O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) integra o estudo global, HTPN 091, voltado para a população trans. Conhecido como Eu Sou, o HTPN 091, integra a rede HIV Prevention Trials Network (HPTN), tendo como objetivo a investigação sobre a viabilidade de uma abordagem integrada para aumentar a adesão à Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) entre mulheres trans.
Com 304 participantes em cinco locais – quatro nos Estados Unidos e um no Brasil, representado pelo INI –, o estudo utilizou uma estratégia inovadora que combinava terapia hormonal, sessões de navegação em saúde e a oferta da PrEP. Os resultados, divulgados na 26ª semana do estudo foram muito positivos: a adesão à PrEP foi de 85% no grupo de intervenção imediata e 87% no grupo de intervenção tardia, com uma taxa de retenção comparável de 84% e 87%, respectivamente.
Além dos números, as histórias das profissionais que atuaram no estudo destacam o impacto humano desse projeto. Laylla Monteiro, educadora comunitária e coordenadora de engajamento trans no Laboratório de Pesquisa Clínica em IST, HIV/Aids do INI (LapClin Aids), afirmou que atuar como navegadora de pares no projeto foi uma experiência profundamente transformadora. "Esse projeto foi essencial para facilitar o uso da PrEP entre a população trans, além de conectar voluntárias a serviços importantes, como o acesso à hormonoterapia em locais parceiros". Ela destaca ainda que uma das melhores partes do trabalho foi a possibilidade de promover educação comunitária de maneira constante. "Além disso, tínhamos um papel fundamental no acolhimento e suporte em situações extremas, garantindo que nenhuma pessoa ficasse sem amparo nos momentos de maior vulnerabilidade", afirmou.
Carolina Ribeiro, também navegadora de pares e educadora comunitária no LapClin Aids e atuante no projeto, ressaltou o vínculo criado com as participantes. "O HPTN 091 foi essencial para oferecer às mulheres travestis e trans o acesso à PrEP e à hormonoterapia com Espironolactona e Primogyna".
A Educadora lembra que desde o início do estudo o contato era mantido de forma constante com as participantes. Ela explica ainda que as mulheres foram atendidas em dois locais, parte na Fiocruz e parte em um espaço organizado especialmente para o projeto. "Eu estive em ambos, garantindo o acompanhamento até que todas passassem a ser atendidas diretamente na Fiocruz pelo endocrinologista. Foi uma experiência incrível, onde criamos vínculos fortes. Mesmo após o término do estudo, seguimos em contato com muitas participantes. Foi um marco de acolhimento e cuidado integral".
A pesquisadora principal do estudo no Brasil, médica infectologista Emília Jalil, do LapClin Aids, destacou que a educação comunitária teve um papel crucial no projeto por oferecer acolhimento feito por pares. "A pessoa é recebida no serviço que acolhe e oferece um tratamento digno, justo e respeitoso de quem entende as dificuldades e desafios que essa pessoa enfrenta".
O co-investigador principal do HPTN, Dr. Myron Cohen destacou que os depoimentos evidenciam a importância de estratégias personalizadas e acolhedoras para atender às necessidades da população trans. "A participação significativa da comunidade trans é fundamental para aumentar o engajamento com a PrEP e reduzir a aquisição do HIV."
"O sucesso do HPTN 091 reflete o papel do INI/Fiocruz no desenvolvimento de intervenções que priorizam a saúde, o acolhimento e os direitos da população trans, contribuindo para a redução da vulnerabilidade do HIV nesse grupo", conclui Emília Jalil.

