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28/04/2021

Vacinas contra a Covid-19 aplicadas no Brasil e a importância da imunização contra a Influenza


Texto: Antonio Fuchs / Edição: Juana Portugal

A Vice-Direção de Pesquisa Clínica do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas promoveu, no dia 14 de abril, seu II Seminário Científico 2021 online com o tema Vacinas contra a Covid-19 utilizadas no Brasil e a campanha da gripe. A palestra, ministrada por Marcellus Dias da Costa, médico infectologista do Laboratório de Imunização e Vigilância em Saúde e do Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais do INI, abordou os rápidos avanços da ciência no combate ao coronavírus, especialmente no que se refere ao desenvolvimento de vacinas, e destacou a importância da campanha de vacinação contra a Influenza que está em andamento. O encontro contou com as participações de Rosely Zancopé, vice-diretora de Pesquisa Clínica, e de Dayvison Freitas, pesquisador do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatologia Infecciosa.

Para falar sobre os diferentes tipos de imunizantes desenvolvidos durante a pandemia, Marcellus traçou um breve histórico lembrando que o coronavírus faz parte de um grande grupo de vírus que pode infectar seres humanos e animais e que, na maioria das vezes, causa sintomas respiratórios. A atual pandemia é causada pelo SARS-CoV-2, identificado pela primeira vez na China, em 31 de dezembro de 2019. "Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou que a doença era uma emergência de Saúde Pública de importância internacional, tendo sido caracterizada como pandemia em março de 2020", lembrou.

"A medicina é uma ciência de verdades temporárias, ainda mais quando falamos de uma doença nova ou de vacinas novas. É importante nos atermos a estas datas porque, talvez, nunca a ciência teve tanto conhecimento produzido tão rapidamente ou tanta informação gerada que culminou, em dezembro de 2020, em uma vacina já sendo utilizada para combater o vírus”, destacou Marcellus. Para se ter uma ideia leva-se, em média, de 10 a 14 anos do momento inicial da tentativa de produzir uma nova vacina até ela chegar na Fase IV de uma pesquisa clínica, que é sua liberação para uso (conheça aqui todas as fases deste processo).

“Em um ano produzimos uma vacina contra a Covid-19 eficaz  que já podia ser usada na população. É óbvio que isso ocorreu por conta de pesquisas que já vinham sendo realizadas anteriormente, permitindo que este processo de desenvolvimento e fabricação de novas vacinas fosse acelerado e tivéssemos uma resposta adequada ao vírus”, destacou. Com relação às vacinas utilizadas no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou os ensaios clínicos de Fase III da AstraZeneca/Oxford em junho de 2020 e da Coronavac em julho de 2020. Ambos os imunizantes solicitaram o uso emergencial em janeiro de 2021.

O médico infectologista citou que a adaptação de vacinas já existentes foi fundamental para o desenvolvimento dos imunizantes contra o novo coronavírus, uma vez que as principais plataformas de vacinas ao redor do mundo adequaram seus estudos para o SARS-CoV-2, mostrando assim a importância da ciência básica em prol da Saúde Pública. A colaboração intensa entre pesquisadores de diferentes países e o amplo financiamento foram fundamentais para a geração e a produção dos imunizantes, além da realização de grandes ensaios clínicos para a avaliação da sua segurança e imunogenicidade (a capacidade de uma substância, como um antígeno, em provocar uma resposta imune no corpo de um ser humano) deles, e da aposta dos laboratórios em produzir as vacinas antes dos resultados finais dos estudos.

Marcellus informou que existem, atualmente, mais de 200 vacinas sendo testadas para combater a Covid-19 que utilizam quatro tecnologias diferentes: vacinas de vírus inativados, que utilizam o próprio vírus para estimular o corpo a produzir a resposta imunológica; vetor viral com um adjuvante, que utiliza um outro vírus, modificado geneticamente, para provocar uma resposta imunológica, sem causar a doença; as vacinas baseadas em proteínas, que utilizam uma proteína do vírus ou uma parte dela, para provocar uma resposta imunológica no corpo; e as vacinas de RNA e DNA, que possuem o RNA ou DNA geneticamente modificado do vírus para gerar uma proteína e produzir resposta imunológica de forma segura.

Vacinas em uso no Brasil

A vacina Oxford/AstraZeneca, produzida pela Fiocruz, utiliza como vetor viral um adenovírus não replicante, com apresentação em frascos-ampola de cinco ou dez doses de 0,5ml, administrados intramuscularmente e com esquema de aplicação de duas doses com intervalo de quatro a 12 semanas. Estudos revelaram que a melhor resposta ocorre quando o intervalo de 12 semanas é feito entre as doses. Com relação a sua efetividade, dados mostraram que a eficácia de 70,4% ocorre após duas doses e de 61,4% após uma dose em prevenir a doença sintomática pelo Covid-19.

A vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, tem origem em um vírus inativado (morto), com apresentação em frascos de monodose ou multidose (contendo dez doses do imunizante), que devem ser administrados intramuscularmente. O esquema de aplicação é de duas doses de 0,5ml com intervalo de duas a quatro semanas, e estudos recentes de Fase III mostraram que a melhor resposta no organismo ocorre quando o intervalo de aplicação das doses é de quatro semanas.

"Os dados da Fase III dos ensaios clínicos mostram eficácia de 50,7% em prevenir qualquer sintoma de Covid-19; 83,7% para casos da doença moderada e de 100% para prevenir internação ou a doença na sua forma grave. Isso é extremamente importante para que o sistema de saúde seja aliviado e não ocorra superlotação nos hospitais, permitindo assim uma assistência adequada aos pacientes”, informou o infectologista, destacando em seguida que as duas vacinas mostram-se eficazes para as variantes que estão circulando no Brasil neste momento.

Reações adversas

Com relação a reações adversas, ambos os imunizantes apresentaram a dor local como o evento mais comum, podendo ocorrer ainda cefaleia, fadiga, mialgia, febre, náusea, diarreia, prurido, congestão nasal, rinorreia, artralgia ou calafrios, de acordo com a vacina recebida pela pessoa. Segundo Marcellus, as reações adversas foram geralmente mais leves e menos frequentemente reportadas em idosos com idade superior a 65 anos e, em comparação com a primeira dose, as reações citadas após a segunda dose foram mais brandas e menos informadas.

Sobre os eventos trombóticos que foram inicialmente descritos na Europa, o médico infectologista informou que em 7 de abril de 2021, a Agência Reguladora Europeia (EMA) publicou um comunicado sobre a possível relação entre o uso da vacina contra Covid-19 da AstraZeneca/Oxford e a formação de trombos. "É importante que a gente tenha em mente que este é um evento raro e como o Covid-19 também está associada a um alto risco de hospitalização e morte por conta de trombose, o benefício da vacinação supera em muito os riscos de utilização da vacina. Os eventos descritos são muito raros e continuam sendo investigados, mas não há nenhuma relação concreta ainda entre a vacina e a formação de trombos. É importante que as pessoas fiquem atentas aos sintomas após a vacinação, porém isso não contraindica o uso da vacina. A Anvisa também fez um comunicado na mesma data e solicitou que fosse feita a alteração na bula da vacina da AstraZeneca/Oxford descrevendo o trombo, mas também não contraindicou sua utilização", afirmou.

Correlato de imunidade

Outro conceito importante apresentado por Marcellus foi o “correlato de imunidade”, um exame para saber se determinada vacina produziu resposta imunológica no indivíduo. “Estes correlatos são diferentes para cada tipo de vacina e é importante ter em mente que ainda não há uma definição de correlato de imunidade para os imunizantes contra Covid-19. Não adianta a pessoa se vacinar, fazer a dosagem de anticorpos e, dando negativo, ficar ansiosa achando que a vacina não funcionou. A gente não sabe ainda se o anticorpo neutralizante será o correlato de imunidade para as vacinas de Covid-19. O fato de você não ter anticorpo não quer dizer que você não esteja protegido contra a doença. A própria Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) divulgou uma nota técnica, em 26 de março de 2021, não recomendando a sorologia para avaliar a resposta imunológica às vacinas de Covid-19. Eu penso que a pessoa não tem que fazer exame nenhum. Se ela tem que fazer a vacina, que faça, além de manter todos os cuidados contra a doença até porque a gente sabe que nenhuma vacina é 100% eficaz. Não é apenas a vacina do Covid-19, mas todo e qualquer imunizante. Uma pessoa vacinada pode ou não ter a doença, mas deve continuar usando máscara, manter o distanciamento social, seguir com a constante higienização das mãos e as demais medidas estabelecidas”, explicou.

Com relação ao fato de pessoas contraírem Covid-19 após a vacinação, Marcellus explicou que há pouco conhecimento sobre esta questão. "Não sabemos se a pessoa que se vacinou e apresentou em seguida o quadro de Covid-19 teve uma produção menor de anticorpos, por exemplo, já que ela está em um momento de infecção pelo vírus. Não há dados concretos de como será o comportamento do sistema imunológico desta pessoa. Se existisse um exame que fosse capaz de avaliar a resposta à vacinação, bastava fazer. Mas como tudo é muito novo, ainda não existe. O ideal é a pessoa não se vacinar se estiver sintomática para a doença, justamente para não haver este fator de confusão no momento da vacinação. Entretanto, há um estudo americano mostrando que ter tido uma exposição anterior à Covid-19 produz uma resposta melhor quando a pessoa é vacinada, mas isso com as vacinas da Pfizer e da Moderna. Com as vacinas utilizadas no Brasil estes dados não existem”, disse.

A vacinação para gestantes e lactantes deve seguir a nota técnica do Ministério da Saúde, que informa que gestantes, puérperas e lactantes devem ser orientadas e avaliadas sobre o risco de exposição e contágio, não havendo contraindicação para a vacinação destas mulheres com as vacinas de Covid-19 em  uso no Brasil até o momento. Aquelas que optarem por não vacinar, devem ser apoiadas em sua decisão e instruídas a manterem medidas de prevenção contra a doença. As lactantes devem ser orientadas a não interromper o aleitamento materno.

Receber doses de imunizantes diferentes também foi um tema em pauta. Segundo o infectologista, os dados de intercambialidade das vacinas ainda não existem. “Não se sabe se isto é bom ou ruim e por isso ainda não sabemos como proceder. A avaliação é caso a caso. O mesmo ocorre com relação aos eventos adversos. As pessoas que tiveram reações mais graves na primeira dose da vacina estão contraindicadas para a segunda dose. As vacinas que temos hoje no Brasil são completamente diferentes e, por isso, o fato da pessoa ter uma reação com uma vacina não quer dizer que ela terá com a outra.”, salientou.

Campanha de vacinação contra a Influenza 2021

A Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza teve início em 12 de abril e a expectativa do Governo Federal é imunizar, até 9 de julho, 79,7 milhões de pessoas. A composição da vacina deste ano conta com as três cepas mais comuns: Influenza A/Victória, Influenza A/Hong Kong e Influenza B/Washington, mas como existem outras variedades, a pessoa pode ficar gripada após a imunização por conta de alguma delas. Confira aqui o calendário completo da vacinação para 2021.

A vacina da gripe pode ser administrada na mesma ocasião que as outras vacinas do Calendário Nacional de Vacinação. No entanto, não se recomenda a aplicação de nenhuma vacina simultânea com a de Covid-19, uma vez que não existem dados sobre esta administração conjunta. É importante que seja priorizada a vacina de Covid-19 para pessoas contempladas no grupo prioritário para a Influenza e que ainda não foram vacinadas conta o novo coronavírus. Nestas situações, deve-se agendar a vacina Influenza respeitando o intervalo mínimo de 14 dias entre os imunizantes.

Recomenda-se também o adiamento da vacinação contra a Influenza nas pessoas que apresentam quadro sugestivo de infecção por Covid-19 em atividade para evitar a confusão com outros diagnósticos diferenciais. Neste caso, a vacinação deve ser adiada até a recuperação clínica total e esperar, pelo menos, quatro semanas após o início dos sintomas de Covid-19 ou quatro semanas a partir da primeira amostra de PCR positiva em pessoas assintomáticas para realizar a imunização.

Proteção cruzada entre vacina Covid-19 e Influenza

Argumentado sobre uma possível proteção cruzada contra Covid-19 a partir da imunização com a vacina da Influenza, Marcellus foi categórico em dizer que é cedo para esta afirmação. “É interessante pensar que o Covid-19 gerou uma produção de conhecimento enorme e muitas estratégias para tentar vencer a doença. Existem estudos para tentar uma proteção cruzada com a vacina de sarampo e a Fiocruz realiza um estudo nesse sentido com a vacina BCG. A verdade é que não temos nenhum dado concreto e robusto de que fazer vacina da gripe proteja contra o Covid-19. Quem vacinar para gripe tem que contar que terá menos chance de fazer forma grave da Influenza, mas para Covid-19 não podemos tirar essas conclusões de maneira concreta porque os estudos são incipientes. Tomar a vacina da gripe é importante porque você tem menos chance de desenvolver quadros gripais e, com isso, diminui a possibilidade de confundir diagnósticos. Estamos entrando no inverno, período de maior frequência de doenças respiratórias, e estar vacinado contra a gripe é extremamente importante neste momento, mas contar com uma proteção cruzada contra Covid-19 é muito precoce”, encerrou.

Confira a palestra completa Marcellus Dias da Costa no canal do INI no YouTube.

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