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15/09/2017

Jean Wyllys abre curso TRANSformação no INI


Antonio Fuchs

“Direitos humanos são direitos de bandidos. Temos lido muito isso atualmente, sobretudo nas redes sociais. E toda vez que uma pessoa se diz defensora dos direitos humanos, sempre aparece alguém para dizer que ela é defensora de bandidos. Em geral, as pessoas que defendem direitos humanos no país estão preocupadas ou ocupadas em defender os direitos daqueles que sequer são considerados humanos ou que tenham a sua humanidade reconhecida. E eu sou uma dessas pessoas”, destacou Jean Wyllys na aula magna do curso “TRANSformação”, ocorrida no dia 25 de agosto, no auditório do INI.

Foi a partir dessa fala que o deputado federal pelo PSOL-RJ, jornalista e professor do Programa de Pós-Graduação em Infecção HIV/Aids e Hepatites Virais da UNIRIO, traçou um panorama da história da humanidade, lembrando desde o momento de maior violação dos direitos humanos, ocorrido durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), aos dias de hoje, em que vivemos em um Estado que está retirando os direitos dos brasileiros nas mais diferentes áreas do país.

“A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi aprovada em 1948 na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU)”, lembrou o palestrante. Ela foi criada para combater a opressão e a discriminação e para defender a igualdade e a dignidade das pessoas por conta do advento do Nazismo (Alemanha) e do Fascismo (Itália). “Devido a esses regimes de tirania que o mundo vivenciou, milhões de pessoas morreram sem nenhum direito. Dos 10 milhões assassinados pelo holocausto, seis milhões eram judeus. Os demais eram homossexuais, comunistas, ciganos etc”, informou Jean Wyllys.

“A humanidade tem a capacidade de errar. Ninguém é perfeito. Todos somos suscetíveis e passivos de falhar e, por isso, criamos um sistema complexo que é a ideia de justiça. Pagar um delito, cumprir pena, ser reinserido na sociedade é tudo que defendemos com a justiça. Ao longo da história, diferentes grupos e etnias sociais tiveram que lutar para defender seus direitos sem apoio algum dos conceitos de justiça”, disse.

Outro ponto explorado pelo deputado é que a política que chega nos guetos, voltada especialmente para negros, pobres ou movimento LGBT já caracteriza que essas populações não são reconhecidas como humanas. “Na nossa sociedade, os brancos são tratados diferentes dos negros. Os heteros dos gays. Isso para citar alguns exemplos. Apesar das diferenças, as pessoas devem ter seus direitos humanos garantidos e eu sou sim um ativista político que trabalho em defesa do que acredito, de que todos somos iguais e temos os mesmos direitos, argumenta. “E o que engloba os direitos humanos? Fazem parte dele os direitos sociais, econômicos, culturais, políticos, ambientais e sexuais”, garantiu.

“Historicamente, temos que lembrar que os negros, no Brasil, estão excluídos dos espaços de cidadania desde a promulgação da Lei Áurea em 1888. A importação da mão de obra europeia para trabalhar no Brasil ocorrida em virtude da libertação dos negros foi ruim pois não garantiu uma política de inserção social e de trabalho para os escravos libertos na época. E isso segue até hoje. Dos 50 mil homicídios no país anualmente, cerca de 70% são de negros e/ou pobres. Temos que trabalhar intensamente para mudar isso”, informou.

Sobre o seguimento ‘T’ da sigla LGBT, Jean Wyllys informou que o movimento vem ganhando visibilidade cultural e social muito em função das ações no campo político. Ele lembrou que nas eleições municipais de 2016, 80 travestis ou transexuais se candidataram a um cargo público e 10 foram eleitas. “Isso é muito importante se pensarmos que há 15 anos não imaginaríamos que travestis e transexuais estariam se candidatando e sendo eleitas para as câmaras de vereadores pelo país. Essas pessoas foram eleitas problematizando a questão trans e isso serve de exemplo para qualquer segmento da sociedade. Se você quer transformar a sociedade e quer mais direitos, você não tem que se afastar da política ou da democracia. Pelo contrário. Tem que participar sim da política e da democracia e de maneira muito honesta, não acreditando em “memes” de internet ou nas “fake news” que são espalhadas diariamente pelos maus políticos”.

Encerrando sua exposição, Jean Wyllys lembrou que mais do que nunca precisamos trabalhar em prol da boa política, separando o joio do trigo. “Eu atuo em diversas frentes: junto com as mulheres prostitutas e trabalhadoras do sexo, pela regulamentação da profissão para elas. Estou na luta pela legalização do aborto porque reconheço o aborto clandestino como a quarta causa de mortalidade materna no Brasil e as mulheres pobres são as que mais morrem por conta disso. Eu quero que as mulheres façam aborto com segurança. Eu estou na frente do combate ao racismo e na luta dessa guerra aos pobres disfarçada de guerra às drogas, porque ninguém trata os brancos dos bairros nobres que consomem drogas da mesma forma que os pobres de periferia. Sempre me perguntam se eu não estou cansado de todas essas lutas. Eu digo que não me canso e o que me importa, quando dou uma aula como essa, é saber que estou semeando um pouco de conhecimento para transformar nosso país para melhor”, concluiu.

Fechando a aula magna, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, lembrou que todos nós precisamos de transformação, em alusão ao título do curso, transformação para algo que seja de defesa do direito, da democracia e da diversidade. “Dentre todas as questões colocadas por Jean Wyllys e o valor desse curso para o movimento LGBT, a nossa intenção é fazer com que esse debate cresça internamente, orientando nossos estudantes e trabalhadores, porque essa batalha da comunicação é fundamental para colaborar nessa agenda de direitos”. A presidente lembrou ainda que a edição 2017 do “Fiocruz pra você”, que acontecerá no dia 16 de setembro, vai trazer para debate a cidadania, a violência e o movimento da perda de direitos que estamos vivendo como questões centrais da atividade.

Lideranças trans destacam importância do curso TRANSformação

Coube a assessora parlamentar do deputado federal Jean Wyllys, Alessandra Makkeda, a concepção do curso “TRANSformação” e a coordenação da solenidade de abertura, que reuniu apoiadores e personalidades das instituições parceiras e representantes da sociedade civil. O curso visa aprimorar a formação da população trans em temas relativos à saúde, educação, movimentos sociais, direito e cidadania. “Tivemos mais de 100 pessoas inscritas para essa primeira edição do curso, com um grupo constituído por mulheres e homens transexuais, travestis e representantes de outras identidades transgêneras e LGBT com perfil de liderança ou que já venham desenvolvendo trabalhos junto à população Trans. Hoje em dia, 67% da população trans/travesti não está inserida no mercado de trabalho. Somos invisíveis e temos que nos unir e nos fortalecer cada vez mais para mudar esse quadro”, afirmou Alessandra.

Entre as representatividades trans presentes à abertura do curso, a professora da UERJ e pesquisadora do Laboratório Integrado em Diversidade Sexual e de Gênero, Políticas e Direitos (LIDIS), Anna Paula Uziel, a presidente do Conselho Municipal pelos Direitos LGBT, Bruna Benevides, a representante da Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil, Gretta Brunet, a presidente da Associação Estadual dos Travestis e Transexuais, Andrea Brazil e o coordenador de Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio, Nélio Georgini, foram unânimes em seus discursos ao destacarem a importância do curso em ampliar o empoderamento da comunidade Trans, trazendo a possibilidade para que as novas gerações batalhem para estabelecer políticas mais abrangentes para esse grupo.

A diretora do INI, Valdiléa Veloso, também participou do lançamento do curso e destacou que esse é um momento para o fortalecimento da relação entre a academia e a sociedade civil, principalmente nesse período em que nossa sociedade - em especial as populações mais vulneráveis -, está perdendo seus direitos. “Essa colaboração é fundamental para podermos produzir dados, conscientização e empoderar essa população para que possa resistir e continuar avançando na conquista e na garantia de seus direitos legítimos. Para isso, é fundamental um espaço de convivência e discussão que esse curso oferece. Um desafio que temos com sua realização é que esse movimento não fique apenas no curso, mas que se estenda e se forme uma rede não só da sociedade civil, mas das pessoas que estão mobilizadas em combater as desigualdades e ampliar a defesa dos direitos do nosso país”, disse.

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