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30/11/2017

V Seminário de Nutrição em Infectologia do INI


Texto: Antonio Fuchs / Edição: Juana Portugal

Terapia nutricional, deficiência de micronutrientes, relação entre microbiota e sistema imune foram alguns dos temas abordados durante o V Seminário de Nutrição em Infectologia, evento organizado pelo Serviço de Nutrição do INI nos dias 07 e 08 de novembro. O encontro teve como foco central a desnutrição hospitalar, fator que vem sendo associado às altas taxas de complicações em pacientes que sofrem de doenças infecciosas e, consequentemente, contribui para um aumento significativo na morbidade e na mortalidade.

A solenidade de abertura do V Seminário reuniu a diretora do INI, Valdiléa Veloso, a coordenadora da Atenção de Pacientes Internos do Hospital Evandro Chagas, representando a Vice-Direção de Serviços Clínicos da unidade, Denise Medeiros e a chefe do Serviço de Nutrição do INI, Cristiane Almeida. Em sua fala, Cristiane apresentou a história do Hospital Evandro Chagas, desde sua criação em 1912, ainda como Hospital de Manguinhos, até os dias atuais. Sobre o Serviço de Nutrição, explicou que ele vem atuando, ao longo do tempo, alinhado com a missão estratégica do INI nos campos do ensino, pesquisa e assistência, e que busca realizar uma assistência nutricional com excelência e inovação para os pacientes, internados e ambulatoriais, com diagnóstico de doenças infecciosas.

“Um dos nossos diferenciais é fazer uma avaliação nutricional, durante a internação, de todos os nossos pacientes. Como nosso hospital é de pequeno porte conseguimos realizar esse processo sem a necessidade de fazer uma triagem e é algo que acaba auxiliando no tratamento deles”, destacou. Outro ponto explorado por Cristiane foi o início da primeira turma do Curso de Especialização em Nutrição em Infectologia este ano. “A construção desse curso foi um grande desafio para nós e vem se tornando uma experiência muito gratificando para o Serviço. Pretendemos, no próximo ano, ampliar o número de vagas. Além disso, estamos na fase de planejamento da primeira Residência Multiprofissional do INI para 2018”, informou.

A coordenadora da Atenção de Pacientes Internos do Hospital Evandro Chagas, Denise Medeiros, informou que a equipe de nutrição sempre teve muita interação e uma postura muito técnica e participativa quando solicitada pelo grupo da terapia intensiva. Já a diretora do INI, Valdiléa Veloso, parabenizou o Serviço de Nutrição por estar sempre trabalhando para consolidar, fortalecer e desenvolver novas estratégias para enfrentar novos desafios. “Assim como o Instituto, o grupo da Nutrição sempre se mantém entusiasmada para contornar os possíveis problemas inerentes ao nosso dia a dia e está sempre se aprimorando individualmente e coletivamente, ampliando suas colaborações dentro e fora do nosso campus”, ressaltou.

Qualidade em Terapia Nutricional

A primeira mesa redonda do V Seminário foi coordenada por Cristiane Almeida, chefe do Serviço de Nutrição do INI, e teve como tema a qualidade em terapia nutricional. Definida como o conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente, ela é dividida em dois tipos: Terapia Nutricional Enteral (TNE), que é o conjunto de procedimentos terapêuticos para a manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio de nutrição enteral (NE) e Terapia Nutricional Parenteral (TNP), que são os procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio de nutrição parenteral (NP).

Primeira a se apresentar, a nutricionista Fabiana Ruotolo, do Hospital Sírio-Libanês, abordou a importância dos indicadores na qualidade da terapia nutricional, informando que em 2006, 48% dos pacientes que são internados no país estavam desnutridos. Apesar da queda do número para 38,9% em 2011, em 2017 os índices de atraso de terapia nutricional continuam altos. “É necessário termos diferentes indicadores para compreender melhor a situação de nossos pacientes e estabelecer formas de reverter o quadro ruim de nutrição deles. Entretanto, nem tudo são números. Temos consciência de que podemos fazer muito com indicadores de metas e de ferramentas elaboradas para analisar melhor essa terapia nutricional sempre visando o melhorar o bem-estar do nosso paciente”, concluiu.

Em seguida foi a vez do médico Haroldo Falcão, da Sociedade Brasileira de Terapia Nutricional Parenteral e Enteral do Rio de Janeiro, falar sobre a importância da equipe multidisciplinar na terapia nutricional. “A causa mais importante da imunodeficiência adquirida, e que frequentemente é esquecida, é a desnutrição. Mais de 50% dos doentes internados em nossos hospitais têm alguma interferência, e se ainda não teve, vai ter, do aspecto nutricional. Tratar a questão nutricional é, por excelência, uma questão multifatorial. Você não resolve a alimentação de um doente trabalhando em uma única frente. Você começa na interação dos alimentos com os próprios medicamentos, entendendo o nutriente como um medicamento em si. É a partir desse entendimento que se percebe que uma equipe de terapia nutricional tem que ser multidisciplinar, envolvendo médico, nutricionista, enfermeiro e farmacêutico, podendo ainda contar com profissionais de outras categorias”, afirmou.

A microbiota e o sistema imunológico

Chamada antigamente de flora, a microbiota humana refere-se aos microrganismos que vivem no corpo humano e que, geralmente, tem funções importantes na decomposição da matéria orgânica e, portanto, na reciclagem dos nutrientes. A importância desse ecossistema e sua relação com o sistema imunológico dos pacientes foi o tema da segunda mesa redonda do seminário, coordenada pela nutricionista do INI Patrícia Dias de Brito. A bióloga da UFMG, Angélica Thomaz Vieira, lembrou que é importante entender a composição da microbiota para tentar compreender como a resposta imune do hospedeiro vai ocorrer frente a essa composição. “A colonização da microbiota se inicia desde o nascimento da pessoa e vai coexistir juntamente com a maturação do sistema imune, principalmente nas mucosas do indivíduo, como a intestinal. Então, na medida que a mucosa intestinal amadurece, a colonização por microrganismos num determinado hospedeiro vai permanecer mais estável e favorecer uma colonização direcionada para a resposta do sistema imune. Ou seja, qualquer alteração que ocorrer na composição da microbiota do indivíduo, vai alterar sua resposta fisiológica”, explicou.

No que se refere às aplicações clínicas dos estudos sobre a microbiota, a nutricionista do INI, Juliana Lauar, foi categórica: “na pesquisa clínica, as questões envolvendo microbiota caminham mais devagar. Não temos estudos conclusivos para fundamentar a indicação de qual bactéria tem que ser usada de forma potencialmente promissora para a saúde do indivíduo. É um campo relativamente novo, mas isso não significa que não será considerado. Vale a pena usar microbiotas se não houver efeito adverso”, lembrou.

Juliana falou ainda sobre a relação entre o HIV/Aids e a microbiota. “O nosso intestino é praticamente um sistema imune e nosso trato gastrointestinal possui células imunológicas extremamente importantes que produzem efeito em todo o corpo. Quando um indivíduo é infectado pelo HIV, sua mucosa intestinal sofre um dano, favorecendo a entrada de bactérias no sistema imune. A depressão de células CD4 no paciente infectado por HIV é importante porque existe uma subpopulação dessas células, que são chamadas de Th17, extremamente importantes para combater a infecção viral. Então, quando o vírus HIV as infecta, elas morrem e quem deveria combater a infecção não está ali, deixando o indivíduo mais suscetível. A terapia antirretroviral é capaz de restaurar essas células, mas ela só restaura as células periféricas, que estão na circulação. As intestinais serão restauradas de forma muito mais lenta”, informou.

O problema da deficiência em Micronutrientes

De acordo com o Caderno de Atenção Básica do Ministério da Saúde, uma em cada três pessoas da população mundial apresenta alguma deficiência de micronutrientes. O problema não é fácil de ser detectado e pode estar associado com a fome ou com alguma doença. A questão foi tema da Mesa Redonda, coordenada pela nutricionista Nara Limeira Horst (UFRJ), que deu às atividades do segundo dia do V Seminário de Nutrição em Infectologia do INI

Para falar sobre a situação da população brasileira, a nutricionista Yasmin do Amaral, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), explicou que a deficiência em micronutrientes está fortemente associada com a carência de ferro e de vitamina A. “A falta de ferro, por exemplo, afeta negativamente o desenvolvimento neurológico de crianças e reduz o rendimento de trabalho físico em adultos. Metade de todas as anemias no mundo são decorrentes da carência de ferro, segundo a OMS. No Brasil, 20,9% dos menores de cinco anos apresentam anemia, ou seja, aproximadamente três milhões de crianças brasileiras estão anêmicas. É um número alto e que preocupa demais nós nutricionistas”, destacou Yasmin.

A nutricionista do INI, Adriana Costa Bacelo, informou que a deficiência nutricional no Brasil é extremamente grave e se já é motivo de preocupação em uma população sadia, quando associada àqueles que sofrem com alguma doença infecciosa a questão é muito séria. “Entender essa alteração do estado nutricional é fundamental para poder pensar o tratamento do paciente dentro do contexto da tuberculose e do HIV, por exemplo. Vivemos em uma sociedade que sofre com a deficiência no acesso a determinados tipos alimentos e, consequentemente, gerando uma população mais debilitada, aumentando assim a probabilidade de progressão de doença infecciosa latente, como uma tuberculose, e também das demais doenças”, disse Adriana.

A relação da população pediátrica com as doenças infecciosas foi apresentada pela nutricionista do IFF/Fiocruz, Alessandra Leonardo, que lembrou o perfil do hospital do Instituto é o tratamento de crianças com HIV/Aids. O último boletim da Unitaid informa que, no Brasil, 36.7 milhões de pessoas estão contaminadas com o vírus do HIV e que, desse total, 3% pertence à população pediátrica. “Essa é uma taxa que se mantém estável ao longo dos anos, por mais que se tenham políticas públicas e busque diminuir a contaminação. É importante lembrar que a transmissão vertical é o principal modo de contaminação da criança. Se por um lado temos um número maior de gestantes fazendo tratamento antirretroviral, por outro, a gente tem uma diminuição no número de crianças em tratamento. Desta forma, a transmissão vertical é o nosso foco de atuação e a forma de evitar a contaminação infantil”, informou.

Orientação nutricional na alta hospitalar

A orientação nutricional como fator fundamental na recuperação do paciente foi o tema da mesa redonda coordenada pela nutricionista do INI, Paula Simplício. Coube à palestrante Flavia Lopes Fonseca, do Grupo Geriatrics, apresentar sua experiência, desde 1999, com essa população. Para ela, são poucos os ambientes hospitalares que realmente dedicam um espaço para que os pacientes recebam uma orientação nutricional adequada às suas necessidades. “Muitos pacientes idosos, ao ganharem alta, saem do hospital desprovidos de qualquer tipo de orientação nutricional pois estão preocupados em conseguir fraldas ou em como tomar a medicação corretamente. A orientação nutricional é fundamental porque é em casa que eles acabam fazendo cuidando da alimentação de forma mais humanizada e da melhor maneira possível”, destacou.

Já o acompanhamento após a alta em pacientes com doenças infecciosas foi o tema abordado pela nutricionista do INI, Patrícia Dias de Brito. “Essa população demanda mais tempo de cuidado em saúde por diversos fatores que impactam na sua qualidade de vida e que determinam várias hospitalizações ao longo de sua trajetória. Essa preocupação com o acompanhamento nutricional é algo muito recente no INI e nossa equipe multidisciplinar observou que uma em cada quatro internações, na verdade, eram reinternações. Não existia uma iniciativa integrada para acolher os pacientes que recebiam alta de forma a garantir a continuidade do cuidado fora do hospital, o que certamente explica esse ciclo de reinternação”, ponderou. Adriana revelou que diversas modificações foram realizadas no ambulatório da unidade e uma das estratégias foi a incorporação de uma nutricionista como referência no local de forma a prover uma melhor assistência ao paciente.

Nutrição comportamental

Na mesa redonda sobre nutrição comportamental, coordenada por Claudia Cople, da UERJ, duas visões foram exploradas: a do nutricionista e a do psicólogo. Para falar da primeira, a nutricionista do Núcleo de Saúde do Trabalhador (Nust/Fiocruz), Wanessa Natividade, colocou a questão “por que comemos?”. “Comemos por tristeza, depressão, questão fisiológica, compulsão alimentar, prazer da regionalidade, crescimento e desenvolvimento, entre diversos outros motivos. Mas o ponto é a qualidade dessa ingestão alimentar. Foi feita uma pesquisa com adolescentes das cinco regiões do país, e o alimento mais consumido por eles era a coxinha de frango. Esse é uma alimento saudável?”, inquiriu. “Identificar nossas fomes pode não ser um processo simples, mas é algo primordial para quem busca um relacionamento harmônico com o alimento e consigo mesmo. Precisamos entender o alimento para buscar um equilíbrio. Sem isso, não vamos conseguir uma vida saudável através da alimentação”, afirmou.

Já a psicóloga do INI, Rocicley de Almeida Amud, lembrou que o processo alimentar vai muito além da comida e que está incorporado a um momento afetivo que começa ao nascer, através da amamentação. Entretanto, ao longo da vida, para algumas pessoas o hábito de comer passa a ser apenas um ato de suprir alguma carência ou necessidade. “Muitas vezes, em um ambiente hospitalar, ou até mesmo em casa, o paciente só recebe a comida e não o afeto e ele tenta substituir essa falta de afeto por mais comida. Uma orientação nutricional fundamentada em estratégias de aconselhamento nutricional e em modelos e teorias que trabalham uma mudança comportamental possibilita uma alteração real e consistente do comportamento alimentar da pessoa”, destacou Rocicley.

Palestras abordaram nutrição, gastronomia, doença de Chagas e a doença hepática em pacientes vivendo com HIV

Três palestras foram realizadas durante o V Seminário de Nutrição em Infectologia. A primeira foi a importância da gastronomia na nutrição clínica, com a nutricionista Adriana Leal, da Unisuam. Nela a palestrante destacou que uma boa nutrição deve ser balanceada e suprir as necessidades do indivíduo.  Para ela, a nutrição aliada à gastronomia está começando a se fazer presente nas cozinhas hospitalares como forma de alimentar o paciente de uma forma saudável e saborosa. Já a nutricionista do INI, Paula Simplício, abordou a atenção nutricional para os pacientes portadores de Doença de Chagas, informando que uma boa alimentação deve contar, de forma equilibrada, legumes e verduras, proteínas, carboidratos e grãos. Por fim, a nutricionista Wilza Peres, da UFRJ, ressaltou os impactos da dieta em pacientes com doença hepática que vivem com HIV/Aids, enfatizando a necessidade de mudança no estilo de vida e da adoção de uma alimentação saudável para evitar a Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA).

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