O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) deu início ao ano acadêmico de 2025 dos programas de Pós-Graduação Stricto e Lato sensu com aula inaugural que abordou o tema O Bolsa Família, a redução da pobreza e as transformações na saúde da população brasileira: o caso da Tuberculose, HIV/Aids e Hanseníase. Os alunos lotaram o auditório do Instituto para ouvir o Dr. Maurício Barreto, que é médico, Ph.D. em Epidemiologia pela Universidade de Londres e professor emérito da Universidade Federal da Bahia e Pesquisador Sênior da Fiocruz.
Com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube do INI [1], a programação do evento também contou com mesa de abertura composta pela então vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Dra. Cristiani Machado; a diretora do INI, Dra. Valdiléa Veloso; a vice-diretora de Ensino do INI e coordenadora da Pós-graduação Lato Sensu, Dra. Suze Rosa Sant´Anna; a coordenadora da Pós-Graduação Strito Sensu, Dra. Claudia Valete,; e o coordenador-adjunto da Pós-graduação Strito Sensu, Dr. Rodrigo Caldas.
Durante sua fala, Valdiléa destacou o papel institucional do INI. “Nós trabalhamos para atender as necessidades da nossa população oferecendo assistência, formando pesquisadores, gerando dados para melhorar a qualidade de vida e transmitindo tudo isso pelo nosso ensino. Sempre com a participação dos usuários dos nossos serviços para que a nossa pesquisa seja relevante para a sociedade brasileira”, enfatizou.
A então vice-presidente de Ensino da Fiocruz transmitiu as saudações do presidente Mario Moreira e ressaltou a importância e a contribuição do INI para a consolidação da fundação. “É uma unidade que expressa bastante o compromisso que a Fiocruz tem com o Sistema Único de Saúde em primeiro lugar. O compromisso que temos com a ciência nacional e internacional. O compromisso que temos de gerar informação e trabalhar em todas as dimensões possíveis da vida institucional para contribuir com a redução das desigualdades e com a melhoria das condições de saúde das pessoas”, acentuou a vice-presidente.
Pobreza, desigualdade e saúde
As condições de saúde da população brasileira é um tema caro, não só para o INI, mas também para o Professor Maurício, que tem uma vasta experiência nesse assunto. Pesquisador Sênior da Fiocruz, ele fundou e coordenou o Centro de Integração de Dados e Conhecimento para a Saúde (CIDACS) e atualmente é coordenador científico da instituição. Sua pesquisa investiga determinantes sociais e ambientais da saúde, com foco no impacto das políticas de proteção social e das mudanças climáticas.
“Depois de quase ser infectologista, eu comecei a me interessar muito por questões do chamado Determinantes Sociais da Saúde. Parece um tema sociológico, mas não. É um desafio da epidemiologia entender como os problemas de saúde ocorrem na população”, ressaltou Maurício. “Meu interesse é sobre a saúde em geral. Como que a saúde se transforma e que condições são criadas para que ocorram mudanças na saúde da população, especialmente da população brasileira”, resumiu.
O professor começou sua aula explicando que a relação da saúde com a pobreza é uma discussão que começa há muitos séculos, mas tem uma ênfase grande no século XIX, quando surgiram alguns pesquisadores que começaram a mostrar que os mais pobres tinham piores condições de saúde. Ele destacou que essa ideia é aceita como normal atualmente, mas que nem sempre foi assim. É uma premissa que nasceu de evidências que foram se acumulando ao decorrer dos séculos e se transformou em um conhecimento fundamental.
Com base neste conceito, é possível constatar que as desigualdades estão na base dos baixos níveis de saúde, mesmo em países ricos que conseguiram diminuir a pobreza, mas mantém alto o índice de desigualdade social.
Maurício salientou que essa visão foi ampliada para entender as questões raciais e de gênero e comprovar o quão patogênico são as desigualdades. Grupos que são discriminados dentro da sociedade, em geral, têm piores níveis de saúde.
O impacto do Bolsa Família
Os programas de transferência de renda não são uma prática só do Brasil, e sim de vários países, sobretudo países em desenvolvimento. O professor relembrou que, com a virada do século, o mundo assumiu o compromisso social de se criar políticas intensivas de redução da pobreza.
A partir desse cenário, os estudos mostram que as transformações no campo da saúde se associam fortemente às políticas sociais. “Com o Bolsa Família, ocorre um processo intenso de redução da pobreza. E embora já fosse conhecido que a pobreza estava relacionada a saúde, ainda não se sabia que reduzir a pobreza melhorava a saúde. Isso não só é mais uma demonstração das relações entre pobreza e saúde, como prova que intervenções sociais positivas em termos de redução de desigualdade são parte do complexo de transformação das condições de saúde”, explica Dr. Maurício.
Determinantes Sociais na Hanseníase, na Tuberculose e no HIV/Aids
Segundo o pesquisador, o cruzamento de diversas bases de dados brasileiros possibilitou o estudo das doenças infecciosas ligadas a pobreza, permitindo uma maior compreensão dos efeitos das políticas sociais específicas e combinadas na redução da carga dessas enfermidades.
O Dr. Maurício trouxe algumas pesquisas que evidenciaram que, no caso da hanseníase, quanto maior a vulnerabilidade social, maior o risco de contrair a doença. Também foi constatado que residentes das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste têm entre 5 e 8 vezes mais risco de adoecer de hanseníase em comparação com residentes do Sul.
Quanto a Tuberculose, cujo dia mundial de combate foi celebrado em 24 de março, foi percebido que a aderência ao tratamento aumenta muito entre os beneficiários do Bolsa Família, aumentando assim a taxa de cura.
Por fim, ficou comprovado que, de um modo geral, o Bolsa Família leva a redução na incidência e na mortalidade do HIV/Aids.
Assista a aula completa ministrada pelo Dr. Maurício Barreto. [1]
