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13/11/2018

A importância da Pesquisa Clínica em busca da inovação científica


Texto: Antonio Fuchs / Edição: Juana Portugal

Dando continuidade às comemorações de seu centenário, o segundo dia (07/11) do simpósio INI 100 anos: Integrando saberes na construção do conhecimento em doenças infecciosas contou com um convidado especial, o diretor executivo do Groupe Haitien d’Etudes du Sarcome de Kaposi et des Infections Opportunistes (GHESKIO/Haiti), Jean W. Pape, ministrando uma conferência dedicada aos desafios de se fazer pesquisa em tempos de crise. Em seguida foram realizadas três mesas redondas dedicadas à pesquisa e inovação no Instituto, coordenadas pelo vice-diretor de Serviços Clínicos do INI, Estevão Portela, na parte da manhã, e pela vice-diretora de Gestão do INI, Solange Siqueira, e a pesquisadora Maria Clara Galhardo, do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatologia Infecciosa, na parte da tarde. Todas contaram com apresentações de diversos serviços e laboratórios do Instituto que retrataram as atividades diárias que colaboram com o fortalecimento do sistema de saúde brasileiro e com o avanço da ciência em nosso país.

O desafio de conduzir pesquisa nos tempos de crise - a história do Centro GHESKIO no Haiti

Moderada pela chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids do INI, Beatriz Grinsztejn, a conferência O desafio de conduzir pesquisa nos tempos de crise  a história do Centro GHESKIO no Haiti, ministrada por Jean W. Pape, apresentou como algumas estratégias reconhecidas e adotadas pelo governo local puderam melhorar a qualidade de vida da população haitiana, desde a introdução da terapia de hidratação oral em crianças que reduziu de 40% para 1% a taxa de mortalidade infantil até políticas voltadas para a eliminação da sífilis congênita naquele país.

Segundo Pape, o Haiti é um país que apresenta uma situação sanitária com os piores indicadores de saúde das Américas além de altas prevalências de doenças infectocontagiosas, como cólera e malária, e lembrou que fundou a GHESKIO, em 1982, para estudar a incidência incomum do Sarcoma de Kaposi na região. Desde então, a instituição tem sido um dos principais centros para o estudo e tratamento do HIV/Aids, fazendo com que o CDC/Atlanta removesse, em 1985, os haitianos dos chamados grupos de risco da doença.

Durante sua apresentação, o pesquisador descreveu um dos piores momentos da história recente do país, quando um terremoto, em 2010, matou mais de 229 mil pessoas e deixou mais de 1.5 milhão de haitianos sem casa. Nesse período, o trabalho da GHESKIO foi fundamental ao estabelecer um hospital de cuidados para os feridos graves e um hospital de campanha para atender pacientes com tuberculose, além de oferecer serviços de saúde global para mais de sete mil pessoas desalojadas.

Todas as ações desenvolvidas em mais de três décadas de atuação fizeram com que a GHESKIO fosse reconhecida pelo governo haitiano como uma instituição de utilidade pública para o Haiti. Mais recentemente, tem concentrado seus estudos nos campos das cardiopatias, obesidade, diabetes e hipertensão da população, sempre aliando a Assistência, com a Pesquisa Clínica e o Ensino.

Pesquisa e Inovação: PrEP, Micobactérias, Histoplasmose e Esteatose Hepática

A primeira exposição foi da chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids, Beatriz Grinsztejn, que rememorou a criação do laboratório, junto com Valdiléa Veloso, no início dos anos 90, apostando na pesquisa do HIV como uma das linhas mestras na retomada do protagonismo do Hospital Evandro Chagas na Pesquisa Clínica.  A pesquisadora destacou a importância da realização do estudo iPrEX, o primeiro a relatar os dados de eficácia sobre o impacto da PrEP oral para a prevenção do HIV em pessoas e que levou ao desenvolvimento da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) Brasil, tornando-a uma política pública disponível desde o início do ano no SUS. Encerrou destacando que atualmente está em andamento o Projeto para Implementação da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV no Brasil, no México e no Peru (ImPrEP), com o objetivo de monitorar a implementação da PrEP no SUS e ajudar a construir estratégias similares no México e no Peru trabalhando com os grupos populacionais mais expostos ao vírus: homens que fazem sexo com homens, mulheres transexuais e travestis.

A chefe do Laboratório de Bacteriologia e Bioensaios, Maria Cristina Lourenço, falou do trabalho desenvolvido sobre a resistência a fármacos com a Mycobacterium tuberculosis e outras micobactérias, a importância da epidemiologia molecular no estudo das micobactérias, famílias e padrões de resistência às drogas, e do papel dos bioensaios para a prospecção de novos princípios ativos contra micobactérias e outros gêneros. Maria Cristina destacou que de 2003 a 2017 o laboratório já testou mais de 13 mil moléculas sempre com a visão de descobrir novos fármacos e conta atualmente com três patentes nacionais e internacionais que podem colaborar no combate à tuberculose.

A inovação no diagnóstico laboratorial da histoplasmose foi o tema da apresentação da vice-diretora de Pesquisa Clínica e integrante da equipe do Laboratório de Micologia, Rosely Zancopé. Durante sua fala Rosely explicou que a histoplasmose resulta da ação de um fungo dismórfico de grande distribuição mundial, destacando que na América Latina a real incidência da doença é desconhecida por não ser de notificação compulsória e a importância da técnica de Western Blot como metodologia para detecção da doença.

Encerrando a manhã, o pesquisador Hugo Perazzo, do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids, falou sobre uma ferramenta alternativa para detecção de esteatose hepática (doença caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado) através de parâmetros clínicos e laboratoriais evitando a necessidade de realização de uma ultrassonografia ou biópsia do fígado, o biomarcador Steato-ELSA. O trabalho, inédito no país, pode trazer inúmeros ganhos para o SUS, uma vez que permitirá saber a real dimensão da presença de esteatose hepática da população brasileira com um custo baixo, já que o Steato-ELSA funciona aplicando uma fórmula matemática utilizando as informações de saúde da pessoa examinada.

Pesquisa e Inovação: Tuberculose, Sepse e HTLV

A tuberculose, doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões, mas que pode acometer outros órgãos e sistemas, é um grave problema de Saúde Pública no Brasil e foi tema de duas exposições. A primeira, proferida por Maria da Glória Bonecini, chefe do Laboratório de Imunologia e Imunogenética em Doenças Infecciosas, abordou os avanços que o INI vem obtendo no desenvolvimento da nova vacina hsp65-DNA para combater a doença, cuja proposta é ser segura, efetiva, barata e acessível a todos que a necessitem, promovendo a prevenção TB ativa em adolescentes, substituindo a vacina BCG na infância. Em seguida, a chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Micobacterioses, Valéria Rolla, falou sobre abordagens inovadoras em tuberculose como tecnologia GeneXpert, que diagnostica a doença em menos de duas horas e mostra com mais agilidade se o paciente apresenta resistência ou sensibilidade ao antibiótico usado no tratamento.

As consequências a longo prazo da Sepse foram abordadas pelo chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Medicina Intensiva, Fernando Bozza. O pesquisador destacou que a Sepse grave ou choque séptico pode resultar em comprometimento significativo da qualidade de vida e disfunções orgânicas do paciente podendo causar severas consequências neuropsicológicas na pessoa. Em seguida foi a vez de Abelardo Araújo, do Laboratório de Pesquisa Clínica em Neuroinfecções falar sobre HTLV, doença causada pelo vírus T-linfotrópico humano ao infectar as células de defesa do organismo, os linfócitos T. O HTLV foi o primeiro retrovírus humano isolado (no início da década de 1980) e é classificado em dois grupos: HTLV-I e HTLV-2. Entre os avanços obtidos pela equipe do laboratório estão a testagem obrigatória do sangue para a doença como uma medida adotada pelo Ministério da Saúde em 1993 e fazer do INI o primeiro centro de referência para atendimento clínico-neurológico de HTLV no país.

Pesquisa e Inovação: Reabilitação Cardíaca, Análises Patológicas, Nutrição em Infectologia e o enfrentamento das Doenças Febris Agudas

O papel da reabilitação cardíaca na Doença de Chagas foi explorado pela pesquisadora Andrea Silvestre, do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doença de Chagas. Criado em 2013, o Centro de Reabilitação Cardíaca é um projeto inovador no setor público de saúde, atendendo a uma das recomendações das diretrizes de tratamento em cardiologia: a manutenção do paciente com atividade física regular, supervisionada e orientada. O programa, que atende pacientes do INI com insuficiência cardíaca ocasionada por Doença de Chagas e síndrome metabólica ou cardiopatia decorrente do tratamento para HIV/Aids, integra avaliação e acompanhamento de uma equipe multidisciplinar na supervisão de exercícios individualizados. Além das atividades físicas, o paciente recebe o apoio de profissionais das áreas de Nutrição, Farmácia e Serviço Social.

A chefe do Serviço de Anatomia Patológica, Janice Coelho, falou sobre a atuação do setor, que é um dos três laboratórios de referência no Brasil para o diagnóstico das arboviroses, tendo como foco a recente epidemia de febre amarela entre 2016 e 2018. Nesse período o número de amostras recebidas ao ano passou de cinco mil para quase 22 mil e, através do exame imuno-histoquímico, o INI confirmou 14 casos humanos de febre amarela em 2017 e 23 no ano de 2018. Esses números fizeram com que o laboratório buscasse novas técnicas e protocolos para o diagnóstico de referência em Febre Amarela e adquirisse novos insumos e equipamentos laboratoriais visando a modernização e a implementação de novas tecnologias necessárias para atender a crescente demanda.

O papel da nutrição na pesquisa foi abordado por Paula Simplício, do Serviço de Nutrição, destacando o trabalho que a equipe desenvolve em busca de uma alimentação saudável para os pacientes atendidos nos laboratórios com os quais o setor mantém parcerias, entre eles o de Doença de Chagas, Neuroinfecções, Vigilância em Leishmanioses, DST/Aids e Micobacterioses.

Encerrando o segundo dia do simpósio, a chefe do Laboratório de Doenças Febris Agudas, Patrícia Brasil, falou sobre a contribuição do INI na construção do conhecimento da infecção pelo vírus Zika. Seguindo sua vocação natural como sentinelas de doenças emergentes e reemergentes, os pesquisadores já estavam atentos ao surgimento da epidemia em 2015 quando o primeiro caso foi diagnosticado no INI em um paciente portador do HIV. A coorte prospectiva para a vigilância da dengue em gestantes, estabelecida desde 2012 em Manguinhos, teve o seu estudo adaptado para fazer também o rastreamento do vírus Zika, devido à hipótese de associação entre esse vírus e o surto de microcefalia no Nordeste. Atualmente os pesquisadores atuam em diversas frentes para descobrir o alcance da síndrome congênita do zika vírus acompanhando os bebês que foram expostos durante a gestação, inclusive aqueles que nasceram sem comprometimentos aparentes.

Fotos: Felipe Varanda

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