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16/11/2021

INI 103 anos: desafios para a implementação da Saúde Única


Texto: Antonio Fuchs / Edição: Juana Portugal

A conferência Desafios para a implementação da Saúde Única, proferida por Marcia Chame, coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre e da Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre – Pibss/Fiocruz, deu início ao segundo dia (10/11) do simpósio online de 103 anos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas. A abertura do evento contou com a participação da diretora do INI, Valdiléa Veloso, e a conferência teve a mediação de Mayumi Wakimoto, chefe do Serviço de Vigilância em Saúde da unidade. Após a conferência, foi realizada a mesa redonda O INI e a inovação em saúde: do diagnóstico à gestão.

Na conferência, a pesquisadora do Pibss/Fiocruz iniciou sua exposição informando que o conceito de Saúde Única (One Health) foi discutido, inicialmente, na década de 1960, por médicos e médicos veterinários sobre as relações das doenças infecciosas com o homem e a natureza, mas que ganhou sua definição durante o simpósio da Wildlife Conservation Society - The Rockefeller University, em 2004, reconhecendo que a saúde dos seres humanos, animais, plantas e ambiente está interconectado e interdependente, e avalia os potenciais movimentos de doenças entre humanos, animais domésticos e silvestres. "Se olharmos os grandes programas existentes de Saúde Única hoje em dia, eles abordam questões de integração entre diferentes áreas como doenças dos alimentos, resistência antimicrobiana, as emergências em saúde. Mas vemos muito pouco de ações para prevenção das doenças existentes ou novas doenças que podem ocorrer no mundo atual", destacou.

Márcia Chame informou que várias iniciativas globais são derivadas do movimento de Saúde Única e que a Organização Mundial da Saúde listou em 2016, e revisou em 2018, uma série de doenças e patógenos prioritários para pesquisa em saúde pública que podem ser a causa da próxima epidemia global, como a febre hemorrágica da Crimeia-Congo, o Ebola, o Marburg vírus, a febre de Lassa, entre outras. "O risco de emergência de doenças é bastante elevado nas regiões de florestas tropicais, que contam com uma alta biodiversidade de mamíferos que experimentam alterações antropogênicas decorrentes do uso da terra para as práticas da agropecuária. Temos que acompanhar o que vai acontecer com a redistribuição das espécies que sairão de seus locais de origem para buscar alimentos em outros ambientes por conta da destruição local. Isso é uma questão central para nós pesquisarmos e estudarmos", salientou.

A pesquisadora citou como exemplo o caso das queimadas que vêm destruindo o Pantanal brasileiro, que acabam causando inúmeras mortes de animais por queimaduras corporal e pulmonar, ou sofrem de intoxicação por substâncias tóxicas, causam a remodelação da composição química das águas pela entrada das cinzas, trazem a perda do banco de sementes deste ecossistema, além de gerar um ambiente “novo” que sofre com a colonização por espécies exóticas invasoras.

A coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre falou ainda da experiência da Fiocruz através do Sistema de Informação em Saúde Silvestre (SISS-Geo), que é uma plataforma computacional essencial ao funcionamento do CISS. Ela tem como objetivo gerar, a partir dos registros georreferenciados informados pelos usuários, modelos de alerta de ocorrências de agravos na fauna silvestre, especialmente aqueles com potencial de acometimento humano, além de modelos de previsão de oportunidades ecológicas para emergência de doenças. “Esta é uma ferramenta para celular destinada à vigilância e monitoramento de saúde dos animais silvestres, cujos dados vão nos ajudar a descobrir onde as doenças ocorrem, se estão se espalhando e como podemos gerar políticas públicas de vigilância e proteção da biodiversidade brasileira”, disse.

Inovações no INI

A mesa redonda O INI e a Inovação em Saúde: do diagnóstico à gestão, moderada por Milton Morais, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e coordenador do Programa Inova Fiocruz, apresentou diferentes projetos em desenvolvimento na unidade e aprovados pelo Programa, todos trazendo inovações em diferentes áreas do campo da saúde, desde a assistência, passando por pesquisas laboratoriais e chegando na gestão hospitalar.

A primeira apresentação foi de Andreza Pain Marcelino, do Laboratório de Pesquisa Clínica e Vigilância em Leishmanioses, com o trabalho Produção e avaliação de protótipo de Ensaio Imunoenzimático - ELISA para o diagnóstico da Leishmaniose Tegumentar Americana. A pesquisadora explicou que a padronização de um método sorológico altamente sensível e específico agregará valor ao diagnóstico da LTA, considerando as dificuldades existentes para a realização de biópsias para o diagnóstico parasitológico da doença. A iniciativa obedece as Boas Práticas de Fabricação e Procedimento de Validação em todas as etapas de padronização, produção e validação para um lote experimental de kit diagnóstico exclusivo para a doença. Andreza ressaltou as parcerias firmadas com Bio-Manguinhos e a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, ambas unidades da Fiocruz, e a Universidade Federal de Minas Gerais, que envolve a expertise de diversos pesquisadores para o desenvolvimento deste kit, previsto para ser validado por atores externos em 2024.

Falando sobre A Integração do fluxo de informações da cadeia de suprimentos de material médico-hospitalar do INI a partir da aplicação da inteligência de negócio, a vice-diretora de Gestão do Instituto, Solange Siqueira Duarte dos Santos, explicou que a iniciativa prevê a criação de uma base de dados única para coletar e guardar as informações dos principais sistemas utilizados nessa Cadeia. A partir da organização e armazenamento desses conhecimentos, os dados serão utilizados como fontes de informação para a disponibilização em um painel de instrumentos. A proposta abrange uma solução de análise de projeto e a criação de sistemas utilizando ferramentas de código aberto, além de um sistema de gerenciamento de dados. "Buscamos proporcionar aos gestores a análise contínua de métricas, a partir de definições estratégicas, contribuindo assim para a redução significativa de despesas e ganhos na qualidade e confiabilidade dos serviços prestados pela Instituição. É importante ressaltar toda a operação logística que tivemos que promover com a abertura do Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19, que aumentou o número de leitos da instituição de 24 para 173, o que nos trouxe um grande desafio nessa cadeia de suprimentos médico-hospitalar", disse.

O pesquisador do Laboratório de Micologia, Mauro de Medeiros Muniz, apresentou o projeto Padronização e implementação de Plataforma (TR) Teste Rápido - imunocromatografia de fluxo lateral para detecção de anticorpos anti-Histoplasma capsulatum. Segundo Mauro, a doença é endêmica ou potencialmente endêmica para 93 países, e endêmica em todas as regiões brasileiras. A proposta do teste desenvolvido pelo Instituto, com futuro potencial para solicitação de patente, pretende pesquisar anticorpos da doença, através de amostras clínicas de sangue, soro e plasma, com resultado em 15 minutos, mais confiável, trazendo economia de tempo e custo, diferente de outro teste existente no mercado que pesquisa antígenos da histoplasmose, com tempo de resposta de 40 minutos, e feito através da urina do paciente.

O estudo Amostras alternativas para o diagnóstico de chikungunya e persistência do vírus em fluídos corporais foi apresentado por Guilherme Amaral Calvet, pesquisador do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas. O objetivo é investigar a presença e o período de duração do chikungunya e seus marcadores (RNA e anticorpos IgM contra CHIKV) em sangue, sêmen, secreção vaginal, saliva e urina em adultos infectados durante as fases aguda e de convalescença da doença. Participaram da pesquisa 152 pacientes do laboratório. Com relação à sorologia Anti-CHIKV-IgM, 146 participantes estavam com anticorpos específicos contra a doença. Esse foi o primeiro estudo de coorte avaliando a persistência do RNA do chikungunya em fluidos genitais e os pesquisadores detectaram a presença do RNA do CHIKV em todos os fluidos corporais analisados. "O conhecimento da persistência e infecciosidade viral poderá gerar recomendações para controle, tratamento e prevenção desta doença", concluiu Guilherme.

Encerrando o segundo dia do Simpósio INI 103 anos, Hugo Perazzo Pedroso Barbosa, do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids falou sobre o Desenvolvimento e validação de dispositivo diagnóstico tipo 'point-of-care' para detecção de esteatose e fibrose hepática baseado em modelos preditivos a partir de exames laboratoriais por microfluídica e dados antropométricos. A ferramenta alternativa é voltada para detectar a doença caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado através de parâmetros clínicos e laboratoriais. O trabalho analisa uma série de marcadores sorológicos, que são a junção de dados laboratoriais e as medidas antropométricas aplicadas a uma fórmula matemática, cujos resultados serão os mesmos de um exame de biópsia hepática ou de imagem do fígado, sendo uma alternativa de baixo custo, de disponibilidade universal e que pode ser utilizado por diversos profissionais de saúde. O pesquisador apresentou o aplicativo Hepatic-App, que faz o cálculo de quatro biomarcadores de esteatose hepática e três de fibrose hepática, fornecendo assim o diagnóstico preciso do paciente baseado nos pontos de corte recomendados pela literatura.

Confira a íntegra do segundo dia do Simpósio INI 103 anos clicando na tela abaixo.

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