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28/05/2021

Bodo Wanke recebe título de Pesquisador Emérito da Fiocruz


Texto: Juana Portugal / Foto: Juana Portugal

Bodo Wanke, fundador do Laboratório de Micologia e docente permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), recebeu o título de Pesquisador Emérito da Fundação Oswaldo Cruz. A diretora do INI, Valdiléa Veloso, fez a entrega simbólica do diploma em solenidade que contou com a participação de Nísia Trindade Lima, presidente da Fundação Oswaldo Cruz. O evento, realizado no dia 26 de maio, fez parte da programação que marcou os 121 anos da instituição e foi transmitido pelo Canal da Fiocruz no YouTube.

O título de pesquisador emérito é outorgado a partir da indicação dos institutos. “Os pedidos são avaliados pelo Conselho Deliberativo (CD) da Fiocruz a partir dos critérios que abrangem a qualidade da obra, a referência e a continuidade do trabalho dos pesquisadores que permanecem na instituição mesmo quando poderiam, por mérito, já estar usufruindo de merecido descanso”, explicou Nísia durante a apresentação da solenidade. A nomeação de Bodo Wanke foi apresentada e aprovada por unanimidade na reunião do CD do dia 05 de junho de 2020. Os relatores da indicação foram Jacenir Reis dos Santos Mallet (coordenadora do Escritório Técnico Regional Fiocruz Piauí) e José Paulo Leite (diretor do Instituto Oswaldo Cruz).

A presidente da Fiocruz afirmou que os pesquisadores eméritos são fontes de inspiração, exemplos, referência para diferentes gerações da instituição que completa 121 anos de trabalho intenso em prol da ciência, tecnologia e inovação para o sistema de saúde. “Cumprimento de maneira muito afetuosa a nossos professores eméritos que conquistaram esse título pela grande contribuição que deram e continuam dando a seus institutos, à Fiocruz como um todo e ao nosso país”, afirmou lembrando em seguida que durante as suas trajetórias os homenageados formaram gerações, lideraram e inovaram em suas linhas de pesquisa e deram grandes contribuições para a gestão da Fiocruz. “São referências e é um grande orgulho para a nossa instituição prestar esta singela e sincera homenagem. Os aprendizados que tivemos com vocês têm sido fundamentais para enfrentar os desafios científicos e sociais que a pandemia nos coloca. Não é um momento qualquer. Por isso somos todos da Fiocruz muito gratos ao trabalho de vocês”, enfatizou Nísia.

Trajetória inspiradora

“É com muita emoção que participo desta cerimônia de entrega do título de pesquisador emérito ao pesquisador do INI e amigo, Bodo Wanke”, afirmou Valdiléa Veloso, diretora INI, ao dar início a sua fala na entrega simbólica do diploma, destacando em seguida a importância de Bodo para o Instituto, não só como um dos pilares da sua revitalização nos anos 80, mas pela ajuda na sustentação e contínuo desenvolvimento do INI na sua busca pela consolidação como Instituto Nacional de Infectologia. “Quando cheguei na Fiocruz Bodo já estava no então Hospital Evandro Chagas e convivi com ele todos esses anos. Bodo é pioneiro em manter uma equipe multidisciplinar pesquisando diferentes aspectos das doenças fúngicas e incorporou a pesquisa de fungos no ambiente, junto com a Dra. Marcia Lazera, pesquisadora que também trouxe grande contribuição”, destacou. Ao estudar a junção da saúde humana e do meio ambiente, Bodo esteve desde sempre trabalhando no que é conhecido atualmente como Saúde Única e citou como exemplos as pesquisas desenvolvidas por ele com doenças como a paracoccidioidomicose, histoplasmose, criptococose e esporotricose.

A dedicação do cientista à formação dos jovens e sua liderança exemplar também foram citados. “Bodo formou dezenas e dezenas de alunos de mestrado e doutorado, uma geração inteira de infectologistas, inclusive eu. E como Bodo lidera? Lidera pelo exemplo. Ele é próximo dos seus colaboradores e tem a humildade dos grandes pesquisadores. Ele interage com todos, ouve e aceita a contribuição que cada um tem a dar no desenvolvimento das pesquisas”, apontou Valdiléa, lembrando também que Bodo sempre trabalhou buscando a excelência. Além de ter um laboratório que é referência nacional em micoses profundas, suas pesquisas chegaram até a Antárctica através do projeto FioAntar.

Valdiléa encerrou a sua fala agradecendo a Bodo por ter aceitado o convite/desafio da Dra. Keyla Marzochi para revitalizar o HEC, transferindo seu laboratório do IOC para o hospital. “Agradeço também por toda a inspiração que nos dá. Seus amigos, colegas de trabalho, colaboradores no Brasil e no mundo sabem que ainda hoje, Bodo, você tem a curiosidade, o entusiasmo e a determinação daquele menino que nasceu em Itaguaçu, que trilhou todos os caminhos com brilhantismo, muito trabalho e muita esperança, em busca do sonho de ser médico, de estudar na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil. É com essa trajetória que você nos inspira. Muito obrigada, Bodo, por toda a sua colaboração científica, pelos alunos que formou, pelos amigos que você criou aqui e podem conviver com você. Você nos inspira”, concluiu.

Uma vida dedicada à docência e à pesquisa

No início da sua fala Bodo relembrou suas origens como filho de imigrantes alemães, capixaba de nascimento, que veio ao Rio de Janeiro para estudar, e enfatizou carinhosamente a importância da esposa, Marcia Lazera, que sempre esteve a seu lado e estimulou o desenvolvimento de seu trabalho. Ao relembrar a sua trajetória como graduando em Medicina pela Universidade do Brasil, Bodo prestou uma homenagem especial a José Rodrigues Coura. “Em 67 fiz o internato com o Dr. Coura e consolidei a minha convicção. Pensei ´é aqui que quero ficar´ e fiz mestrado e doutorado em doenças infecciosas e parasitárias, sempre sob a influência e inspiração dele. José Rodrigues Coura deixou um modelo entranhado na minha cabeça”, rememorou, citando em seguida que foi o cientista o responsável pela “mudança” da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde lecionou durante treze anos, para a Fundação Oswaldo Cruz.

Em 1980, como vice-presidente de pesquisa da Fiocruz, Coura contratou Bodo Wanke para reestruturar a micologia médica do IOC. “Topei o desafio! Quando cheguei não havia ninguém da área. Eu gostava de micoses profundas, aquelas adquiridas por via inalatória através de esporos de fungos patogênicos que vivem em algum habitat específico da natureza. Após alguns anos a Dra. Keyla me puxou para o hospital e me deu dois pesquisadores, a Dra. Rosely [Zancope] e a Dra. Marcia [Lazera]. A gente teve pela primeira vez um espaço para nos organizarmos num modelo que seguimos até hoje, por setores que tem bancadas específicas”, relembrou.

Paralelamente ao desenvolvimento de sua carreira como pesquisador, Bodo nunca deixou a docência. Além de continuar a lecionar a disciplina de micologia para o programa de pós-graduação em medicina tropical do IOC, ele também ajudou a estruturar o curso de pós-graduação em pesquisa clínica do INI e ministrou inúmeros cursos no Brasil e no exterior. “Uma das coisas que mais me satisfazia era dar aula. Gosto de interagir com pessoas e considero que fui bastante bem-sucedido porque sou lembrado aonde eu vou. Sou muito grato aos professores que me antecederam, que foram os modelos que procurei seguir numa área absolutamente negligenciada”, destacou, homenageando especialmente a Alberto Thomas Londero, da Universidade Federal de Santa Maria. “Aprendi tudo de micologia médica com ele. Era como um irmão mais velho, um pai”, declarou. 

A experiência na detecção e monitoramento da microepidemia de coccidioidomicose no Piauí, em 1991, foi um marco na vida do cientista: a primeira descrição feita na história da medicina de um episódio dessa natureza envolvendo uma micose sistêmica. Não apenas foi feita a descoberta em humanos, mas foi descrita em cães e detectaram a presença do fungo no solo. “Por tudo que vivenciei o Piauí foi o maior laboratório prático de trabalho de campo que tive na vida. Tudo começou com um curso de micologia para residentes em dermatologia em doenças infecciosas e parasitárias, em Teresina. Eu achava que poderia encontrar uma epidemia de paracoccidioidomicose e pedi que eles prestassem atenção. Três meses depois apareceram três cidadãos com pneumonia que tinham adoecido dias depois de caçar e desentocar tatus. Na investigação descobrimos que na verdade era coccidioidomicose. Foi uma felicidade porque comprovamos micologicamente que a doença era endêmica no Piauí e em estados vizinhos”, afirmou.

“A gente fez uma boa obra dentro da micologia. Ganhamos visibilidade e a gente reconhece que isso só foi possível graças ao apoio institucional que nunca nos faltou. Sou muito grato à Fiocruz e ao Piauí por permitir essas investigações de campo que para mim foram exemplares”, concluiu o pesquisador.

Bodo Wanke

Formado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Bodo Wanke possui mestrado e doutorado em Doenças Infecciosas e Parasitárias, também pela UFRJ. Atualmente é coordenador do Laboratório de Referência Nacional para Micoses Sistêmicas (CGLAB/SVS/MS). O foco principal de seu trabalho de pesquisa está nas micoses sistêmicas (Paracoccidioidomicose, Histoplasmose, Coccidioidomicose e Criptococose) e oportunísticas (Candidíase, Aspergiloses, Mucormicose, Hialohifomicose e Feohifomicose oportunística) e seus respectivos agentes.

Bodo Wanke foi diretor do INI no período de 1994 a 1997. É Membro Honorário Nacional da Academia Nacional de Medicina (ANM) e da Sociedade Internacional de Micologia Humana e Animal (International Society for Human and Animal Micology – ISHAM). Possui mais de 160 artigos científicos publicados e orientou, em sua trajetória acadêmica, 50 alunos de mestrado e doutorado.

A solenidade, conduzida por Maria Inês Rodrigues, assessora da presidência, também outorgou a titulação de Pesquisador Emérito da Fiocruz aos cientistas André Furtado, Benjamin Gilbert e Samuel Goldenberg, que foram diplomados pelos respectivos diretores das suas unidades: Sinval Brandão Filho (Fiocruz Pernambuco), Jorge Mendonça (FarManguinhos) e Marilda de Souza (Fiocruz Bahia).

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