• Diminuir tamanho do texto
  • Tamanho original do texto
  • Aumentar tamanho do texto
  • Ativar auto contraste
Selecione uma tarefa

Início do conteúdo

27/11/2019

Desafios na luta contra o sarampo


Texto: Antonio Fuchs e Juana Portugal / Revisão: Juana Portugal

A conferência de abertura do Simpósio de Aniversário do INI, teve como tema Sarampo: um novo desafio e foi ministrada pelo vice-diretor de Serviços Clínicos, Estevão Portela Nunes. Em sua exposição, o médico infectologista apresentou um histórico da doença, seus aspectos etiológicos e clínicos, as complicações para a saúde, e destacou a importância da vacinação na luta contra uma nova epidemia, seja no Brasil ou globalmente. O evento aconteceu no último dia 08 de novembro no auditório do Pavilhão de Ensino.

O vírus do sarampo é um Morbillivirus altamente contagioso, da família Paramyxoviridae, e causa imunidade permanente depois de seu quadro agudo. “É uma doença em que normalmente uma pessoa infectada pode contaminar até 18 outros indivíduos. Ou seja, uma infecção que se dissemina com muita rapidez e facilidade. Cerca de 90% dos indivíduos vulneráveis e expostos ao vírus, adoecem. Antes do surgimento da vacina, no início da década de 1960, até 50% das pessoas em geral já tinham se infectado até os seis anos e até os 15 anos o índice chegava a 90%. O sarampo sempre foi uma doença praticamente universal e era difícil escapar dela antes do surgimento da vacina”, ressaltou.

O sarampo foi descrito pela primeira vez no século X pelo médico e filósofo persa Muhammad ibn Zakariya arRazi, mas o vírus só foi isolado em 1953, na cidade de Boston, nos Estados Unidos, por John Enders e Thomas Peebles. “A partir daí foi possível o desenvolvimento de uma vacina para combater a doença”, explicou. Segundo o infectologista, o período de incubação do vírus varia de seis a 21 dias e a transmissibilidade ocorre quatro dias antes do rash, se estendendo até quatro dias depois de seu surgimento. “Se você tem alguém não vacinado em contato com o sarampo, há sim uma situação complicada, mas é importante ressaltar que a vacina mantém sua eficácia quando aplicada até 72 horas da exposição”, afirmou.

Manifestações clínicas

“As manifestações clínicas do sarampo começam com os sintomas respiratórios. Nas primeiras 48 ou 72 horas é muito difícil diferenciar o sarampo, por exemplo, de uma gripe ou de uma infecção respiratória”, explicou Estevão. “Em seguida surge a febre alta, acima de 38ºC, além de conjuntivite, tosse e coriza. Quando começa a aparecer no indivíduo o rash característico do sarampo [vermelhidão iniciada no rosto e descendo para o corpo], é que finalmente pode-se levantar as suspeitas da infecção”, afirmou.

“É necessário que o especialista preste muita atenção aos sintomas, pois o sarampo pode ser facilmente confundido com outras doenças como rubéola, escarlatina, herpes vírus 6, sífilis ou as diferentes arboviroses”, alertou Estevão, principalmente por conta do tratamento diferenciado que cada enfermidade deve ter. O infectologista explicou que o profissional de saúde não pode confiar apenas no diagnóstico clínico. Para ter certeza que o paciente tem sarampo precisa fazer exames de sorologia para a identificar o vírus.

Entre as complicações da doença, a diarreia é a mais comum, aparecendo em 10% dos casos. Infecções secundárias também ocorrem, como otite, reativação da pneumonia, complicações cardíacas e pneumonia, sendo esta a causa mais comum de mortalidade de pacientes entre 5 e 20 anos. Segundo Estevão, o sarampo é responsável também por algumas complicações neurológicas, como a encefalite, que acomete um a cada mil pacientes. Grávidas ou pessoas com alguma imunodeficiência celular também são acometidos pela doença, com altos ricos para sua saúde.

Tratamento ambulatorial e critérios para internação

“Não existe ainda um agente comprovadamente eficaz, em termos de tratamento, para combater o sarampo. As principais medidas são de suporte, como a hidratação, que é um aspecto bastante importante, principalmente no caso de infecções virais. Há também o apoio respiratório para esses pacientes”, ressaltou. A desnutrição é um fator de risco para o sarampo e mesmo em crianças bem nutridas já foi identificada uma deficiência de vitamina A. Para esses pacientes é sugerido que se faça uma reposição do suplemento. “Existe essa sugestão que a vitamina A diminui o risco de mortalidade da doença quando aplicada em quadros específicos”, informou. Sobre o uso do fármaco ribavirina para combater o sarampo, Estevão informou que a sua evidência é limitada, apesar de haver uma grande sensibilidade in vitro, embora alguns poucos estudos tenham mostrado, realmente, uma redução no tempo da doença no organismo da pessoa infectada.

O vice-diretor de Serviços Clínicos do INI salientou ainda a necessidade de internação de pacientes com a doença, principalmente em casos graves de desnutrição, desidratação, pessoas imunocomprometidas, grávidas ou aqueles em que a febre persiste por mais de três a quatro dias no organismo. “É importante deixar claro que não é tão simples internar um paciente com a doença. O corpo médico deve estar atento pois pode causar uma disseminação do sarampo via hospitalar, já que é uma enfermidade altamente contagiosa e medidas de controle devem ser adotadas imediatamente”, alertou.

Vacina: a nossa maior aliada

O infectologista alertou que a principal forma de combater a doença é a vacinação. O protocolo preconiza atualmente o esquema de duas doses após o primeiro ano de vida. Uma dose a partir dos seis meses pode ser necessária em períodos de surto, mas esta não deve contar para fins de esquema vacinal completo. Adultos também podem, e devem se vacinar, recebendo de uma a duas doses da vacina, dependendo de cada caso. É necessária uma cobertura de 95% da população para que se interrompa a circulação do vírus. Atualmente, no mundo, mais de 20 milhões de crianças perdem a primeira dose da vacina. “Por conta disso é que estamos percebendo um aumento no número de casos da doença, principalmente em países emergentes. Temos que ampliar as campanhas de vacinação e combater o obscurantismo, os falsos fatos e a ignorância de que a vacina faz mal à saúde ou causa outros problemas. Esse é o nosso papel como agente de saúde”, encerrou.

O Simpósio de Aniversário do INI, no dia 08 de novembro, foi coordenado pela vice-diretora de Pesquisa Clínica, Rosely Zancopé.

 

*Fotos: Paula Gonçalves

Voltar ao topoVoltar