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29/01/2018

Dia da Visibilidade Trans no INI foi marcado por debates sobre direitos, respeito e combate ao preconceito


Texto: Antonio Fuchs e Mayara Marins / Edição: Juana Portugal

O Dia da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro, foi comemorado no INI com um dia inteiro de programação, na sexta-feira, 26 de janeiro. Atividades artísticas, exibição de vídeos, oficina para customização de roupas e debates destacando a importância do respeito, da melhoria no acesso aos serviços de saúde e ao mercado de trabalho, além da luta pelo reconhecimento de direitos garantidos, como o uso do nome social, foram alguns dos temas abordados pelo público presente ao auditório do Pavilhão de Ensino.

Abrindo o evento, a diretora do INI, Valdiléa Veloso, destacou o compromisso da instituição em propiciar um espaço de integração e diálogo de forma a fortalecer o coletivo, colaborando com a formação de uma rede para enfrentar o preconceito, a discriminação e abrir caminhos para dar visibilidade não apenas à questão da violação de direitos, mas também ao talento de cada pessoa. “Nós somos uma instituição que tem como uma de suas missões fazer pesquisa e é o nosso entendimento que, para que a pesquisa seja adequada e apropriada, ela deve ter a perspectiva da comunidade. Essa interação contribui muito para identificarmos necessidades e desenharmos estudos que possam corresponder a essas necessidades e desencadeiem intervenções positivas”, destacou Valdiléa.

O primeiro debate da tarde teve como tema questões de saúde e empregabilidade para a população Trans e começou após a exibição de um vídeo onde três pessoas trans relatavam suas experiências com os dois assuntos. Coordenado por Laylla Monteiro, educadora comunitária do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST/Aids (LaPClin-Aids/INI), a mesa contou com a participação de Jennifer Kelly, que trabalha na Fiocruz há 20 anos, dos quais 18 na fábrica de vacinas em Bio-Manguinhos. Ela percebe a questão da empregabilidade, no seu caso, contou muito com o fator “sorte”, pois “foi agraciada por não ter tido qualquer problema, uma vez que trabalha em uma instituição que a reconheceu e deu todo o apoio assim que passou a se identificar como uma pessoa Trans”. Já a ativista e recepcionista do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Thifanny Isabella Branco, comentou que foi com o apoio do Projeto Damasm que aprendeu sobre seus direitos, buscou oportunidades de trabalho através de cursos de capacitação profissional e, atualmente, está cursando o quinto período de comunicação social em uma faculdade do Rio de Janeiro.

Para o ativista Pablo Henrique Saintz, o acesso à saúde é um processo que já causou sofrimento durante sua vivência pessoal como homem trans. “Nesse processo de mudança corporal preciso de acompanhamento médico, principalmente por conta da terapia hormonal e muitas vezes isso é tratado com descaso na rede pública. Isso acontece até quando falamos de um direito adquirido como o uso do nome social”, afirmou. Pablo destacou também a dificuldade de acesso a ginecologistas com experiência nessa questão. “Imaginem entrar num consultório médico e diversas mulheres olharem para você pensando ‘o que um homem está fazendo aqui?’ Enfrentamos muito preconceito diariamente”. Encerrando a mesa, Eduardo Castro lembrou que quando se fala em empregabilidade Trans, muita gente já associa erroneamente à prostituição, como se fosse uma marca registrada dessa população. Outro ponto levantado por Eduardo foi que, apesar de todas as políticas criadas para a população Trans é uma das que mais comete suicídio no país. “É inacreditável pensarmos que em 2018 ainda estamos lutando pelo simples direito de viver”, concluiu.

A mesa Visibilidade Trans nas comunidades, coordenada pela educadora comunitária do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST/Aids (LaPClin-Aids/INI), Biancka Fernandes, trouxe os relatos de Alessia Almeida, do Parque Vila Nova, em Duque de Caxias, e Melissa Karoline, da comunidade Nova Holanda, no Rio de Janeiro. As trajetórias são similares: há muito preconceito nas comunidades e as pessoas Trans só conquistam seu espaço ao longo do tempo. “O respeito é essencial. Se você quer respeito, você tem que se respeitar e respeitar o próximo. Conquiste seu espaço e mostre quem você realmente é. Não deixe rótulos te derrubarem”, afirmou Alessia.

A exibição do documentário Luana Muniz – filha da lua (confira o trailer aqui), de Leonardo Menezes e Rian Córdova, foi um dos destaques da programação da tarde. O filme mostra a intimidade da travesti que se dividiu entre a prostituição, a militância LGBT e os shows em cabarés. A “Rainha da Lapa” ficou conhecida em todo o Brasil pela participação no programa “Profissão Repórter” e sua aproximação inesperada com o Padre Fabio de Melo. Após a exibição foi realizada uma mesa redonda que teve como objetivo debater questões presentes no filme, como o abrigamento da população Trans nos dias de hoje. Coordenado por Cléo Oliveira, educadora comunitária do LaPClin-Aids/INI, o debate contou com a participação de Lorna Washington, ativista dos direitos do transexuais e um dos grandes nomes na cena transformista do Rio de Janeiro e do Brasil.

Lorna contou sobre o seu projeto ‘Casa de Amor’, uma ação que tem como objetivo distribuir quentinhas para moradores de rua da Lapa. O trabalho acontece toda quarta-feira depois do jantar solidário, que também faz parte do projeto, e é realizado no Club 117, na Glória. “Sabe quando o seu trabalho não está sendo em vão? Quando está surtindo efeito? Foi isso que eu senti quando vi aquelas meninas. Foi um misto de dois sentimentos: saber que estamos ajudando quem necessita, pessoas Trans entre elas. Uma de nós que está ali precisando. Ali senti a presença da Luana e tive certeza de que estamos caminhando certo. Não estamos deixando morrer o que ela sempre quis fazer”, contou.

A programação contou com várias atividades lúdicas e culturais. O dia começou com uma oficina de customização de jeans ministrada pelo estilista e presidente do Grupo Arco-Íris, Almir França, na sede do Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública (Asfoc-SN/Fiocruz). Depois do almoço, a recepção no Auditório do Pavilhão de Ensino foi animada pelo DJ Leoni Albuquerque e, encerrando a comemoração, o público assistiu as performances artísticas Vogue, com Kastellanny, Jhonatan Nevez e Izaac Holand, Sertransneja, com o Coletivo Xica Manicongo e a apresentação da drag Eva T Vênus.

(Fotos: Luciana Kamel - LapClin Aids, Antonio Fuchs e Mayara Marins)

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