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IV Semana de Enfermagem da Fiocruz evidencia a atuação multidisplinar da categoria como pilar do cuidado integral

Com um debate focado no conceito de Uma Só Saúde (One Health), a IV Semana de Enfermagem da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) reuniu diversos profissionais da saúde na última sexta-feira (16/05), no Hotel Windsor Guanabara. Organizado pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) em parceria com o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) e a Coordenação de Saúde do Trabalhador (CST/Fiocruz), a quarta edição do evento teve como tema O Papel da Enfermagem na Saúde Única: Conectando Humanos, Animais e Meio Ambiente para um Cuidado Sustentável e Colaborativo.

O evento teve início com a tradicional Cerimônia da Lâmpada, que remonta a figura de Florence Nightingale, percursora da Enfermagem Moderna que, durante a Guerra da Criméia (1853-1856), percorria os corredores dos hospitais à noite segurando uma lâmpada enquanto cuidava dos feridos. O ato de reascender essa chama simbólica é uma homenagem a trajetória histórica da enfermagem e a renovação do compromisso dos profissionais com o cuidado humano, responsável e transformador.

Com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube do INI [1], a programação do evento também contou com uma mesa de abertura composta pela vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas, Alda Maria da Cruz; a diretora do INI, Valdiléa Veloso; o diretor do IFF, Antônio Flávio Meirelles; representando a direção da Ensp, a chefe do serviço de enfermagem Iris Lordello; a coordenadora-geral de Gestão de Pessoas (Cogepe), Andréa da Luz Carvalho; a chefe do serviço de enfermagem do INI, Mariana Machay; a chefe do serviço de enfermagem do IFF, Vivian Marinho, além de representantes do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ) e da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEN-RJ).     

A enfermeira Mariana Machay, que faz parte da equipe organizadora do evento, abriu a mesa falando sobre a importância da escolha do tema em tempos de mudanças climáticas de um mundo em constante processo de globalização. “Dentro da infectologia, a gente já sabe que não há lugar seguro enquanto alguma população estiver vulnerável”, explicou ela, ressaltando o protagonismo da enfermagem na perspectiva do cuidado integral. “A enfermagem é a interface do cuidado com todos. Nós sempre atuamos em rede, e acho que esse é o grande diferencial do papel da enfermagem” destacou.

A escolha do tema também foi salientada na fala de Valdiléa Veloso, que observou o quão apropriado é o debate sobre cuidado integral em um evento voltado para a enfermagem, que é uma profissão multidisplinar. “A enfermagem é alma dos nossos serviços. Não só no cuidado direto com os pacientes, mas na gestão. É uma categoria profissional que tem uma diversidade de conhecimento que permite uma diversidade de atuação fantástica”, pontuou.

Na ocasião, a diretora do INI também refletiu sobre o avanço do instituto na qualificação em pesquisa dos profissionais de enfermagem. “Nós temos, progressivamente, ampliado a participação dos profissionais dessa área nos nossos programas de Mestrado Acadêmico, mas principalmente, de Mestrado Profissional. E isso enriquece muito a nossa atuação. Para um instituto focado em pesquisa, assistência e ensino, ter um corpo de enfermagem qualificado também na pesquisa é fundamental”, concluiu ela.

Para o diretor do IFF, Antônio Flávio Meirelles, é inevitável abordar o conceito internacional de Uma Só Saúde (One Health) sem citar o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, que é referência mundial em saúde pública. “Fortalecer o SUS é uma missão de todas as unidades da Fiocruz. E eu não me canso de dizer nesses momentos de mesa de abertura que a sociedade brasileira começou a entender a importância de ter um sistema único de saúde, público e universal, na pandemia. A partir de muito sofrimento, com muitas mortes, inclusive de muitos enfermeiros, que foram os profissionais da saúde que mais morreram”, relembrou. “A sociedade brasileira deve ter o SUS como um valor inalienável. Defender o SUS é dever de cada um de nós, brasileiros”, frisou ele.

A primeira parte do evento foi finalizada com uma mesa redonda que discorreu sobre a conexão entre a saúde humana, animal e ambiental na prevenção e controle de doenças, abordagem essencial em um mundo globalizado. A palestra foi ministrada pela chefe de Gestão do Serviço de Resíduos e Sustentabilidade do INI/Fiocruz, Mara Ribeiro; pelo chefe-substituto do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos do INI/Fiocruz, Rodrigo Caldas; pela enfermeira-coordenadora do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE/INI), Ananza Santos; e pela coordenadora da Pós-Graduação Multidisciplinar em Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde da Unisaude Educacional e Doutoranda da Pós-Graduação Strictu sensu do INI/Fiocruz, Monica Forrester.

Após o intervalo, o evento seguiu com a mesa-redonda “O papel interconectado da enfermagem no cuidado integral”. A enfermeira do IFF/Fiocruz, Luciana Lanzelotti, apresentou um panorama sobre a atuação da vigilância epidemiológica hospitalar do IFF/Fiocruz, destacando que “notificar é cuidar”. Ela explicou que, ao identificar eventos como acidentes de trabalho, casos de exposição ao HIV ou surtos de meningite, a notificação permite acionar uma rede de cuidados que ultrapassa os muros do hospital. Por exemplo, crianças expostas ao HIV podem receber leite especial através da articulação com núcleos voluntários e secretarias municipais, viabilizado pela formalização de uma notificação. “A notificação é o ponto de partida para uma cadeia de ações que envolve médicos, enfermeiros, assistência social, farmácia, biossegurança e outros setores”, ressaltou.

A enfermeira também compartilhou dados relevantes de 2024, como os 85 casos de síndrome gripal e 52 de violência notificados na unidade, enfatizando a complexidade do cuidado integral e intersetorial. Segundo ela, a notificação garante acesso a medicamentos, ativa redes de proteção para vítimas de violência e orienta o controle de infecções, como em casos de sífilis congênita, toxoplasmose e tuberculose. “É preciso escrever tudo o que acontece, tudo o que se vê, porque só assim conseguimos prevenir, educar e avançar no cuidado com o paciente”, afirmou.

Na sequência, a tecnologista do INI/Fiocruz, Margarete Bernardo, reforçou que o “cuidar” é o conceito estruturante da profissão e deve abranger não apenas os aspectos físicos e emocionais do indivíduo, mas também os fatores sociais, ambientais e comunitários. “A gente cuida de uma pessoa que vive em um território, que tem história, cultura, vínculos. Isso precisa estar no centro da prática da enfermagem”, disse.

Ela trouxe a perspectiva da saúde única e planetária, defendendo uma atuação integrada da enfermagem com outras áreas do conhecimento e com a sustentabilidade. Para Margarete, profissionais de enfermagem devem ser agentes transformadores dos ambientes onde atuam, com responsabilidade social e ambiental, reconhecendo que seu trabalho impacta diretamente a saúde coletiva. Também ressaltou a importância da formação crítica e ética de novos profissionais, papel que cabe a todos os enfermeiros, independentemente de estarem na assistência, ensino ou pesquisa.

Ao final, Margarete frisou a necessidade de romper com uma visão fragmentada do cuidado, propondo um olhar sistêmico e integrado, no qual o vínculo com o paciente, a promoção da saúde e a prevenção de doenças são fundamentais. Segundo ela, essa abordagem fortalece a enfermagem como ciência e prática comprometida com um mundo mais justo, sustentável e saudável.

A pesquisadora da Ensp/Fiocruz, Laís Silveira, abriu a última mesa-redonda do evento, intitulada “Sustentabilidade da prática dos cuidados de enfermagem sob a ótica da inclusão”. Em sua fala, trouxe uma reflexão sobre o capacitismo na saúde e seus impactos na qualidade do cuidado oferecido às pessoas com deficiência. Laís ressaltou que, como mulher sem deficiência, fala de um lugar de privilégio, e destacou que o capacitismo é um sistema de opressão sustentado na idealização de corpos “perfeitos”. Quanto mais um corpo se distancia desse padrão, explicou, mais é desumanizado pela sociedade — o que se reflete diretamente na forma como o cuidado é praticado nos serviços de saúde.

Durante sua fala, compartilhou uma experiência pessoal envolvendo sua filha com síndrome de Down, que teve o aleitamento prejudicado por preconceitos da equipe médica. Apesar de ter nascido mamando, a criança foi tratada como incapaz de se alimentar por conta da deficiência, o que atrasou o diagnóstico de uma infecção. “Há um pressuposto de incapacidade que atravessa todo o cuidado”, afirmou. Laís frisou ainda a falta de formação dos profissionais de saúde para lidar com pessoas com deficiência, o desconhecimento sobre seus direitos e a ausência de ferramentas adequadas de comunicação, o que contribui para o afastamento desses usuários dos serviços de saúde.

Como pesquisadora, ela tem se dedicado a iniciativas que promovem a acessibilidade à informação e à comunicação no campo da saúde. Laís apresentou exemplos de materiais produzidos com linguagem simples e imagens, como termos de consentimento e pranchas de comunicação alternativa, além de jogos educativos e literatura de cordel. A pesquisadora encerrou a fala destacando a importância de reconhecer as barreiras estruturais impostas às pessoas com deficiência e da urgência em transformar o cuidado em saúde para que ele contemple a diversidade humana de forma integral.

A enfermeira do INI/Fiocruz, Lucilene Freitas, trouxe uma reflexão potente sobre sustentabilidade, inclusão e racismo no cuidado em saúde. Ela destacou que falar de sustentabilidade vai muito além de cuidar do meio ambiente, mas é também olhar para as relações e para as pessoas. “Não é possível cuidar do planeta sem cuidar das pessoas. Sustentabilidade é garantir que todas as formas de vida possam existir com dignidade, agora e no futuro”, afirmou. Lucilene ressaltou que práticas sustentáveis no cuidado passam, necessariamente, pelo combate às desigualdades, ao racismo e à exclusão.

Com uma fala atravessada pela própria trajetória, Lucilene chamou atenção para como o racismo estrutural adoece seletivamente a população negra. Citou dados que revelam que pessoas negras são maioria nos casos de HIV, tuberculose, mortalidade materna e outras doenças negligenciadas, refletindo uma tendência alimentada pelas desigualdades sociais. “As doenças têm cor, território e classe social. O racismo institucional é um dos principais determinantes da morte e do adoecimento da população negra”, pontuou.

Ela também alertou sobre as condições das profissionais de enfermagem, categoria composta majoritariamente por mulheres negras que cuidam, mas também adoecem, vítimas de sobrecarga, racismo institucional e falta de reconhecimento. “Não há política de cuidado sustentável se quem cuida também adoece em silêncio. Cuidar, para mim, é travessia, é resistência, é vida coletiva”, finalizou.

O pesquisador do IFF/Fiocruz, Carlos Renato Alves, encerrou a mesa destacando a urgência de incluir a população LGBTQIA+ nos serviços de saúde de forma digna e respeitosa. Ele compartilhou sua própria trajetória, marcada por uma transformação profissional e pessoal após se deparar com a realidade de pessoas trans em situação de cárcere. “Eu precisei ser muito mais do que farmacêutico para entender aquele contexto. E percebi que, se a gente quer falar de sustentabilidade, tem que falar de inclusão”, afirmou.

Renato chamou atenção para a falta de preparo dos profissionais de saúde no atendimento a essa população, citando casos de desrespeito ao nome social e de recusa em prestar atendimento básico. “As leis existem, mas muitas vezes não são cumpridas. E isso não é mais desculpa. A gente precisa se letrar, entender que não é ‘mimimi’. É um direito”, enfatizou.

Ele finalizou reforçando que o caminho é irreversível e que não há mais espaço para retrocessos. “Estamos lidando com uma população que foi invisibilizada por muito tempo. Mesmo com alguns retrocessos institucionais, não dá mais para voltar atrás. O letramento, a sensibilização e o acolhimento precisam ser compromissos permanentes de todos nós dentro dos serviços de saúde”, concluiu.

O evento foi finalizado com sucesso pela enfermeira e coordenadora de Atenção à Saúde do IFF/Fiocruz, Patrícia Marques, que realizou o sorteio de diversos brindes aos presentes, além de anunciar a apresentação da Orquestra da Grota e o coquetel de encerramento.

Crédito: 
Julliana Reis e Assessoria do IFF/Fiocruz
Galeria de imagens: 
Chamada para destaque: 
Evento organizado por diversas unidades da fundação abordou o protagonismo da enfermagem dentro do conceito internacional de Uma Só Saúde (One Health)
Imagem para destaque: 
Mesa de abertura evento com nove representantes de institutos e entidades.
Data de publicação: 
05/23/2025
Página de exibição: 
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