Diretor do INI fala sobre hepatites virais e os pilares para sua erradicação no Medtrop2025
Por Alexandre Magno
O diretor do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Estevão Portela Nunes, foi um dos palestrantes do primeiro dia do 60º Congresso de Medicina Tropical (Medtrop2025), realizado no Centro de Convenções de João Pessoa (PB), até quarta-feira (5/11). Em sua apresentação, o pesquisador traçou um panorama mundial das hepatites virais, com foco nos tipos B e C, as mais prevalentes e de maior impacto na saúde pública.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 254 milhões de pessoas vivem com hepatite B no mundo. A doença, embora crônica e sem cura, pode ser controlada com manejo clínico adequado, evitando complicações graves. Portela reforçou que a vacinação é a principal forma de prevenção e deve ser amplamente incentivada.
Em relação à hepatite C, estima-se que 50 milhões de pessoas estejam infectadas globalmente. “Essa doença tem cura e o tratamento foi amplamente simplificado nos últimos anos”, destacou o diretor. Apesar disso, a hepatite C ainda preocupa por seu potencial de evolução para cirrose e câncer de fígado e pela alta subnotificação: apenas 36% das pessoas infectadas sabem que têm o vírus. A meta da OMS é ampliar esse percentual para 90% de diagnóstico e 80% de tratamento até 2030.
Os números da mortalidade reforçam o desafio: entre 2019 e 2022, o total de óbitos por hepatites virais aumentou de 1,1 milhão para 1,3 milhão, contrariando a meta global de redução.
Situação no Brasil
No Brasil, tanto as hepatites B quanto C são consideradas infecções silenciosas, já que a maioria dos casos é assintomática por muitos anos. O Ministério da Saúde estima que cerca de 700 mil pessoas vivam com hepatite B sem diagnóstico e outras 520 mil com hepatite C. Para Portela, o grande desafio é “ampliar a base populacional testada e diagnosticada”.
Durante a palestra, o diretor apresentou exemplos de países próximos da erradicação da doença — Suécia, França, Espanha, Suíça e Austrália — destacando que todos escalaram rapidamente o rastreamento, o diagnóstico e o tratamento. “O que eles têm em comum é a capacidade de levar essas ações a toda a população”, explicou.
Pilares para a eliminação
Ao sintetizar sua apresentação, Estevão Portela destacou os pilares estratégicos para a eliminação das hepatites virais:
- ampliar o acesso aos testes diagnósticos;
- simplificar protocolos de tratamento; e
- fortalecer as redes de vigilância epidemiológica, essenciais para identificar populações em maior risco.
“Dado e informação são fundamentais para compreender a realidade e direcionar políticas eficazes”, afirmou. O pesquisador também fez um apelo à equidade e à justiça social, defendendo o acesso universal a novas tecnologias, vacinas e tratamentos de qualidade. Ele alertou ainda para a necessidade de retomar investimentos e construir novas parcerias diante da redução das fontes tradicionais de financiamento.
“Precisamos nos unir, reconstruir parcerias e apoiar uns aos outros. A eliminação das hepatites depende de mobilização e colaboração mútua”, concluiu.
Reconhecimento e presença
A palestra foi mediada pela médica e ex-diretora do INI, Dra. Keyla Marzochi, que parabenizou Portela pela clareza e relevância da exposição. Keyla dirigiu o Instituto em diferentes gestões e foi responsável pela revitalização do Hospital Evandro Chagas nos anos 1980, no auge da epidemia de Aids, período em que consolidou o INI como referência nacional em doenças infecciosas.






















