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13/03/2024

Nota de Pesar: Dra. Lair Guerra de Macedo Rodrigues


É com profunda tristeza que informamos o falecimento da Dra. Lair Guerra de Macedo Rodrigues, a primeira coordenadora do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde.

Formada em 1973 pela Universidade Federal de Pernambuco em Ciências Biomédicas, Dra. Lair concluiu o seu Doutorado em 1983 na Emory University (EUA) tendo como tema as variáveis clínicas e laboratoriais que afetam o isolamento da Chlamydia Trachomatis; e o Mestrado em 1981, na Universidade de Georgia (EUA), tendo também como tema o isolamento da Chlamydia Trachomatis.

De personalidade marcante e determinada, ergueu no auge da pandemia de aids, em meados da década de 80 - quando não havia remédios, nem tratamento -, os pilares do que viria a ser considerado anos mais tarde o melhor programa de aids do mundo.

Ela enfrentou muita resistência para estabelecer as bases do programa, pela falta de recursos, mas, também pelo estigma e preconceitos em torno da aids que aumentava ainda mais as dificuldades e os desafios no atendimento dos pacientes. Ela corajosamente enfrentou todos esses desafios sustentando o conceito e o lema que saúde é para todos.

Numa entrevista, Dra. Lair afirmou que no início da sua gestão o “Programa de Aids cabia numa caixa de sapatos”. De fato, ela iniciou com uma equipe pequena, mas sua determinação e capacidade de agregar e atrair especialistas altamente qualificados não tardou em tornar o programa referência e grande o suficiente para ocupar toda a sobreloja da sede do Ministério da Saúde em Brasília, tal o reconhecimento da relevância do seu trabalho como gestora e da excelência técnica da equipe que a assessorava.

Sua gestão, a frente do programa, se estendeu entre 1986 e 1996. Neste período, ela esteve afastada apenas uma vez do comando do Programa, entre 1990 e 1992, durante o governo Collor, retornando em seguida no governo Itamar Franco, a convite direto do então ministro da Saúde, Adib Jatene. Ela se afastou definitivamente das sus funções em decorrência de um grave acidente automobilístico.

Foi na sua gestão que o SUS iniciou a distribuição dos primeiros medicamentos antirretrovirais que haviam surgido no final dos anos 80, como o AZT, e no início dos anos 90 a didanosina e a zalcitabina.

No campo da prevenção, ela estabeleceu corajosamente a redução de danos - com a promoção da troca de seringas entre os usuários de drogas injetáveis -; e a distribuição de preservativos para a população em geral, como uma política nacional.

A resposta brasileira ao HIV deve muito a sua visão e a sua atuação como gestora que sempre se pautou pelo pioneirismo. Em julho de 1996, quando a comunidade científica internacional anunciava o tratamento revolucionário para aids, formado com a combinação de três classes diferentes de medicamentos, apelidado de “coquetel”, o Programa de Aids em novembro daquele mesmo ano iniciava a distribuição gratuita e universal desse novo tratamento para os pacientes no SUS. Essa decisão atraiu muitas críticas da comunidade internacional que julgava que o Brasil não seria capaz de manter a distribuição. Lair já estava afastada das suas funções, mas o seu legado serviu de exemplo para os seus sucessores manterem e ampliarem essa política, o que revolucionou a resposta brasileira e influenciou a resposta global ao HIV.

É inegável que a marca deixada pela Dra. Lair, nos anos em que esteve à frente do Programa, inspirou e influenciou gerações de profissionais de saúde, gestores, técnicos, ativistas e toda a comunidade dos trabalhadores, trabalhadoras e militantes do campo da saúde pública que, mesmo sem saber, dão continuidade ao seu legado e reforçam os alicerces do SUS.

Um dos diferenciais na sua gestão, foi que Lair entendeu que a resposta aos desafios da aids não poderia ser construída isoladamente com uma visão exclusivamente biomédica. Ela entendeu que as muitas dimensões da doença exigiam um esforço multidisciplinar de saberes e práticas com a participação da sociedade civil organizada e, sobretudo, das vozes de homens e mulheres silenciados pelo preconceito e pelo estigma que a doença traz. Graças as bases fundadas por ela, o Programa de Aids serviu de modelo para outros países e influenciou outros programas do próprio Ministério da Saúde e de outras pastas.

O dia de hoje é, portanto, de luto e tristeza, mas também um dia para relembrar que este país possui homens e mulheres valorosos que pelo seu caráter e atuação constroem pontes para o progresso, fazem história e tornam-se inspiração para gerações. Dra. Lair, certamente, é um desses inequívocos exemplos.

Que Dra. Lair Guerra encontre a paz e o repouso mais que merecidos. Nós que tivemos a honra e o privilégio de conhecer o seu trabalho, seguimos tendo o seu legado como inspiração na defesa de um SUS cada vez mais forte, orientado pela Pesquisa e pela Ciência, tendo por alicerce o acesso universal, gratuito e integral à saúde para todos e todas.

A Comunidade do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) estende suas condolências e solidariedade a todos os familiares e amigos neste momento de dor e saudade.

 

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