INI e Projeto ECHO trabalham para o desenvolvimento profissional contínuo sobre covid longa
Por Julliana Reis | Edição por Alexandre Magno
O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), em parceria com a Universidade da República do Uruguai (Udelar), desde 2022, realiza programa de desenvolvimento profissional contínuo voltado para profissionais de saúde na América do Sul, com o intuito de desenvolver suas habilidades na identificação, diagnóstico e tratamento de pacientes com covid. Esse programa é realizado no âmbito do Projeto ECHO que, no caso do INI e da Udelar, as sessões são realizadas quinzenalmente, às segundas-feiras, das 12h às 13h (Montevidéu/Brasília), com tradução simultânea espanhol-português-espanhol.
Segundo a médica infectologista, pesquisadora e coordenadora clínica do projeto de Covid Longa do INI, Dra. Maria Pia Diniz, o Projeto ECHO, que tem mais de duas décadas, foi idealizado nos EUA e foi se expandindo até chegar no Uruguai, onde buscava ter um alcance na América do Sul com temas voltados para a população latina.

“Durante a covid aguda, a partir de 2020, começamos a observar a questão da sazonalidade, do momento que surgiam as variantes, do momento que ocorriam as ondas. Então, naquele período, a gente precisava muito de informações da América Latina”, explicou a médica. “Estávamos desenvolvendo aqui o projeto Recover SUS, que era o projeto de levantamento de dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais de pacientes internados no nosso Centro Hospitalar com COVID-19. Ambulatorialmente, também fazíamos esse levantamento de casos agudos através da pesquisa com os voluntários da vacina Janssen, mas era importante ter essa troca com outros países da América Latina. Então a Udelar e o projeto ECHO nos contataram e propuseram discussões práticas com casos clínicos, experiências, atualizações, já que sabíamos que a vacinação estava sendo diferente nos países, que o tratamento também poderia variar, apesar de sempre se embasar no conhecimento mundial, grandemente liderado pelos Estados Unidos na época”, relembrou.
Apesar do Projeto ECHO existir em diversas áreas da medicina, o recorte que o INI participa começou voltado para covid-19 em sua fase aguda e, quando os casos começaram a ser controlados e as sequelas da doença começaram a surgir, o foco se voltou para a síndrome pós-covid, chamada de covid longa.
“A partir do Projeto ECHO, tivemos muitos avanços, não só para a instituição, mas para o Brasil. Sabemos que tem muita gente no mundo trabalhando com isso, mas estamos tendo a nossa oportunidade de acrescentar também e de trabalhar junto, não só esperar resultados de outros países”, ressaltou Maria Pia.
Síndrome Pós-Covid
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a síndrome pós-COVID-19, também conhecida como covid longa, como uma condição que ocorre em indivíduos com histórico confirmado ou provável de infecção pelo SARS-CoV-2, geralmente três meses após o início da covid-19, com sintomas que duram pelo menos três meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo.
“Sabemos que a covid é uma infecção viral aguda causada pelo vírus SARS-CoV-2, que resulta naqueles sintomas gripais, febre, sintomas respiratórios que fomos impactados desde 2020 com muitos casos, muitas mortes. E no início, a gente achava que ia ser só isso”, contou a pesquisadora.
“Como foi um número muito elevado em todo mundo, a gente percebeu que, com o tempo, começamos a ter um número bem elevado de pessoas que não evoluíam para óbito, se recuperavam da fase aguda e voltavam ao trabalho, voltavam às funções habituais, mas com queixas permanentes ou queixas que apareciam depois dos três primeiros meses”, recordou ela.
Apesar da definição estabelecida pela OMS, a covid longa ainda é uma doença muito inviabilizada. Isso ocorre por não ser possível chegar a um diagnóstico exato, com características clínicas bem definidas, já que se trata de uma inflamação prolongada que pode se manifestar em qualquer parte do corpo. “A parte aguda dos sintomas do covid é mais respiratória em sua maioria, mas a parte de sequela não envolve apenas acometimento pulmonar, mas também problema cardíaco, pacientes que ficam com miocardite, pacientes que ficam com arritmias, pacientes que descompensam doenças prévias, seja hipertensão ou diabetes, até depressão, ansiedade, queixas neurológicas, queixas gastrointestinais… Então a gente começou a ver que a covid longa era um diagnóstico vasto, difícil de se definir”, salientou Maria Pia.
Para chegar no diagnóstico, a médica explicou que precisa ser usado o critério de exclusão. “Quando identificamos que os sintomas surgiram depois da covid-19 e que não são explicados por outra causa, aí começamos a pensar que pode ser covid longa. Não existe um teste diagnostico, não existe um exame de imagem, um exame de sangue que possa ser feito para você saber se é ou não é. Também não existe um tratamento ou uma medicação específica que tenha sido desenvolvida ou que tenha sido usada para tratar essas queixas, até porque a manifestação é muito diversa. Então, o que a gente tem feito na prática é usar o que temos de medicações, já para outras doenças comumente apresentadas na população, para tratar cada queixa”.
Cinco anos após a pandemia de covid-19, muito se fala sobre as vítimas da doença, as pessoas que vieram a óbito, as pessoas que perderam familiares e amigos, mas há pouco espaço para falar sobre aqueles que sofrem com a invisibilidade da síndrome pós-covid. “São pessoas que não conseguiram voltar ao trabalho, porque é uma doença muitas vezes incapacitante ou que prejudica muito às vezes a vida social, não é só a profissional. Então, a nossa tentativa como instituição de pesquisa é justamente se juntar a outros pesquisadores do mundo para tentar cada vez mais avançar nisso e chegar a uma conclusão, além de seguir com o objetivo do projeto de difundir essa informação em tempo real a todos que tenham interesse”, enfatizou a infectologista.
Ainda que não haja um diagnóstico preciso ou um tratamento específico para a síndrome pós-covid, já é possível observar certos padrões. Por exemplo, os pacientes que tiveram covid-19 e precisaram de internação têm mais chance de evoluir para covid longa do que os pacientes ambulatoriais com quadro leve. Também é possível observar uma prevalência maior da doença em quem tem menos doses de vacinação ou que não se vacinaram.
“A única coisa que, até o momento, podemos fazer para evitar a covid longa é evitar ter covid. E isso é feito com vacina, que nos últimos anos tivemos uma dificuldade muito grande de manter as doses atualizadas”, alertou Maria Pia.
Centro Covid Longa
Em 11 de maio de 2023, o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e a Diretoria Executiva da Fiocruz, por meio do seu Escritório de Captação de Recursos (EC/Fiocruz), inauguraram o Centro de Covid Longa, no Campus Manguinhos. A ação, que faz parte do programa Unidos Contra a Covid-19, contribuiu para equipar o INI/Fiocruz com a infraestrutura necessária para que a unidade tenha um espaço de pesquisa multidisciplinar, bem como um centro de tratamento e reabilitação de pessoas com sequelas da doença, proporcionando uma melhor qualidade de vida aos pacientes.
Calendário do Projeto Echo do INI e da Udelar:
Sessão 31 – 06/10
Sessão 32 – 20/10
Sessão 33 – 10/11
Sessão 34 – 24/11
Sessão 35 – 01/12
Sempre de 12h a 13h, horário de Brasília. Inscrições aqui.
Para conhecer o histórico e o surgimento do Projeto ECHO clique aqui.