Aula inaugural do INI/Ipec aposta na discussão da robótica aplicada à saúde
Carolina Landi
Cerca de 15 milhões de pessoas no mundo inteiro sofrem um acidente vascular cerebral (AVC), segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), sendo a primeira causa de morte em países em desenvolvimento, como o Brasil e a China. O exemplo ilustra o aumento da demanda por serviços de reabilitação, que levou à necessidade de pesquisas sobre novas tecnologias, entre elas a robótica.
Esse foi o tema da aula inaugural do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Pesquisa Clínica de Doenças Infecciosas do Instituto de Infectologia Evandro Chagas (INI/Ipec), ministrada pelo cientista e pesquisador do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, Hermano Igo Krebs, realizada na manhã de 14 de março.
A abertura da aula contou com a presença da Coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Pesquisa Clínica de Doenças Infecciosas Cristina Possas, o Diretor do INI/Ipec Alejandro Hasslocher, o secretário Paulo Henrique Costa, representando o Vice-Diretor de Ensino, Mauro Brandão; e do Vice Presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) da Fiocruz, Valcler Rangel.
“Esse é um momento de reflexão da nossa área, que envolve a interdisciplinaridade”, destacou a Coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Pesquisa Clínica de Doenças Infecciosas, Cristina Possas. Para o diretor do INI/Ipec, Alejandro Hasslocher, o tema tem muito em comum com as pesquisas realizadas no Instituto, que estão aliadas à assistência. “É uma aula emblemática, que traz uma contribuição para a inovação da pesquisa clínica”.
Representando a Presidência da Fiocruz, o Vice Presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS), Valcler Rangel, ressaltou a importância da área de ensino para a Fundação. “Somos uma das mais relevantes instituições no campo do ensino em saúde, passando por todas as áreas. É importante notar que estamos em processo de mudança para os Institutos Nacionais, o que contribui com a possibilidade de desenvolvimento tecnológico, pesquisas, treinamento profissional, e oferecer um novo patamar de qualidade a todos”. Por fim, o secretário Paulo Henrique Costa, representando o Vice-Diretor de Ensino, Mauro Brandão desejou boas vindas aos alunos em nome da Vice Direção de Ensino.
Novo perfil de reabilitação
“Acredito que, daqui a alguns anos, a robótica deve redesenhar o perfil do processo de reabilitação”. É com essa frase que o cientista e pesquisador do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, Hermano Igo Krebs, abre sua conferência. Ele pesquisa tecnologias que possam auxiliar pessoas com problemas neurológicos e ortopédicos, como pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC), e apresentou os resultados do estudo realizado com o Department of Veterans Affairs (Departamento de Questões Referentes aos Veteranos de Guerra – VA).
Os esforços da equipe de pesquisa de Krebs (que é brasileiro, mas mora fora do país há 29 anos) resultaram na criação do robô MIT-Manus. Mais conhecido comercialmente como InMotion Arm, o equipamento é o mais bem-sucedido em tratamentos de reabilitações do membro superior humano e o mais usado em estudos na área, em todo o mundo.
“Só em meus estudos, mais de 800 pacientes foram tratados com esse robô e ele demonstrou que, em média, os pacientes melhoram duas vezes mais do que usando terapia usual. A terapia robótica utilizando este equipamento demonstrou melhora em média de 10% adicionais para pacientes durante a fase aguda e 10% adicionais para pacientes na fase crônica, quando comparados com terapia usual. Isso quer dizer um total de 20%, o que levou a American Heart Association a recomendar robótica para o membro superior (ainda não há dados para o membro inferior)”, afirmou Krebs.
Os estudos realizados com o tratamento robótico mantiveram a frequência de sessões, mas aumentaram a intensidade de movimentos realizados por dia. Segundo Krebs, o maior desafio é como incorporar a tecnologia no dia a dia da clínica.
Com os estudos sobre as vantagens da terapia robótica, chegou-se à conclusão de que ela era financeiramente vantajosa se comparada à terapia usual, e eficaz do ponto de vista médico – os resultados podem ser observados até seis meses após o término da terapia. Observou-se também que os benefícios aos participantes da pesquisa eram ampliados quando os pacientes eram estimulados a serem ativos no tratamento.
“Notou-se que a intervenção de robôs terapêuticos e pacientes deve ser interativa, onde os pacientes tenham que tentar realizar o movimento”, comentou o cientista.
Krebs também destacou a iniciativa brasileira de estudos em robótica realizada pela Rede Lucy Motoro, em São Paulo, e o congresso IEEE International Conference on Biomedical Robotics and Biomechatronics, que será realizado no Brasil em agosto desse ano (http://www.biorob2014.org/).