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18/10/2019

Seminário coloca em pauta a relação entre nutrição, metabolismo e doenças infecciosas


Antonio Fuchs

Debater as novas fronteiras que o imunometabolismo e da nutrigenômica, as diferentes formas de tratamento para a obesidade, e explorar a importância da qualidade de vida e saúde tendo como benefício um melhor controle imunológico foram alguns dos pontos abordados durante o VI Seminário de Nutrição em Infectologia. A solenidade de abertura contou com as presenças do vice-diretor de Ensino do INI, Mauro Brandão Carneiro, da coordenadora da Atenção de Pacientes Internos do Instituto, Denise Medeiros e da chefe do Serviço de Nutrição (Senut), Cristiane Almeida. Na cerimônia de encerramento foi exibido um vídeo sobre a trajetória de mais de 40 anos do Serviço de Nutrição do INI. O evento, organizado pelo Senut, aconteceu no último dia 10 de outubro no auditório do Museu da Vida.

O doutor em nutrição experimental e professor da USP Antonio Herbert Lancha Júnior proferiu a conferência de abertura do seminário com o tema Estilo de vida e Imunidade. Em sua exposição falou sobre nutrição e as dietas da moda, os aspectos atuais da nutrição, alimentos funcionais e suplementação, a importância da microbiota e sua consequências para saúde. Lancha Junior ressaltou a importância do tecido muscular para o controle imunológico. Ao longo do processo de envelhecimento é natural que o idoso deixe de consumir alimentos, principalmente a carne, que contém creatinina, que é essencial para a musculatura, por conta da dificuldade de mastigação. “É fundamental que a gente preserve o tecido muscular da pessoa idosa pois estudos mostram que quando um paciente perde cerca de 30% de seu tecido muscular ocasionado por alguma doença ele tende a se aproximar do fim de sua vida”.

Imunometabolismo e nutrigenômica

Para falar sobre imunometabolismo e nutrigenômica, o simpósio contou com três palestras que destacaram a importante integração entre metabolismo, imunidade e nutrição com os pesquisadores Eric Roma (INI/Fiocruz), Adaliene Matos (UFMG), e Fabiane Toste (Uerj). Primeira a se apresentar, Adaliene Matos falou sobre o processo de remodelamento do tecido adiposo na obesidade, através da hipertrofia e hiperplasia, que pode ocasionar danos ao nosso sistema imunológico seja através de hormônios, citosinas, lipídeos, ácidos, entre outros. “Além disso, má nutrição e jejum geram uma imunodeficiência e sabemos que a obesidade leva a um processo inflamatório do nosso organismo. Ou seja, a inter-relação entre o sistema imunológico e o metabólico é muito dependente do estado nutricional do indivíduo”, disse.

Já Eric Roma, pesquisador do Laboratório de Imunologia e Imunogenética em Doenças Infecciosas do INI/Fiocruz, lembrou que as pessoas que não possuem uma dieta regrada ou são obesas possuem um perfil inflamatório maior do que os magros ou com uma alimentação saudável, por conta da importante relação entre nutrição e a regulação do sistema imunológico. Entretanto, o palestrante apresentou dados de duas coortes que estão sendo analisadas pelos pesquisadores expondo que pessoas que possuem IMC acima de 25 têm uma maior proteção contra a Micobacterium tuberculosis, e isso se perpetua para aqueles com IMC acima de 30. “Existem estudos experimentais tentando determinar porque isso ocorre e cabe a nós pesquisadores agora entender como um ambiente hiperglicêmico e/ou dislipidêmico interfere na ativação e na capacidade de eliminação da M. tuberculosis”.

Para falar como a nutrigenômica estuda a forma como os diferentes nutrientes estão relacionados a possíveis mudanças na expressão dos genes das pessoas o simpósio recebeu a nutricionista Fabiane Toste. A palestrante tratou da importância da nutrigenética como uma constituição genética que pode afetar o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. “Estamos vivendo uma revolução genética e trazer uma abordagem nutricional dirigida ao alvo metabólico produz um impacto direto na nossa nutrição personalizada. Entretanto, é importante ressaltar que testes de nutrigenética são preditivos e não diagnósticos. Não devem substituir outros exames e avaliações necessárias ao tratamento e devem ser utilizadas apenas como ferramenta adicional à prescrição nutricional”.

Fitoterapia e obesidade

"A alta ansiedade gerada pelo mundo de hoje como stress constante, consumo de álcool, tabagismo, exposição à poluição e sono irregular são motivos que auxiliam nosso corpo a guardar energia e não emagrecer" explicou a nutricionista especialista em Fitoterapia, Vanderli Marchiori em sua palestra sobre obesidade com a utilização de plantas para o tratamento deste problema de saúde. A expositora informou que não se deve criminalizar comidas ou adotar modismos na alimentação. “O importante é colocarmos alimentos acessíveis no prato do paciente através de uma dieta rica e balanceada”, disse.

Vanderli informou que a fitoterapia é uma excelente estratégia para o nutricionista aplicar em seu atendimento clinico pois é uma ferramenta bastante eficaz quando usada da maneira correta e com o conhecimento necessário para garantir a ausência de riscos para o paciente. Apresentou ainda uma série de fitoterápicos que auxiliam no controle da obesidade, desde que sejam respeitadas as dosagens de uso para cada um deles, como a Crocus sativus (açafrão), Vigna angularis (feijão adzuki), Camellia sinensis (chá verde), Ilex paraguaienses (erva mate), Hibiscus sabdariffa (hibisco), entre outros, explicando suas ações farmacológicas e os mecanismos de ação que contribuem para o emagrecimento.

Alterações metabólicas na pessoa que vivem com HIV

“O número de pessoas envelhecidas vivendo com HIV com 50 anos ou mais aumentará de 28% (2010) para 73% (2030), muito por conta das terapias retrovirais que estão evoluindo e graças também a um tratamento adequado não voltado apenas para o lado farmacológico, mas que alia exercícios físicos e uma boa nutrição”, afirmou o nutricionista Marcus Vinicius Quaresma. O expositor apresentou dados de que vem ocorrendo um envelhecimento precoce da pessoa portadora de HIV, embora ainda não haja um consenso específico na área para essa questão, o que está motivando uma série de novos estudos. Destacou também o problema do risco aumentado de sarcopenia (perda de massa e força na musculatura esquelética com o envelhecimento) nesses pacientes, o que deve motivar os médicos a promoverem uma análise constante do tecido muscular de seus pacientes para um melhor controle imunológico.

A pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids do INI, Sandra Wagner, apresentou casos de pessoas vivendo com HIV e a mudança no perfil de morbimortalidade ao longo dos anos, informando que as causas mais comuns para morte hoje não são decorrentes do HIV e sim de doenças cardiovasculares, câncer ou problemas hepáticos. Sandra questionou se o ganho de peso que ocorre nesses pacientes está relacionado aos inibidores da integrasse, que são aqueles medicamentos que bloqueiam a atividade desta enzima dificultando assim a replicação do vírus e sua capacidade de infectar novas células. “São necessários novos estudos para podermos compreender melhor esse processo porque é sabido que há um impacto no ganho de peso dos pacientes, principalmente nas mulheres” afirmou.

Tratamento da obesidade

Duas estratégias para o tratamento da obesidade foram apresentadas durante o Seminário. A primeira, exposta pela nutricionista Silvia Pereira, explicou a abordagem cirúrgica e trouxe o olhar da obesidade como uma doença crônica multifatorial. A palestrante informou que a cada quilo perdido o apetite da pessoa aumenta em 100 calorias e quando o peso eliminado em uma dieta é recuperado, o apetite dessa pessoa permanece, o que torna mais difícil um melhor controle alimentar adequado e cria o famoso “efeito sanfona” em emagrecer e engordar. Por conta deste problema, o Brasil conta com a segunda maior sociedade mundial de cirurgia bariátrica no mundo, tendo esse tipo de procedimento crescido em aproximadamente 85% no período de 2011 a 2018. “O método ideal a ser adotado pelo paciente que já passou por inúmeras tentativas de emagrecer sem sucesso deve ser eficiente para eliminar 50% do excesso de peso em cinco anos e diminuir morbidades induzidas pela obesidade”, informou.

Já a abordagem nutricional para o tratamento da obesidade foi o tema da palestra do nutricionista Rafael Sales, destacando que uma inflamação crônica gerada pela obesidade pode ser explicada por uma série de fatores como a alta adiposidade, uma baixa massa muscular e/ou sarcopenia, um baixo gasto energético em repouso, uma baixa massa óssea ou a resistência a insulina. “Consumir alimentos com altos índices de ômega 3, ácidos graxos monoinsaturados, antioxidantes ou carboidratos de baixa carga glicêmica são essenciais para diminuir as citocinas (moléculas que participam da comunicação entre as células e desempenham um papel particularmente importante na regulação do sistema imunológico) inflamatórias no organismo. Um dos hábitos da população brasileira extremamente benéfica para o organismo é o consumo de café. Cerca de 200 a 300 mililitros diariamente promove uma diminuição de transcrição de citocinas pró-inflamatórias e um aumento na transcrição de citocinas anti-inflamatórias", encerrou.

*Fotos: Paula Gonçalves e Antonio Fuchs (INI/Fiocruz)

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