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03/05/2018

Seminário apresenta diversidade de cenários da Leishmaniose Visceral no Brasil


Texto: Antonio Fuchs / Edição: Juana Portugal

O pesquisador do Laboratório de Vigilância em Leishmanioses do INI, Mauro Marzochi, participou, nos dias 23 e 24 de abril, do Simpósio Internacional Leishmaniose visceral: Desafios para o controle no contexto da diversidade de cenários, organizado pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Na ocasião, Marzochi ministrou a palestra Leishmaniose Visceral: cenários epidemiológicos e desafios, onde destacou a necessidade de se reconhecer as leishmanioses como um grave problema saúde pública.

O encontro foi idealizado com objetivo de atualizar os conhecimentos e discutir novas ferramentas e estratégias para o controle da Leishmaniose Visceral (LV) no contexto do “mundo real” em que a transmissão e a doença ocorrem em diferentes panoramas: epidemiológico, clínico, do agente etiológico, do vetor, do reservatório e outras fontes vertebradas de infecção e ambiental, e foi dividido em quatro módulos: os cenários epidemiológicos e a situação atual da Leishmaniose Visceral; a Leishmaniose Visceral e as diversidades e o controle; a Leishmaniose Visceral e as novas ferramentas para o controle; e a Leishmaniose Visceral e outras ações e experiências para o controle.

A Leishmaniose Visceral é uma doença infecciosa sistêmica e caracteriza-se como uma das mais importantes endemias parasitárias em todo o mundo, marcada por febre de longa duração, aumento do fígado e baço, perda de peso, fraqueza, redução da força muscular, anemia e outras manifestações. O agente transmissor é um inseto conhecido popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras, birigui, dentre outros. Estes insetos são pequenos e têm como características a coloração amarelada ou de cor palha e, em posição de repouso, suas asas permanecem eretas e semiabertas. A transmissão acontece quando fêmeas infectadas picam cães ou outros animais infectados, e depois picam o homem, transmitindo o protozoário Leishmania chagasi.

Segundo Marzochi, as ações de vigilância e controle não têm sido suficientes para conter sua expansão e a endemia avança por novas áreas com impressionante velocidade, morbidade e letalidade. O Brasil inclui-se entre os seis países que, em conjunto, respondem por 90% dos casos da incidência mundial da LV. Nas últimas três décadas, a leishmaniose visceral assumiu grande destaque como um dos principais problemas de Saúde Pública no país, atualmente presente nas cinco regiões brasileiras.

Panorama da Leishmaniose no Brasil

Durante sua fala, Mauro Marzochi apresentou um histórico da Leishmaniose Visceral, destacando que em 1936, o pesquisador Evandro Chagas detectou o primeiro caso indubitavelmente autóctone (natural do país ou da região em que habita) da doença no país, diagnosticado em vida, na cidade de Aracaju (SE), além de falar das manifestações clínicas da doença e da situação epidemiológica atual.

Segundo dados apresentados pelo pesquisador, em 2013 foram registrados 3.253 casos de LV em todo o país, com uma incidência de 1,62 casos para cada 100 mil habitantes e presente em 21 estados. A doença afetou majoritariamente os homens (63,9%) na região Nordeste (53,6%). A maioria dos casos foi em crianças de 0 a 9 anos (47,2%) e a doença teve uma letalidade de 7,1%.

Sobre os padrões epidemiológicos da Leishmaniose Visceral, Marzochi ressaltou que os cães são o principal reservatório doméstico e a infecção nesses animais precede o aparecimento de casos humanos. Para cada caso humano há de 20 a 200 casos caninos. No âmbito doméstico, a maioria dos cães que tem sorologia positiva não apresenta sinais ou sintomas clínicos, atuando, no entanto, como depósitos com grande poder de infectar o vetor da doença.

No que se refere às ações de vigilância e controle, o palestrante destacou a necessidade de um diagnóstico precoce (busca ativa) e tratamento adequado dos casos humanos, uma vigilância e monitoramento canino com eutanásia de cães com diagnóstico sorológico ou parasitológico positivos e uma vigilância entomológica, saneamento ambiental e controle químico com inseticida de efeito residual, além de ações de educação em saúde. A indicação da eutanásia de cães infectados e a não recomendação do tratamento canino, como forma de controle por meio de inquéritos censitários, deve ser feita apenas para municípios com transmissão moderada e intensa da doença.

O tratamento dos casos humanos de Leishmaniose Visceral no Brasil é feito com o Antimoniato de N-metilglucamina e tem, como segunda escolha, a Anfotericina B ou Anfotericina B Lipossomal, em casos mais graves. Para o caso dos cães, a mesma medicação pode ser adotada, além de estibogliconato de sódio ou miltefosina, por exemplo.

Marzochi considera fundamental que o país avance nas políticas públicas para a doença, sendo vital o reconhecimento das Leishmanioses como um problema Saúde Pública. Além disso, vê como essencial o aumento dos investimentos em pesquisas e o desenvolvimento tecnológico de novos diagnósticos e terapias, bem como ferramentas de prevenção e controle para as Leishmanioses humanas e caninas.

Confira a íntegra da apresentação do pesquisador do INI, Mauro Marzochi, clicando aqui.

O pesquisador participou ainda da mesa de debates Leishmaniose Visceral – cenários epidemiológicos e situação atual com Ana Nilce Silveira Maia-Elkhoury, da Organização Pan-americana de Saúde, Francisco Edilson Ferreira de Lima Junior, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, e Osias Rangel, da Superintendência de Controle de Endemias, da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo. Todas as exposições realizadas nos dois dias de seminário podem ser acessadas aqui.

 

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