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05/05/2022

Apresentação de Beatriz Grinsztejn no TEDxRio é repercutida pela Agência de Notícias da Aids


Agência de Notícias da Aids

A Dra. Beatriz Grinsztejn, médica infectologista e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e aids do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), participou no início de abril da TEDxRio com a apresentação “40 anos de epidemia do HIV – o que fala e o que cala”. Com liderança na pesquisa em HIV reconhecida globalmente, Beatriz conta como uma mulher cientista navega por um mundo cercado de preconceitos, onde a exclusão social tornou-se a maior responsável pelas mortes por aids no Brasil. 

O TED é uma organização sem fins lucrativos criada em 1984 como uma conferência anual na Califórnia, Estados Unidos. Nos eventos os convidados fazem suas apresentações em 18 minutos ou menos. O TED criou, em 2009, o programa chamado TEDx para eventos locais, organizados de forma independente.

Beatriz iniciou sua fala dizendo que existe algo de muito especial em trabalhar com pessoas vivendo com HIV. “Quando comecei minha trajetória médica, há muitos anos atrás, os primeiros casos de aids estavam sendo descritos no Brasil. Foi em meados da década de 80, nos corredores do Hospital Antonio Pedro, no Hospital Universitário da Universidade Federal Fluminense, onde eu estudei em Niterói, que eu vi e ouvi histórias que me marcaram para o resto da minha vida”, contou. O que ela viu e ouviu foi o que a fez decidir trabalhar todos os dias nos últimos 35 anos a trabalhar com o cuidado e a pesquisa com HIV.

Desde o início, ela se deparou com pessoas, muitas vezes jovens, completamente amedrontadas frente ao diagnóstico de uma doença nova, desconhecida, mas estigmatizante. “Ter aids era como a crônica de uma morte anunciada, onde o epílogo já era conhecido antes do prólogo. Se hoje sabemos que o HIV não escolhe ninguém de acordo com a sua identidade de gênero ou orientação sexual, na época, ter aids era conhecida como ‘a peste gay’, porque os primeiros casos aconteceram entre homens que ousaram amar a quem quisessem”, explicou.

Então, movida por reflexões e pensamentos muito profundos, a médica dedicou sua carreira ao desenvolvimento de pesquisa e ao cuidado de pessoas, com o objetivo de promover políticas públicas que pudessem, de alguma forma, melhorar a qualidade de vida das pessoas sob o maior risco de adquirir HIV e daquelas vivendo com o vírus.

No final dos anos 80, ingressou na Fundação Oswaldo Cruz, um dos pilares do Sistema Único de Saúde (SUS) e instituição sempre envolvida na luta contra as epidemias que assolam a população. “Lá, junto com um  grupo de jovens profissionais médicos e de outras especialidades, montamos e revitalizamos o antigo Hospital Evandro Chagas, que se tornou um grande polo de assistência, pesquisa e ensino em HIV”, relatou.

Ela descreveu a resposta brasileira ao HIV como “bastante arrojada”, que se deu através de uma resposta governamental ágil e precoce, totalmente permeada pela participação da sociedade civil e que “juntou de uma forma extremamente ousada para a época, o tratamento e a prevenção do HIV”. Além disso, a resposta foi toda calcada nos direitos humanos e, fundamentalmente baseada na evidência científica. 

 “Em 1997, contrariando todas as regras de orientações internacionais, o Brasil ousou e estabeleceu o tratamento antirretroviral para todos os indivíduos vivendo com HIV/aids que tivessem a orientação de tratamento”, pontuou. Segundo ela, as orientações internacionais da época indicavam que os países pobres e em desenvolvimento como o nosso, deveriam se restringir a fazer a política de prevenção. “Com essa ousadia, o Brasil se tornou um exemplo para todos os países em desenvolvimento , não só na América Latina, mas também no mundo. E isso fez com que toda a trajetória da pandemia no país pudesse ser modificada”. 

Ela mencionou como o marco mais recente da política brasileira de luta contra a aids, a inclusão da PrEP – Profilaxia Pré-Exposição – no SUS, em 2018, uma atitude muito avançada até diante de muitos países ricos que ainda não tiveram coragem de incorporar essa ferramenta como política pública.

Apesar disso tudo, Beatriz ressalta que a situação da pandemia na América Latina é preocupante. “Nós temos 2,1 milhões de pessoas vivendo com HIV/aids na AL, sendo que, embora o tratamento tenha sido ampliado também em outros países, isso não repercutiu como uma diminuição de mortes, como aconteceu em outras regiões como a África. Outro dado preocupante é que, em torno de 25 a 30% das pessoas ainda chegam para fazer o diagnóstico do HIV bastante doentes, o que impacta o quanto elas podem aproveitar o que nós temos disponível de tratamento. Além disso, o número de novas infecções, que no mundo inteiro teve uma diminuição de 23%, na América Latina esse número permanece estável, com um aumento de casos nos últimos anos. No Brasil, o nono país mais desigual do mundo, nós temos uma epidemia que responde por 60% dos casos de toda a América Latina, mais concentrada na Região Sudeste do país”, observou. 

Ela ainda destacou a situação da epidemia de aids entre as mulheres que, apesar de não serem uma das populações mais afetadas, apresenta características muito particulares. “As mulheres normalmente são testadas quando estão grávidas, então, mulheres que não estão grávidas muitas vezes não são testadas para o HIV e chegam diagnosticadas tardiamente. Elas têm uma pior vinculação aos serviços de saúde, menor chance de receber uma prescrição de antirretrovirais e elas respondem pior ao tratamento. São características da nossa epidemia muitas vezes invisibilizadas”, observou.

Dra. Beatriz salientou que, para além das questões biomédicas disponíveis, outras coisas precisam ser feitas para que de fato se possa combater a epidemia de HIV/aids no Brasil. “Se muitas das barreiras que enfrentamos se encontram hoje fora do setor de saúde, as soluções também precisam ultrapassar os muros da academia. Desta forma, a participação das comunidades afetadas e da sociedade civil são fundamentais para que a gente possa chegar lá. A ignorância leva ao medo, o silêncio leva à morte, isso nós aprendemos com a epidemia do HIV. Assim, cada um de nós pode ser um agente transformador, trazendo essa discussão sobre o HIV, sobre o estigma e adiscriminação, para dentro das nossas casas, com os nossos filhos, com os nossos amigos ”. 

Assista à participação da Dra. Beatriz Grinsztejn clicando aqui ou na tela abaixo.

 

 

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