Texto: Antonio Fuchs / Edição: Juana Portugal
No Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado em 14 de abril, a Fundação Oswaldo Cruz deu um grande passo na luta para eliminar a transmissão congênita da doença em países da América Latina, ao firmar convênio com a Unitad através do projeto CUIDA Chagas - Comunidades Unidas para Inovação, Desenvolvimento e Atenção para a doença de Chagas. Coordenado pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, a iniciativa foi apresentada por Andréa Silvestre, pesquisadora principal do projeto e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doença de Chagas do INI, durante mesa virtual em evento promovido pela Fiocruz. “É uma honra comemorar, no data de hoje, o lançamento desta parceria que surge alinhada com a meta global da OMS de eliminação de Chagas como um problema de saúde pública até 2030”, ressaltou Andréa.
O CUIDA Chagas conta com cofinanciamento do Ministério da Saúde do Brasil, suporte da Fundação de apoio à Fiocruz (Fiotec) e pretende reduzir a possibilidade de transmissão da doença de Chagas para novas mães e seus bebês, eliminando essa via evitável da contaminação. Segundo a pesquisadora, a detecção precoce e o acesso ao tratamento com elevadas chances de cura em jovens e crianças poderão diminuir significativamente o número de cardiopatias, hospitalizações e mortes relacionadas a essa enfermidade.
Para alcançar o objetivo da eliminação da doença na América Latina foi formado o Consórcio Chagas, envolvendo a Fiocruz, pelo Brasil, o Instituto Nacional de Laboratorios de Salud (Inlasa), da Bolívia, o Instituto Nacional de Salud (INS), da Colômbia, e o Servicio Nacional de Erradicación del Paludismo (Senepa), do Paraguai, além da iniciativa Foundation for Innovative New Diagnostics (FIND), apoio técnico da Organização Mundial da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde, e a participação da sociedade civil através da Federação Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela doença de Chagas (Findechagas).
O projeto será implementado em 34 municípios, sendo 10 na Bolívia, seis no Brasil, 13 na Colômbia e cinco no Paraguai, selecionados pelos países de acordo com as prioridades de saúde pública, garantindo contextos geográficos e epidemiológicos da doença de Chagas. A atenção primária será o foco central das intervenções com perspectivas de serem desenvolvidas ações integradas às iniciativas pré-existentes envolvendo saúde reprodutiva, materna, neonatal e infantil. “Estima-se que em cada país existam cerca de 60 mil mulheres em idade fértil nos territórios selecionados com a possibilidade de serem avaliadas ao longo dos quatro anos de projeto, chegando assim a 240 mil mulheres atendidas”, afirmou a pesquisadora.
Gabriel Parra-Henao, vice-diretor de Inovação em Saúde Pública do Instituto Nacional da Saúde (INS), da Colômbia, Hernán Rodriguez Enciso, diretor geral do Servicio Nacional de Erradicación del Paludismo (Senepa), do Paraguai, e Maria Renee Castro Cusicanqui, vice-ministra de Promoção à Saúde, Vigilância Epidemiológica e Medicina Tradicional da Bolívia, representando o Instituto Nacional de Laboratorios de Salud (Inlasa) foram unânimes em destacar o quanto o projeto é ambicioso para todos os países envolvidos e que a mudança que pode trazer em termos de diagnóstico e terapêutica, na busca por novos tratamentos mais eficazes e com menor duração, não apenas para as mulheres e crianças, mas para toda a população da América Latina, são fundamentais na luta para que se elimine esta importante doença negligenciada. Já Marta Fernandez-Suarez, diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da Foundation for Innovative New Diagnostics (FIND), destacou que a iniciativa vem ampliando os investimentos em diagnósticos clínicos de doenças tropicais como Chagas e que participar do projeto é uma oportunidade única para colaborar na eliminação da transmissão vertical da enfermidade.“O objetivo principal do CUIDA Chagas é contribuir para a eliminação da transmissão congênita da doença de Chagas, ampliando e melhorando o acesso ao diagnóstico, tratamento e atenção integral por meio de abordagens inovadoras e sustentáveis nos quatro países envolvidos”, concluiu Andréa.
Trazendo a voz do pacientes com a doença de Chagas, a representante da Findechagas, Joanda Gomes, fez um relato emocionado de sua vida ao lembrar que começou a trabalhar com nove anos na agricultura de cana e que aos 12 descobriu ser portadora da doença. “Desde muito jovem aprendi a me cuidar, tomar as medicações, usar marcapasso. Tive a oportunidade de ter duas filhas e agradeço a este projeto pelos resultados que irá trazer para que as futuras mães e crianças possam se tratar e evitar a doença”, disse.
O diretor da Fiotec, Hayne Felipe, falou que o papel da Fundação é de fortalecer inovações que contribuam em iniciativas em prol da saúde pública e entende que o Cuida Chagas só tem a agregar com a qualidade de vida da população dos países envolvidos do projeto. Já o representante da Organização Mundial da Saúde, Pedro Albajar, agradeceu a oportunidade da OMS em ser coautora em um projeto tão amplo e que trará inúmeros frutos para a próxima década.
O representante da Unitaid, Maurício Cysne, lembrou que o CUIDA Chagas é inovador por ser o primeiro projeto que a organização financia no campo das doenças tropicais negligenciadas, saindo do eixo de investimento em Aids, tuberculose e malária. “Essas doenças negligenciadas estão na agenda política internacional e são extremamente importantes para a OMS. É necessário investimentos para combate-las e é isso que estamos fazendo nesta parceria com a Fiocruz”, afirmou. Segundo Maurício, o projeto vai além das 240 mil mulheres que participarão do estudo. A meta, ao final da iniciativa, é levar os resultados aos 21 países endêmicos em doença de Chagas da América Latina, ampliando assim as formas de prevenção e tratamento para toda a população necessitada.
Já Luis Gerardo Castellanos, representante da Organização Pan-Americana de Saúde, acredita no êxito final do projeto por conta de todos os atores envolvidos e que se dedicam a estudar e trabalhar diariamente para combater a doença de Chagas.
Encerrando a mesa de lançamento do CUIDA Chagas, o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, parabenizou todos os colaboradores dos países envolvidos no desenvolvimento do projeto e celebrou o importante avanço no que representa o que há de melhor no uso da ciência em prol da saúde pública. “Estudar a doença de Chagas é uma tradição que temos na América Latina e conseguimos utilizar os resultados em benefício da população. São várias as contribuições ao longo das décadas como o combate ao inseto vetor que eliminou, em muitos países, a transmissão ativa da doença e foi fruto da interação entre o conhecimento científico e os sistemas de saúde dos países”, lembrou.
“Temos um projeto de inovação onde serão propostas novas abordagens na testagem e no tratamento imediato tentando, inicialmente, diminuir hoje o grande problema da transmissão vertical e, além disso, gerar evidências sobre uma nova maneira para cuidar do paciente chagásico”, concluiu.
Confira aqui a mesa de apresentação do CUIDA Chagas.