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13/11/2018

Doenças causadas por fungos foram destaque do terceiro dia do Simpósio INI 100 anos


Texto: Antonio Fuchs / Edição: Juana Portugal

A programação da tarde do terceiro dia (08/11) do Simpósio INI 100 anos teve início com a conferência O Futuro da Pesquisa Molecular em Micologia, proferida por Wieland Meyer, professor da Universidade de Sidney. Em seguida a mesa redonda moderada por Mariana Machay, chefe do Serviço de Enfermagem do INI, abordou a pesquisa e inovação envolvendo temas como a paracoccidioidomicose, a coccidioidomicose, a leishmaniose e a esporotricose.

O futuro da Pesquisa Molecular em Micologia

Especialistas em micologia estudam a taxonomia, sistemática, morfologia, fisiologia, bioquímica, utilidades, e os efeitos benéficos e maléficos das espécies de fungos, que podem ser parasitas, saprófitos ou decompositores. Durante a conferência O futuro da Pesquisa Molecular em Micologia, Wieland Meyer explicou que os fungos causam mais mortes no mundo do que o HIV ou o câncer de mama, por exemplo, além de provocar complicações em outras doenças. Segundo dados da OMS, em 2016, as mortes relatadas por infecções fúngicas ficaram em quinto lugar globalmente como causa de mortalidade, atrás apenas de tuberculose, diarreia, acidentes de trânsito e diabetes.

O crescimento da resistência às drogas antifúngicas foi destacado pelo professor e muito desse problema é visto em plantações, animais ou seres humanos. “Longos períodos de tratamento profilático ou empírico com a mesma droga, a falta de diversidade química e o tratamento repetido com os mesmos fungicidas são alguns dos motivos para que tenhamos tais resistências e nos motivam, cada vez mais, a realizar pesquisas inovadoras para o desenvolvimento de novos fármacos”, disse.

Um dos futuros caminhos para o estudo micológico é a adoção de novas tecnologias de sequenciamento genético em larga escala associado à análise de bioinformática, permitindo assim a identificação de uma grande quantidade de micro-organismos como bactérias, fungos, protozoários e vírus. Com isso, é possível analisar a microbiota em amostras de diferentes naturezas e níveis de complexidade.

No Brasil, o professor Wieland vem trabalhando desde 2013 em parceria com pesquisadores do INI no Curso Internacional de Metodologias Moleculares para Epidemiologia e Diagnóstico de Infecções Fúngicas Invasivas, junto com o professor Bodo Wanke, que chegou a sua sexta edição em 2018 oferecendo uma visão histórica sobre o desenvolvimento do conhecimento em diagnóstico laboratorial de Infecções Fúngicas Invasoras (IFI). Além disso, teve papel fundamental na criação da Rede Brasileira de Criptococose, que conta atualmente com 32 instituições parceiras em 19 estados do país.

O papel do INI nas pesquisas sobre Paracoccidioidomicose, a Coccidioidomicose, a Leishmaniose e a Esporotricose

Ao falar da Paracoccidioidomicose, uma micose sistêmica de grande interesse para os países da América Latina, o pesquisador Antônio Francesconi, do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatologia Infecciosa do INI, lembrou que o Brasil responde por 80% dos casos globais e que a doença é causada pelo fungo termodimórfico Paracoccidioides brasiliensis. Quando não diagnosticada e tratada oportunamente, evolui para formas graves e letais, podendo atingir todos os órgãos, principalmente pulmões, tegumento, gânglios, baço, fígado, adrenais e órgãos linfoides do tubo digestivo. Francesconi explicou que os estudos da doença sempre caminharam lado a lado com a história do Hospital Evandro Chagas, mas que grandes avanços ocorreram após 1986 com a instituição do Laboratório de Micologia, que permitiu aos profissionais do Instituto descobrirem surtos de doença em uma tribo indígena em Roraima, na década de 90 ou, mais recentemente, em 2016, no arco metropolitano do Rio de Janeiro.

O pesquisador Bodo Wanke, fundador do Laboratório de Micologia, revelou como se deu a atuação do INI na detecção e no monitoramento da microepidemia de Coccidioidomicose no Piauí em 1991, destacando que esta foi a primeira micose sistêmica descrita na história da medicina. Não apenas foi descoberta em humanos, mas descrita em cães e detectada no solo. Durante o trabalho de campo, o pesquisador enfatizou que a Coccidioidomicose se tratava de uma endemia persistente e que segue em expansão. Até hoje, o estado do Piauí concentra 85% dos casos no país.

Armando Schubach, coordenador do Laboratório de Pesquisa Clínica e Vigilância em Leishmanioses (LaPClin VigiLeish), pesquisador do INI desde 1986, iniciou sua fala sobre o esquema alternativo com antimoniato de meglumina para tratamento da Leishmaniose cutânea que consiste na aplicação, em grandes quantidades, de medicamentos contendo antimônio pentavalente por via intramuscular ou intravenosa. Como alternativa, o pesquisador Manoel Paes de Oliveira Neto deu início ao desenvolvimento do “tratamento intralesional” há mais de 30 anos. No lugar de injeções intramusculares, o antimoniato de meglumina é aplicado de forma subcutânea diretamente nas feridas. O novo tratamento resulta em maior segurança para a saúde do paciente, pois o antimônio pentavalente pode ter efeitos tóxicos acumulativos, e apresenta praticamente a mesma eficácia utilizando um número menor de doses do medicamento. Com algumas restrições quanto ao tamanho e localização das lesões, o tratamento foi adotado pelo Ministério da Saúde.

O chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos, Sandro Pereira, abordou a Esporotricose, zoonose que se alastra pelo Brasil. Detectada em 1997, acomete humanos e animais, especialmente felinos. Causada pelo fungo Sporothrix schenckii, encontrado no solo, em vegetais ou madeiras, a infecção acontece através do contato com materiais contaminados, como farpas ou espinhos, ou mordidas e arranhões de animais infectados. O laboratório do INI se tornou uma referência para o estado do Rio de Janeiro e desde 1998 já atendeu quase cinco mil pacientes humanos com a doença. Os pacientes felinos chegaram a 4.915 diagnósticos até 2017 e os caninos a 278. Todo esse conhecimento acumulado resultou em dissertações de mestrado e teses de doutorado desde 2004.

Encerrando a mesa, a diretora do INI, Valdiléa Veloso destacou toda a expertise que essas pesquisas trouxeram para a ciência brasileira. “Essa semana mostrou o quão robusta é a nossa produção científica e a contribuição de conhecimento aplicável à Saúde da nossa população, com alta relevância para o SUS, para a tomada de decisão do Ministério da Saúde e as contribuições que pudemos dar aos guias terapêuticos, de diagnósticos e nas políticas públicas que foram baseadas em trabalhos feitos aqui no INI. Na portaria que designou o INI como um Instituto Nacional podemos ver que estamos fazendo exatamente aquilo a que nos propomos”, concluiu.

Fotos: Felipe Varanda

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