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29/04/2021

Pesquisadora do INI participa de webinar sobre os desafios clínicos, laboratoriais e de tratamento da criptococose


Texto: Antonio Fuchs / Edição: Juana Portugal

Márcia dos Santos Lazéra, pesquisadora do Laboratório de Micologia do INI, participou do Webinar Desafios no manejo da criptococose. A médica infectologista abordou a clínica e a epidemiologia desta doença endêmica no Brasil, no evento que contou ainda com exposições de Márcia de Souza Carvalho Melhem, do Laboratório de Micologia do Instituto Adolfo Lutz, e José Ernesto Vidal Bermudez, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. A atividade foi promovida pelo Ministério da Saúde no dia 14 de abril.

Dando início ao webinar, a médica infectologista e doutora em infecciosas e parasitárias, Márcia Lazéra, explicou que a criptococose é uma micose sistêmica causada pelo fungo Cryptococcus que apresenta duas variedades: neoformans e gattii e que, inalado a partir de matéria orgânica morta presente no solo, passa pelo trato respiratório e afeta o sistema nervoso central do indivíduo. “O Cryptococcus neoformans é um grande marcador de imunodeficiência, principalmente na Aids e em outras condições como linfomas, leucemias ou transplantados de órgãos, por exemplo, e pode ser encontrado em todas as regiões do Brasil. Por outro lado, há a criptococose primária e endêmica, a gattii, que é causadora de surtos em humanos e animais, principalmente nas áreas tropical e subtropical, e que segue em plena expansão no país, sendo frequentemente encontrada no norte e nordeste, com alta letalidade, entre 35% a 40% dos casos detectados”, destacou.

Nas manifestações da doença, tanto na neoformans quanto na gattii, Márcia Lazéra ressaltou que é necessário avaliar aspectos clínicos e de imagens para um diagnóstico mais preciso. “Grande parte dos casos tem acometimento do sistema nervoso central, principalmente a meningoencefalite subaguda e dos nervos da base do crânio. No entanto, em hospedeiros com boa imunidade ou que não tenham um fator predisponente, é possível observar imagens pulmonares sugestivas, e através da disseminação hematogênica são visualizadas lesões em pele, ossos, próstata, rins, fígado e linfonodos”, disse.

Com relação ao HIV, a pesquisadora salientou que a meningite criptocócica tem sido causa importante de morte, ao longo de décadas, em pessoas soropositivas. Um levantamento do Ministério da Saúde revelou quedos 216 mil casos notificados de pacientes com Aids registrados entre 1980 e 2012, 6% apresentavam criptococose. No que se refere à mortalidade provocada pela doença no Brasil, dos 5.755 óbitos relacionados à criptococose registrados entre 2000 e 2012, 80% foram decorrentes de meningite. “Além disso, a doença foi a causa básica de óbito em quase 20% dos pacientes acometidos por ela, mostrando a importância da criptococose primária em nosso país”, afirmou.

Por não ser uma doença de notificação compulsória, os dados são dispersos e pouco confiáveis, o que impossibilita estabelecer a magnitude real da criptococose em nosso país. Márcia Lazéra informou que é fundamental conhecer a diversidade regional para se estabelecer diagnósticos mais precisos da doença, bem como levantar a história epidemiológica individual de cada pessoa acometida por ela. Além disso, o Brasil deve desenvolver uma maior experiência com o teste rápido de CrAg (detecção de antígeno criptocócico), implementar rotinas para o diagnóstico precoce e aperfeiçoar a base laboratorial de forma a apoiar o diagnóstico médico mais preciso.

Márcia de Souza Carvalho Melhem, do Laboratório de Micologia do Instituto Adolfo Lutz, abordou a utilização das diferentes ferramentas existentes para auxiliar no reconhecimento da criptococose como o exame de diagnóstico laboratorial imunológico para detecção do CrAg, considerada a ferramenta mais sensível para esta detecção. Citou ainda o ensaio de fluxo lateral para detecção do antígeno criptocócico (LFA CrAg), que permite uma análise simples, rápida, de baixo custo e que requer pouca ou nenhuma infraestrutura laboratorial, mas que ainda não está disponível no Brasil, além do PCR para diagnóstico da doença, apesar de ser pouco usado na prática clínica, e o isolamento do agente etiológico por meio de cultura.

Já o representante do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, José Ernesto Vidal Bermudez, falou sobre as formas existentes de tratamento para a criptococose na busca para reduzir a alta taxa de letalidade da doença. Apresentou um histórico de evolução dos antifúngicos ao longo das décadas, destacando que o arsenal terapêutico contra a doença é bastante antigo, com a utilização da anfotericina B em 1950, do fluconazol nos anos 90 e dos preparados lipídicos por volta do ano 2000. Apesar de termos uma abordagem terapêutica bastante limitada, José Vidal citou como uma nova forma de tratamento a flucitosina, um medicamento que está para ser aprovado para uso no Brasil. O médico infectologista destacou ainda que os corticosteroides devem ser evitados no manejo convencional da meningite ou meningoencefalite criptocócica, mas que podem ser utilizados em casos de criptococomas cerebrais com sintomas importantes ou presença de déficits neurológicos.

Saiba mais sobre a criptococose no site do Ministério da Saúde.

 

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