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27/11/2019

A PrEP e os desafios futuros para a prevenção e tratamento do HIV


Texto: Juana Portugal, Paula Gonçalves e Antonio Fuchs / Revisão: Juana Portugal

A diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Valdiléa Veloso, participou do Seminário de Aniversário do INI apresentando os estudos desenvolvidos na unidade sobre a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Durante sua fala a pesquisadora, que atua no Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids, refletiu sobre os caminhos, desafios e estimativas para o futuro da prevenção e do tratamento de HIV, enfatizando a situação dos grupos mais vulneráveis (homens que fazem sexo com homens, mulheres trans e travestis).

No início de sua exposição Valdiléa descreveu os primeiros estudos sobre PrEP, em meados da década de 1990, quando a Truvada (combinação de dois medicamentos antirretrovirais (Tenofovir e Emtricitabina) foi prescrita para reduzir os riscos de infecção pelo HIV. A eficácia do medicamento foi comprovada em ensaio clínico que contou com parceria de pesquisadores ligados ao campo do HIV/Aids do mundo todo e os resultados foram publicados em dezembro de 2010. “Com os dados positivos lançamos a PrEP Brasil, que foi fundamental para subsidiar o Ministério da Saúde na decisão de incorporar a profilaxia pré-exposição aos protocolos brasileiros para prevenção, tornando-a uma política pública em todo o país”, afirmou.

Em seguida, a pesquisadora descreveu outros estudos sobre prevenção e tratamento do HIV, desta vez com foco em parcelas populacionais de diversas partes do mundo, entre eles: o iPrEx (Iniciativa Profilaxia Pré-Exposição), que teve o INI como um dos 11 centros no mundo onde o estudo foi realizado, sendo este o primeiro grande trabalho sobre a eficácia da PrEP envolvendo homens que fazem sexo com homens, mulheres transexuais e travestis; o Partners PrEP, com casais heterossexuais sorodiscordantes; o FEM-PrEP e o Voice, com mulheres soropositivas heterossexuais de países africanos acometidos por epidemias de HIV. Desde 2017 o INI coordena o ImPrEP, projeto para implementação da profilaxia pré-exposição ao HIV no Brasil, no México e no Peru, que conta com 7.500 participantes. O projeto busca subsidiar estratégias programáticas para o desenvolvimento de programas de PrEP viáveis, equitativos, econômicos e sustentáveis nesses países com base nos resultados dos estudos em andamento.

PrEP sob demanda

Outra vertente contemplou àquelas pessoas que não querem fazer uso da PrEP continuamente. Valdiléa citou o estudo iPERGAY, iniciativa 2+1+1 para adesão aos medicamentos cujo esquema é aplicado quando um indivíduo se programa para ter relações sexuais, sendo medicado com dois comprimidos antirretrovirais 24 horas antes da relação, seguido de outros dois em momentos subsequentes. “Na França obteve-se 86% de eficácia nesse estudo envolvendo homens que fazem sexo com homens (HSH). Com os resultados positivos publicados, a Organização Mundial de Saúde, que já preconiza o uso da PrEP, também recomenda o que chama de event-driven para relações sexuais programadas entre HSH. Mas para a pesquisadora fica ainda uma questão: “será possível no Brasil e em outros países que as pessoas possam escolher e planejar de forma adequada o uso dos medicamentos dentro desses intervalos?”, ponderou.

Adesão como principal desafio

Os estudos convergem ao apontar a adesão ao tratamento como o principal problema, o que torna necessário pensar em métodos e medicamentos que facilitem o uso. Por este motivo novas estratégias da PrEP estão sendo testadas para que cada população possa ter a opção que mais se adeque a seu estilo de vida, indo desde injetáveis de longa duração, como a Rilpivirina e o Cabotegravir, até métodos mais simples como anéis vaginais com microbicidas, colocados antes do contato sexual, ou implantes subcutâneos como o Islatravir, colocado ambulatorialmente. “Nós esperamos chegar a um ponto em que teremos múltiplas opções para PrEP como já existem para a contracepção. Nosso trabalho, enquanto pesquisador, é fazer com que essas tecnologias sejam acessíveis a todos, diminuindo assim as desigualdades existentes e alcançando o máximo de prevenção ao vírus”, ressaltou.

Encerrando a sua intervenção, a diretora do INI apontou a necessidade de combater o estigma e a discriminação que cercam a Aids para poder debater adequadamente as formas de contágio e prevenção. “Temos que desenvolver novos modelos de atenção, pensando em diferentes ofertas e distribuição da PrEP, buscando atingir avanços no acesso ao sistema de saúde e incorporar os novos conhecimentos científicos e tecnológicos no SUS o mais rápido possível”, concluiu.

*Fotos: Paula Gonçalves

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