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21/03/2018

A importância da patologia na Saúde Pública


Texto: Antonio Fuchs / Edição: Juana Portugal

Em um mundo plural, diversificado e sem fronteiras, as doenças infecciosas não encontram mais barreiras para a sua disseminação. A questão é motivo de preocupação nos centros de pesquisa e a luta contra o tempo em busca da cura para novas infecções nunca foi tão intensa. Com o intuito de colocar o tema em debate, o Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas do INI recebeu, no último dia 05 de março, o chefe do Departamento de Patologia de Doenças Infecciosas do CDC (Atlanta) e patologista chefe do Child Health and Mortality Prevention Surveillance (CHAMPS), Dr. Sherif Zaki.

Em um auditório lotado, Zaki falou sobre os fatores que contribuem para a emergência das doenças infecciosas e os surtos de doenças inexplicáveis que ocorreram pelo mundo nas últimas décadas, destacando que as autópsias são uma ferramenta eficaz de vigilância por parte dos patologistas, e encerrou abordando o papel que a CHAMPS - uma rede voltada para monitorar doenças em países pobres -, vem exercendo nos últimos anos.

“São diversos os fatores que contribuem para a emergência de doenças infecciosas, entre elas a demografia e o comportamento humano, o desenvolvimento econômico e uso do solo, as viagens e o comércio exterior, a adaptação e a mudança microbiana”, afirmou Sherif. Segundo o pesquisador problemas chave que colaboram fortemente para a disseminação das doenças infecciosas são: a pobreza e a desigualdade social, a guerra e a fome. “São os patologistas os primeiros a enfrentar surtos de doenças infecciosas e estão em excelente posição para descobrir doenças infecciosas emergentes”, ressaltou. Segundo o pesquisador, para que isso ocorra, cada vez mais as pesquisas devem ser uma colaboração com epidemiologistas, clínicos, veterinários e microbiologistas, além de estar associadas aos importantes avanços tecnológicos em exames como sorologia, microscopia eletrônica (EM), tecnologias moleculares e imunohistoquímica (IHC), por exemplo.

Sherif apresentou os desafios que o CDC Atlanta enfrentou nas duas últimas décadas no campo da Saúde Pública, começando com uma Síndrome Pulmonar de Hantavírus, nos Estados Unidos, em 1993, e chegando até 2015, com a recentes epidemias de Zika e Chikungunya. Entre os casos explorados, uma doença respiratória misteriosa ocorrida na Nicarágua, em 1995, precisou do uso de 16 diferentes antígenos até que os patologistas conseguissem identificar o agente causador de hemorragias pulmonares: uma variação da leptospirose. Esse fato ocorreu justamente quando o CDC Atlanta estava em vias de fechar seu laboratório de leptospirose por não considerar que a doença ainda tivesse relevância. O episódio deixou evidente que há sempre alguma variação ou mutação de vírus e os patologistas precisam estar atentos.

Realidade e ficção se misturaram na epidemia de Nipah vírus que ocorreu na Malásia em 1999. Sherif lembrou que o episódio serviu como inspiração para o enredo do filme o filme Contágio, de 2011. Na ocasião, morcegos infectaram milhares de porcos e acabaram contaminando os humanos. A principal causa do surto foi a movimentação desses porcos entre fazendas ao longo da península malaia. Isso ocorreu porque as árvores frutíferas ao redor dessas fazendas foram removidas, fazendo com que os hábitos alimentares dos morcegos frutívoros mudassem, resultando na contaminação dos porcos. A doença provocava febre altíssima, convulsões, inflamação no cérebro e podia levar à morte. “Esse também é um bom exemplo em que o desmatamento alterou o ecossistema local e levou a doença até os seres humanos”, ressaltou.

Sobre o surgimento de novos vírus, o pesquisador destacou o caso do Lujo vírus, o primeiro descoberto nos últimos 50 anos. O agente, identificado durante uma epidemia ocorrida em 2008 em Zâmbia e na África do Sul, provocava febre hemorrágica e causou mortes.

A respeito da CHAMPS, Sherif explicou que apesar da taxa global de mortalidade infantil ter caído 47% desde 1990, a instituição foi criada para realizar autópsias minimamente invasivas em crianças de forma a diagnosticar especificamente as causas da mortalidade infantil. “Trabalhamos em países onde o efetivo para esse tipo de procedimento é quase nulo e buscamos, dessa forma, detectar possíveis surtos de doenças e realizar tratamentos eficazes”, concluiu.

Estiveram presentes na aula inaugural a coordenadora geral de Pós-Graduação da Fiocruz, Cristina Guilam, a coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas, Claudia Maria Valete Rosalino, o coordenador adjunto do Programa, Rodrigo Menezes, a vice-diretora de Pesquisa Clínica do INI, Rosely Zancopé, representando a Direção do Instituto, além da pesquisadora da Fiocruz Pernambuco e coordenadora adjunto para Mestrados Profissionais da Área da Saúde Coletiva da Capes, Eduarda Cesse.

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