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22/03/2019

Os desafios do patologista frente às doenças emergentes


Texto: Antonio Fuchs / Revisão: Juana Portugal

Começou, no dia 11 de março, o ano letivo 2019 do Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas do INI/Fiocruz com a palestra Zoonotic and Emerging infections: perpetual challenges to the pathologist, ministrada pela médica veterinária do CDC/Atlanta, Dra. Jana Ritter, que substituiu o Dr. Sherif Zaki, impossibilitado de viajar para o Brasil. Em sua exposição, Jana abordou as zoonozes e as infecções emergentes, falando dos fatores que contribuem para seus surgimentos, o papel do patologista em combate-las e a importância da saúde de forma a diminuir tais problemas.

A palestrante apresentou o conceito de One Health, uma vez que desde 2006 a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresenta como paradigma para o combate às zoonoses a necessidade de cooperação entre as medicinas veterinária e humana. Desta forma, o One Health trata da integração entre a saúde humana, a saúde animal, o ambiente e a adoção de políticas públicas efetivas para prevenção e controle de enfermidades trabalhando nos níveis local, regional, nacional e global.

Ao falar sobre zoonoses e doenças emergentes ou reemergentes, Jana ressaltou que muitas delas hoje em dia podem ser classificadas ou usadas como ferramentas de bioterrorismo (tais como anthrax, botulismo, peste, varíola, febres hemorrágicas), fazendo com que os grandes centros de Saúde no mundo, como o CDC, estejam sempre atentos. Ainda segundo a palestrante, cerca de 70% das doenças transmitidas por vetores ou zoonóticas são emergentes ou reemergentes no mundo, entre viróticas, bacterianas, protozoárias, fúngicas ou helmínticas.

Sobre os fatores que contribuem para o avanço das doenças infecciosas, destacam-se questões como o aumento de comunidades com baixo ou nenhum saneamento básico, água contaminada, poluição ambiental, adaptação/mutação dos vírus ou bactérias ao meio ambiente, aumento do comercio e de viagens internacionais, mudanças climáticas, guerra e fome entre outros pontos. A expositora falou também sobre os diferentes tipos de rotas de transmissão das doenças, podendo ser diretas, através de secreção, excreção, mordidas ou arranhados; indireta, como água, solo, aerossol; vetores como mosquitos, carrapatos, pulgas; além de comidas cruas e/ou não pasteurizadas.

A respeito dos impactos gerados pelas doenças emergentes, Jana ressaltou que no aspecto econômico os mais afetados são os pequenos agricultores ou as comunidades rurais e que globalmente as perdas causadas por tais enfermidades chegam a 10 bilhões por ano, seja na agricultura, no comércio ou pelo turismo. Na saúde, os mais prejudicados são as crianças, jovens, idosos, grávidas e pacientes imunossuprimidos, gerando 2.5 bilhões de casos de casos de doenças zoonóticas em humanos por ano, com mais de 2.7 milhões de mortes. Esses números acabam por atingir a sociedade que se vê carente de informações mais qualificadas, pois muitas vezes tem conhecimento de casos de surtos através de manchetes sensacionalistas de jornais ou outros veículos de comunicação e até mesmo cinematográfica, como filmes de ficção apresentando situações catastróficas resultantes de epidemias.

Para combater essas ameaças, a palestrante destacou que um sistema de saúde pública robusto, na ciência e na capacidade prática, é possível através das suas colaborações entre a medicina clínica e veterinária, a academia, a indústria e outros parceiros públicos e privados, sendo assim a melhor defesa contra qualquer problema microbiano, envolvendo três grandes conceitos: Detecção (descoberta e diagnóstico do problema), controle (tratamento, parcerias em pesquisa, reportes locais e nacionais qualificados) e prevenção (profilaxia médica, educação da sociedade e de profissionais médicos, formação de redes colaborativas).

A relação entre doenças infecciosas, patologia e saúde pública foi lembrada por Jana ao citar que os patologistas estão entre os primeiros a encontrar novos surtos e em excelente posição para descobrir doenças emergentes através da realização de pesquisas com epidemiologistas, clínicos, veterinários e microbiologistas. Ainda segundo a expositora, muitos exemplos dessas doenças emergentes recentes foram diagnosticados através de autópsias que estão sendo cada vez mais vistas como ferramentas eficazes de vigilância.

Jana encerrou a sua apresentação falando sobre os desafios enfrentados pelo CDC Atlanta nos últimos 25 anos no campo da Saúde Pública, começando com uma Síndrome Pulmonar de Hantavírus, nos Estados Unidos, em 1993, e chegando até 2017, com as recentes epidemias de Zika e Chikungunya. O Dr. Sherif Zaki participou da aula de Jana Ritter, ao final da exposição, respondendo através de videoconferência perguntas feitas pelo público presente no auditório do Museu da Vida.

A atividade, dirigida por Rodrigo Caldas Menezes, coordenador adjunto do Programa, ocorreu no âmbito do Terceiro Curso Internacional em Imunohistoquímica, Patologia Molecular e Histopatologia para o Diagnóstico de Doenças Infecciosas também do INI. A mesa de abertura do evento contou com as presenças da coordenadora geral de Educação da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC) da Fiocruz, Cristina Guilam, do vice-diretor de Ensino do INI, Mauro Brandão Carneiro, da vice-diretora de Pesquisa Clínica do INI, Rosely Zancopé, e da coordenadora do Programa de Pós-graduação Stricto sensu do INI, Claudia Valete Rosalino.

 

Fotos: Antonio Fuchs

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