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20/05/2021

Pesquisadora do INI participa de webinar sobre paracoccidioidomicose promovido pelo Ministério da Saúde


Texto: Antonio Fuchs / Edição: Juana Portugal

Priscila Marques de Macedo, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatologia Infecciosa do INI, participou do Webinar Novos aspectos epidemiológicos e clínico-laboratoriais e terapêutica da paracoccidioidomicose, organizado pelo Grupo Técnico de micoses sistêmicas do Ministério da Saúde, no dia 12 de maio. O debate apresentou diferentes perspectivas desta doença negligenciada e contou ainda com as exposições de Rosane Christine Hahn, da Universidade Federal do Mato Grosso, e Gil Benard, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

As duas primeiras apresentações, de Rosane Hahn e Gil Bernard, trouxeram abordagens e atualizações sobre os aspectos eco-epidemiológicos, etiologia e diagnósticos micológico, sorológico e molecular para a doença. A pesquisadora destacou que a paracoccidioidomicose (PCM) é uma micose sistêmica negligenciada, endêmica no Brasil e em outros países da América Latina, causada por fungos do gênero Paracoccidioides (P. brasiliensis e P. lutzii) e a infecção ocorre através da inalação de seus conídios encontrados na natureza e dispersos na terra. Caracterizada como uma doença ocupacional, ela é percebida em lavouras domésticas ou aquelas com maiores extensões, acometendo principalmente trabalhadores rurais que lidam com o solo.

Já Gil Benard falou sobre o diagnóstico laboratorial da PCM, ressaltando que o exame sorológico é extremamente importante para a análise dos casos onde não se visualizou ou isolou o fungo. O palestrante apresentou diferentes testes imunológicos existentes para a detecção de anticorpos anti-Paracoccidioides tais como as técnicas de Imunodifusão Dupla (IDD) e Contraimunoeletroforese (CIE) que, na prática, são os mais aplicados na maioria dos centros de referência, além de exames como o Imunoblotting, o Elisa-direto e o Dot-Elisa.

Ao iniciar sua apresentação, a pesquisadora do INI, Priscila Marques de Macedo, lembrou que a classificação da PCM foi proposta na década de 1980, e que a micose pode aparecer sob duas formas clínicas: crônica (tipo adulto), mais comum nos homens entre 30 e 50 anos, fumantes e lavradores, causando comprometimento pulmonar e das vias aéreas e digestivas superiores; e a aguda/subaguda (tipo juvenil), que pode ser moderada a grave, e atinge crianças, adolescentes e jovens adultos, sem predileção por sexo, afetando órgãos do sistema mononuclear fagocítico, em especial linfonodos e órgãos abdominais como fígado e baço. “Estima-se que cerca de 10 milhões de pessoas estejam infectadas na América do Sul e uma minoria, em torno de 1 a 2%, vai progredir para alguma das duas formas da doença”, disse. Priscila salientou que existem ainda as formas residuais da doença, relacionadas a alterações anatômicas e funcionais secundárias ao processo de cicatrização que ocorre durante e após o tratamento, e que vão gerar repercussões clínicas que comprometem a qualidade de vida dos pacientes acometidos, necessitando também de manejo especializado.

É rara a ocorrência da PCM em pacientes imunocomprometidos. Priscila informou que séries históricas analisadas não demonstraram aumento de casos de PCM em pacientes com HIV/Aids como observado em outras micoses sistêmicas e oportunistas, apesar de ser a condição imunossupressora mais associada à PCM na literatura. Acredita-se que isto ocorra porque o perfil da PCM é de uma doença rural enquanto o HIV tem perfil mais urbano.

Paracoccidioidomicose no INI

O INI é o Centro de Referência no Estado do Rio de Janeiro para atendimento a pacientes com PCM, contando com um ambulatório específico para a doença desde 1949. Cerca de 15 novos casos chegam na unidade por ano e a forma crônica representa 90% dos atendimentos. “Entretanto, nos últimos cinco anos observamos uma mudança nesse perfil. Apesar de mantermos o número de casos anuais, houve um aumento na frequência da forma tipo juvenil, que vem correspondendo a cerca de 50% dos atendimentos de PCM no INI. É um número preocupante e grande parte dos pacientes é proveniente da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro”, destacou a pesquisadora. A forma aguda (tipo juvenil) da PCM é pouco conhecida por profissionais de saúde por ser mais rara, não ter vínculo epidemiológico marcante com atividade rural e ocorrer também em zona urbana. O atraso diagnóstico faz com que os casos cheguem mais avançados e graves. 

Em 2016, o INI recebeu uma série de oito pacientes com PCM tipo juvenil provenientes da Baixada Fluminense e os pesquisadores da unidade trabalharam com a hipótese de que a construção do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro (BR-493), entre os anos de 2012 e 2014, tenha relação com o aumento destes casos, muito por conta do desmatamento e do volume de terra removido na área. “Fizemos um trabalho de campo para tentar identificar a presença de Paracoccidioides brasiliensis nas margens da rodovia e encontramos alguns resultados positivos nas amostras coletadas. Isso reforça a nossa hipótese da associação da obra com a ocorrência do aumento do número de casos de PCM aguda nos municípios vizinhos”, afirmou a pesquisadora. Esta pesquisa, coordenada por Priscila, foi financiada pelo Programa Jovens Pesquisadores do INI.

Entre ações e perspectivas, Priscila destacou que a Rede de Vigilância em Micoses Sistêmicas da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro vem trabalhando para que a PCM e outras micoses sistêmicas se tornem de notificação compulsória no estado do RJ, para realizar capacitações dos profissionais da atenção básica e de hospitais gerais para promoverem um diagnóstico mais precoce e sensibilizando para o conhecimento da PCM, especialmente sua forma aguda. Outras ações visam ampliar a oferta de triagem sorológica via Laboratório de Referência (Laboratório de Micologia do INI) e promover outras atividades de divulgação da PCM.

Covid-19 e PCM

“No contexto da Covid-19, existem trabalhos recentes mostrando o aumento do risco de infecções fúngicas invasivas em pacientes em estado crítico internados em UTI com o novo coronavírus. Os pacientes com PCM, especialmente na forma crônica, possuem um perfil de risco para a Covid-19 e não podemos esquecer isso”, salientou Priscila. A pesquisadora informou ainda que quatro pacientes da coorte de PCM do INI apresentaram Covid-19 confirmada. Destes, dois apresentaram quadros graves, tendo um deles evoluído para óbito.

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