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27/02/2023

Estudo, que conta com participação do INI, é publicado no The Lancet e trata da evolução da Mpox em pessoas com infecção avançada por HIV


Antonio Fuchs e Bárbara Clara (estagiária)

O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) participou do estudo Mpox in people with advanced HIV infection: a global case series, recentemente apresentado na 30th Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (CROI 2023) e publicado na revista cientifica The Lancet. A pesquisa reuniu investigadores de 19 países como Estados Unidos, Espanha, México, Reino Unido e Brasil, que forneceram dados de casos confirmados de Mpox entre 11 de maio de 2022 e 18 de janeiro de 2023 e contou com a colaboração de Mayara Secco Torres Silva, infectologista do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e Aids do INI. O Instituto é referência para o atendimento de casos de Mpox no Rio de Janeiro e desenvolve diferentes pesquisas que contribuem para o enfrentamento desta doença.

Mpox e HIV no The Lancet

O estudo Mpox in people with advanced HIV infection: a global case series, publicado em 21 de fevereiro de 2023, reuniu 382 casos, sendo 349 (91%) casos em indivíduos que viviam com HIV. No geral, 107 pacientes (28%) foram hospitalizados e ocorreram 27 mortes (25%), todas em pessoas que apresentavam imunodepressão avançada pelo HIV. Um dos destaques do trabalho foi a descrição de uma forma grave de Mpox, caracterizada por lesões cutâneas e mucosas necrotizantes, com alta prevalência de manifestações dermatológicas e sistêmicas fulminantes e morte, em pacientes com doença avançada pelo HIV, caracterizada por contagens de linfócitos TCD4+ abaixo de 200 células/mm3. Segundo os pesquisadores, é importante que se avalie a inclusão dessas formas graves de Mpox com uma nova condição definidora de Aids nas classificações das doenças do HIV nos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos e na Organização Mundial da Saúde (OMS). Outro achado importante do estudo foi a evolução fatal de pacientes com suspeita de deterioração clínica em decorrência da síndrome de reconstituição imune (IRIS). De um total de 85 pacientes que iniciaram ou reiniciaram o uso de antirretrovirais, em 25% dos casos se suspeitou que a deterioração clínica pode ter ocorrido em decorrência da IRIS, 57% dos quais morreram.

Este dado trouxe grande preocupação aos pesquisadores "No que diz respeito à prevenção, as pessoas com HIV e alto risco de infecção por Mpox devem ser priorizadas para uma vacina preventiva. Além disso, dois terços das mortes registradas ocorreram na América Latina. Os achados são particularmente pertinentes para países com baixos níveis de diagnóstico de HIV ou sem acesso gratuito universal a uma terapia antirretroviral ou a unidades de terapia intensiva, onde a interação da infecção descontrolada por HIV e Mpox é mais prevalente. Nestes países, um esforço conjunto para fornecer acesso urgente a antivirais e vacinas contra Mpox é de importância crítica”, relataram os autores do estudo, entre eles Mayara Secco, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e Aids do INI.

Estudos coordenados pelo INI para combater a Mpox

O trabalho do INI na luta contra a Mpox vai para além da assistência. Entre as pesquisas do Instituto se destacam dois estudos multicêntricos coordenados pelo INI. O primeiro é a pesquisa para avaliar a vacina MVA-BN Jynneos, produzida pela empresa Bavarian Nordic, como profilaxia pós-exposição, ou seja, a administração da vacina é realizada após a pessoa ter um contato com alto grau de exposição potencial ao vírus pelo contato íntimo com uma pessoa que seja um caso confirmado de Mpox ou que tenha se acidentado ao manipular material contaminado pelo vírus na coleta de material clínico ou no processamento de material em laboratório.  

“Estas pessoas vão comparecer aos centros de pesquisa e se serão vacinadas com duas doses da vacina, com um intervalo de 28 dias entre as doses, se a exposição tiver ocorrido no intervalo de até 14 dias. As pessoas cuja exposição tiver ocorrido após 14 dias, poderão participar do estudo e serão acompanhadas, mas não serão vacinadas. O estudo prevê a participação de, pelo menos, 746 indivíduos. Nossa expectativa é que este imunizante, aplicado dentro deste intervalo de tempo, possa bloquear o processo de infecção pelo vírus ou atenuar o desenvolvimento da doença", explicou Valdiléa Veloso, coordenadora do estudo e diretora do INI. 

A segunda pesquisa é o Unity, ensaio clínico randomizado duplo cego multicêntrico, internacional, que irá avaliar a segurança e a eficácia do antiviral Tecovirimat no tratamento de pacientes com Mpox. Coordenado pela pesquisadora Beatriz Grinsztejn, pesquisadora e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e Aids do INI, em parceria com Alexandra Calmy, do Hospital da Universidade de Genebra-Suíça e com a Agência Francesa de Pesquisa em Aids, Hepatites Virais e Doenças Emergentes (ANRS). No Brasil, os centros participantes serão coordenados pelo INI.

O Tecovirimat foi desenvolvido para o tratamento da varíola, sendo licenciado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para a Mpox em 2022, a partir de dados de estudos limitados em animais e em humanos. No entanto, até o momento não houve ensaios clínicos para confirmar se o medicamento pode ajudar os pacientes com Monkeypox a se recuperarem da doença. Os resultados do ensaio clínico Unity serão fundamentais para preencher essa lacuna no conhecimento.

O início de ambos os estudos está previsto para o março de 2023.

Mpox no CROI 2023

Um dos temas em destaque da 30th Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (CROI 2023), evento organizado pela CROI Foundation, em parceria com o International Antiviral Society (IAS-USA), e que ocorreu entre os dias 19 e 22 de fevereiro, em Seattle (EUA), foi a Mpox. Três pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e Aids do INI que estiveram presentes ao evento, apresentaram estudos inéditos relacionando Mpox e HIV. Conheça os estudos abaixo.

Mpox infection in women: a case series from Brazil – apresentado por: Carolina Coutinho

O estudo teve como objetivo descrever os aspectos sociodemográficos, comportamentais e clínicos da Mpox em mulheres (cisgênero e transgênero) em comparação com homens no Estado do Rio de Janeiro, que ocupa o segundo lugar em número de casos de doença no país. Segundo Carolina, a maioria dos casos durante o surto multinacional de Mpox em 2022 foi relatada entre gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e poucos estudos descreveram casos entre mulheres cisgênero (cis) ou mulheres transgênero (trans), que podem ser um grupo de risco para desfechos graves, especialmente em contextos de gravidez e/ou vulnerabilidades. Entre os 1.306 casos confirmados de Mpox, 108 ocorreram em mulheres, sendo 94 em mulheres cis e 14 em mulheres trans. O quadro clínico da doença nas mulheres foi mais brando, o que os pesquisadores atribuem ao fato de que apenas duas viviam com HIV. Além disso, as lesões genitais, ao contrário de relatos anteriores, foram muito menos frequentes, o que pode estar relacionado ao envolvimento de mecanismos de transmissão outros que não o contato sexual. Os pesquisadores destacam que os profissionais de saúde devem estar alertas para a possibilidade do diagnóstico de Mpox entre mulheres.

Impact of HIV infection on Mpox-related hospitalizations in Brazil – apresentado por: Mayara Secco Torres Silva

A busca tardia para o tratamento ao HIV continua sendo um grande problema de saúde pública no Brasil, processo que acabou sofrendo um impacto negativo no cuidado contínuo durante a pandemia de covid-19. Além disso, a imunossupressão relacionada ao HIV pode afetar negativamente aqueles que foram afetados pela Mpox. O estudo de Mayara Silva buscou descrever a taxas de hospitalização por Mpox, explorar o impacto da infecção pelo HIV nas hospitalizações e analisar seus resultados clínicos. Segundo a pesquisadora, entre os resultados obtidos, a imunossupressão avançada contribuiu para a apresentação de quadro clínico grave da doença e morte. “Os dados sugerem uma associação entre os piores resultados no continuum dos cuidados de HIV e as hospitalizações relacionadas com Mpox”, destacou.

High level of Mpox knowledge and stigma among LGBTQIA+ communities in Brazil – Apresentador por Thiago Silva Torres

O trabalho de Thiago Torres destaca que o estigma e a discriminação, especialmente contra a comunidade LGBTQIA+, podem resultar em barreiras estruturais no acesso aos serviços de saúde, levando a uma subtestagem e subnotificação dos casos de Mpox. O trabalho teve como objetivo avaliar o conhecimento desta comunidade sobre a Mpox, bem como descrever aspectos sociodemográficos e comportamentais de acordo com o diagnóstico autorreferido da doença, mostrando uma alta conscientização e o estigma para Mpox, além da necessidade de se expandir o acesso aos cuidados competentes em gênero como um processo fundamental para se evitar o subdiagnóstico desta doença nos serviços de saúde.

Centro de Referência para Mpox

O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) é centro de referência para Mpox no Rio de Janeiro, tendo atendido o primeiro caso no Rio de Janeiro, e o segundo do Brasil, em junho 2022. Até 23 de fevereiro de 2023, foram atendidos e notificados 896 casos suspeitos de Mpox no Instituto, sendo 822 no ano de 2022 e 74 em 2023. O INI/Fiocruz integra, desde julho de 2022, o Centro de Operação de Emergências criado pelo Ministério da Saúde para combater a doença. A unidade conta ainda com um Serviço de marcação de consultas para avaliação de casos suspeitos da Mpox, que pode ser acessado aqui.

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