida por diabetes sem diagnóstico ou tratamento e as precárias condições sanitárias locais. Dados do Ministério da Saúde do Brasil mostram que de 2018 a junho de 2021 foram 157 casos notificados no país, sendo 49 apenas neste ano. Andréa apresentou as diferentes classificações para os casos da doença e as formas de tratamento existentes com terapia antifúngica feita com anfotericina B ou isavuconazol, um controle metabólico, a redução da imunossupressão, entre outros métodos.

Rodrigo de Almeida Paes, chefe do Laboratório de Micologia do INI, iniciou a sua exposição falando sobre a nota técnica 04/2021 da Anvisa, que trata sobre as orientações para vigilância, identificação, prevenção e controle de infecções fúngicas invasivas em serviços de saúde no contexto da pandemia de Covid-19, abordando especificamente aspergilose, candidíase e mucormicose. O pesquisador destacou os diferentes métodos de diagnóstico micológico existentes e afirmou que “o sucesso na visualização e isolamento do agente etiológico depende, além da coleta, transporte, conservação e volume suficiente da amostra, de seu processamento correto antes do exame micológico”.

O microbiologista apresentou exemplos das culturas para as três doenças, explicando que elas devem ser identificadas quanto às suas características macro e microscópicas e citou ainda os métodos de identificação dos fungos existentes como o meio cromogênico, os kits comerciais, o sequenciamento de DNA e o uso do equipamento Maldi-TOF (Matrix Assisted Laser Desorption Ionization - Time Of Flight), que consiste em um espectrômetro de massa capaz de identificar microrganismos isolados em meios de cultura, de uma forma rápida e eficaz. Rodrigo falou também sobre as pesquisas de galactomanana, que ganhou evidência recentemente por conta da pandemia de Covid-19 para diagnosticar a aspergilose em seres humanos, entre outros testes micológicos.

Durante os debates, uma das questões levantadas foi se existiria a possibilidade de surgir uma epidemia de mucormicose no Brasil. Segundo Andréa d'Avila Freitas, não com a proporção de casos que ocorre na Índia, uma vez que a situação do país asiático difere em vários aspectos da nossa. A ocorrência de diabetes na população brasileira é menor, temos uma melhor situação sanitária e nossos protocolos fazem uso mais restrito dos corticoides, fatores que impactam diretamente na disseminação da doença.

Encerrando o encontro virtual, a vice-diretora de Pesquisa Clínica, Rosely Zancopé, fez um alerta sobre a importância de considerar as micoses invasivas no campo da Saúde. “Esperamos que esse seminário faça com que os profissionais de saúde pensem nos fungos ao fazer diagnósticos. Na Fiocruz temos um grupo muito forte que trabalha exclusivamente com a área, mas os médicos esquecem que existe essa possibilidade. Fora daqui, em locais que não são centros de referência como nós, a situação é ainda pior. Todas as pessoas que tiveram contato com a Covid-19 e trabalham em um hospital, devem lembrar de fazer exames micológicos, radiológicos e dar atenção aos sinais clínicos, porque isso pode fazer com que o paciente seja salvo com um tratamento imediato para infecções fúngicas”, concluiu.

Confira a íntegra do seminário na tela abaixo ou no canal do INI no YouTube.

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