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22/02/2021

Projeto do INI é selecionado em edital do MCTI/BRICS


Texto: Antonio Fuchs / Edição: Juana Portugal

Valeria Cavalcanti Rolla, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Micobacterioses do INI, vai coordenar, no Brasil, um projeto que tem como objetivo coletar e armazenar amostras biológicas de pacientes com tuberculose pulmonar e ou TB associada à Covid-19 em um biorrepositório localizado em três países. Todo material será utilizado no entendimento do impacto causado pelo novo coronavírus na resposta imune do hospedeiro associada ao controle da infecção por tuberculose micobateriana (Mtb). O estudo foi selecionado no edital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) em parceria com os países componentes dos BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e terá duração de dois anos.

A pesquisa vai recrutar 450 pacientes ao todo, sendo 150 no Laboratório de Pesquisa Clínica em Micobacterioses e no Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19 do INI/Fiocruz, 150 nos ambulatórios do Indian Council of Medical Research/National Institute for Research Tuberculosis (ICMR/NIRT), em Chennai (Índia), e 150 que frequentam unidades básicas e secundárias de saúde na África do Sul, todos com diagnóstico suspeito ou confirmado de TB pulmonar, com e sem coinfecção por Covid-19, durante um período de 15 meses.

A pesquisadora informou que amostras biológicas juntamente com dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais serão documentados, coletados sequencialmente (antes do tratamento, dois meses e ao final do tratamento de tuberculose) de forma padronizada e seguindo as Boas Práticas Clínicas e Laboratoriais. Já as amostras clínicas como células mononucleares de sangue periféricos (PBMC), plasma, tubos Tempus/Paxgene para preservar RNA, e urina também serão separadas, identificadas e armazenadas adequadamente para uso futuro em novos estudos.

Além disso, linfócitos específicos para tuberculose micobateriana e resposta imune humoral inata serão investigados com a perspectiva de determinar questões como o impacto da linfopenia ou da hiperinflamação do Covid-19 nas respostas imunes específicas ao Mtb; o impacto do Covid-19 na ativação do sistema complemento e consequente hiperinflamação; e a correlação dessas mudanças de resposta imune com os desfechos da tuberculose.

Os investigadores pretendem ainda analisar espécimes da África do Sul para sequenciar os genótipos Covid-19 predominantes e descrever retrospectivamente a epidemiologia da doença para o desenvolvimento de ações futuras no campo da saúde pública. Por fim, a pesquisa pretende realizar também a validação de amostras alternativas (swabs da bochecha interna e língua, e aspiração oral) para o diagnóstico Xpert-MTB-RIF ULTRA (versão mais moderna de teste recomendado pela Organização Mundial de Saúde para detectar simultaneamente tuberculose e resistência à rifampicina – medicamento para tratar a doença – em pessoas com sintomas de TB) de pacientes do Brasil e da África do Sul, cuja utilidade será importante para aqueles dispneicos incapazes de obter amostras respiratórias.

“Coletivamente, este estudo representará o primeiro do gênero nas nações do BRICS e produzirá uma coleta de alto valor de espécimes e dados que serão utilizados para aumentar o nosso conhecimento, permitindo assim um melhor controle do Covid-19 e da tuberculose”, destaca Valéria Rolla.

A chefe do chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Micobacterioses do INI ressalta que a pandemia do novo coronavírus vem acentuando desafios antigos e novos para o controle da tuberculose e explica que, na maioria de casos suspeitos de TB com Covid-19 grave, o paciente é incapaz de produzir escarro devido à dispneia e ressecamento respiratório. Outro ponto relevante levantado pelos pesquisadores é que ainda não existem dados consistentes sobre o impacto das condições graves de Covid-19 (imunossupressão periférica transitória e hiperinflamação pulmonar) em pacientes com tuberculose, motivando assim o desenvolvimento deste estudo.

Edital MCTI/BRICS

A chamada CNPq/MCTI/BRICS-STI 19/2020 apoiou projetos de pesquisa para o enfrentamento da pandemia de Covid-19, em parceria com os países componentes dos BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Ao todo foram recebidas 85 propostas em linhas de pesquisa voltadas a novas tecnologias de diagnóstico; vacinas e medicamentos; sequenciamento genético do vírus; Inteligência Artificial aplicada a medicamentos, vacinas, tratamentos; e estudos para avaliar a sobreposição do SARS-CoV-2 e outras morbidades, como a tuberculose. Ao todo foram selecionadas 12 propostas, sendo quatro da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), abrangendo R$ 6,2 milhões de recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e R$ 1 milhão do Ministério da Saúde.

Confira o resultado final clicando aqui.

*Imagem: Freepik

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