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27/11/2019

Respostas efetivas para o tratamento da Chikungunya


Texto: Antonio Fuchs e Juana Portugal / Revisão: Juana Portugal

As contribuições da Rede de Pesquisa Clínica e Aplicada em Chikungunya (Replick) foram tema da primeira apresentação da mesa redonda Desafios no manejo das doenças infecciosas na atual conjuntura, no Simpósio de Aniversário do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). A apresentação foi realizada pelo pesquisador do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do INI e coordenador da iniciativa, André Siqueira, no dia 08 de novembro, no auditório do Pavilhão de Ensino do INI.

No início da palestra o pesquisador relatou que a sua chegada ao Instituto, em janeiro de 2015, coincidiu com o surgimento dos primeiros casos de Zika. “Não sabíamos com o que estávamos lidando. O Brasil sofria, nessa época, com as epidemias de Dengue, mas os exames tinham resultados negativos. Havia toda uma preparação para combater a Chikungunya, pois havia relatos de casos de transmissão na Bahia e no Amapá. Pesquisadores de Salvador descobriram que se tratava de Zika. O potencial de alastramento das três doenças era grande pois o mosquito transmissor é o mesmo, o Aedes aegypti”, lembrou.

Em fevereiro de 2016 o pesquisador percebeu uma mudança nas características dos pacientes que chegavam ao consultório. Eles deixaram de ter febre baixa, rash cutâneo (vermelhidão na pele), exantemas (erupções cutâneas) e conjuntivite, e passaram a ter uma febre mais alta, artralgia intensa, com dores praticamente incapacitantes e persistentes que perduravam semanas e até meses. “No ambulatório houve uma dificuldade para definir o que poderíamos fazer”, disse. Segundo dados do Ministério da Saúde, de janeiro a junho de 2016, o número de casos registrados de Chikungunya foi quase quatro vezes maior do que o acumulado nos anos anteriores. “É característico nesses casos que os pacientes cheguem ao serviço acompanhados dos familiares. A taxa de ataque da Chikungunya é maior que a da Dengue ou Zika, por exemplo. Por isso o alto número de casos registrados. Além disso, enfrentamos uma complexidade no tratamento porque existem muitas lacunas a serem respondidas para compreendermos melhor essa doença”.

Os desafios são múltiplos. “A cronificação/complicação da doença, como tratá-la de forma mais efetiva ou quais são as consequências da infecção, não sabemos isso ainda. Quando começamos a fazer uma discussão mais ampliada sobre os casos com base nas diferentes vivências ambulatoriais, pensamos na infecção ósseo-articular e musculoesquelética por conta das questões da dor, além dos edemas e inflamações causados pela Chikungunya”, explicou André. “Aprofundando ainda mais percebemos que há questões como rigidez, fadiga crônica e os impactos que os sintomas acarretam em outros aspectos da vida dos pacientes, como o psicológico, o social, a capacidade funcional e laboral do indivíduo e sua qualidade de vida”, ressaltou o pesquisador”, ponderou.

Replick

A busca por respostas levou à criação da Rede de Pesquisa Clínica e Aplicada em Chikungunya (Replick), uma iniciativa fruto da parceria entre o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), que investigar a evolução dos quadros clínicos da doença e mapear seus impactos na população em todo o país. “Estamos usando o que temos de melhor aqui no INI, que é a pesquisa clínica, de forma a obter uma precisão melhor em termos de mensurar esse impacto e buscar melhores estratégias para combater a doença”, afirmou.

A proposta da Rede Replick é acompanhar uma coorte de dois mil pacientes, do diagnóstico ao manejo clínico da Chikungunya, ao longo de três anos, consolidando dados e experiências implementadas com sucesso no Sistema Único de Saúde (SUS) de forma a melhorar protocolos, amenizando assim os impactos da doença na saúde da população. Composta por 25 instituições de pesquisa e ensino em nove estados, a Rede agrupa cerca de 40 pesquisadores envolvendo uma extensa e diversificada gama de profissionais, como médicos (infectologistas, reumatologistas e clínicos), enfermeiros, farmacêuticos, biólogos, economistas, cientistas sociais, entre outros.

O estudo está dividido em quatro eixos temáticos: clínico, translacional, terapêutico e epidemiológico. “No eixo clínico pretendemos entender a carga e como o impacto da doença afeta as pessoas. Temos um componente translacional, em que estudaremos fatores genéticos e imunológicos desses indivíduos e vamos relaciona-los aos desfechos clínicos”, explica o pesquisador. “Há também uma avaliação da resposta terapêutica, onde analisaremos a coorte do estudo, mas também ensaios clínicos que possam oferecer respostas para as demandas existentes e, por fim, a questão epidemiológica, onde avaliaremos fatores sociais e os impactos socioeconômicos e psíquicos causados nos pacientes”.

*Fotos: Paula Gonçalves

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