INI coordena oficinas sobre chagas e micoses sistêmicas no pré-congresso do Medtrop2025
Por Julliana Reis. Ed. Alexandre Magno
O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) está participando do 60º Congresso de Medicina Tropical (Medtrop 2025) – organizado pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) – que acontece em João Pessoa (PB) entre os dias 2 e 5 de novembro.
Embora o evento tenha começado oficialmente com a Solenidade de Abertura deste domingo (2), as atividades já haviam começado com o pré-congresso, com oficinas e cursos, reunindo os participantes (profissionais de saúde, gestores e estudantes), no Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e também no Centro de Convenções de João Pessoa, sede oficial do evento.
O INI deu início a sua participação com a palestra da Brenda Hoagland, médica infectologista e pesquisadora do LaPClin-Aids, na Oficina PrEP como estratégia para eliminação da transmissão do HIV, que se propôs a discutir a profilaxia pré-exposição (PrEP) como uma ferramenta essencial para alcançar a meta de eliminação da transmissão do HIV no país.
A médica iniciou com o panorama geral da epidemia de HIV/aids no Brasil e na América Latina, e em seguida se aprofundou nos dados da implementação da PrEP no país e seus principais desafios, além de trazer detalhes sobre estudos de novos medicamentos.
Segundo Brenda, a oficina foi uma oportunidade de desmistificar e propagar a PrEP. “Ampliar a comunicação, principalmente entre profissionais de saúde, para que eles possam levar de volta para as suas cidades essa informação atualizada sobre o que está sendo disponibilizado pelo Ministério da Saúde no contexto da prevenção do HIV”, ressaltou ela.
Tivemos também a participação do INI na oficina Diagnóstico e vigilância em micoses endêmicas e oportunistas, que contou com palestras da médica e pesquisadora Priscila Marques. A oficina, que durou todo o dia, foi coordenada pela biomédica e pesquisadora do INI, Rosely Zancopé e pela médica do Ministério da Saúde, Maria Adelaide Millington.
Em sua aula, Priscila abordou o tema _Paracoccidioidomicose: desvendando o diagnóstico e manejo na prática clínica_ destacando a importância de falar sobre essa doença – também conhecida pelo nome paracoco ou pelas siglas PCM.
A pesquisadora alertou para o fato da pouca sensibilidade em relação ao tema, o que dificulta o diagnóstico e por conseguinte o tratamento. “Porque se o profissional não está sensível, ele não suspeita, e não suspeitando ele não trata, se não trata não temos bons desfechos clínicos”. Ela complementou que a PCM, como as demais doenças fungicas, são negligenciadas. As pessoas não diagnosticam porque não suspeitam. “Se perdem na sintomatologia facilmente confundidas com outros acometimentos como a tuberculose e os cânceres – doenças que acabam sendo mais lembradas pelo profissional de saúde”.
Entretanto, essa falta de suspeição acaba por “levar ao diagnóstico tardio submetendo assim o paciente ao risco de sequelas e complicações graves da doença e até ao óbito”, afirmou enfaticamente.
Ela lembrou que o INI foi pioneiro em identificar os casos de PCM no Rio de Janeiro, sendo hoje unidade de referência no estudo e no tratamento da doença. “Com a liderança do Dr. (Wanke) Bodo, inicialmente, a conduzir as estratégias de saúde, conseguimos que a paracoco se tornasse doença de notificação compulsória em 2021 no estado do Rio de Janeiro, graças aos nossos estudos”. A médica integra o movimento de vários pesquisadores que querem que a PCM se torne doença de notificação compulsória nacionalmente, como forma de diminuir a invisibilidade e a insensibilidade em relação a doença. O manifesto colheu assinaturas durante os últimos meses e foi entregue na solenidade de abertura do Medtrop para a secretaria de Vigilância em Saúde e Meio Ambiente do Ministério da Saúde, Mariangêla Simão, representando na ocasião o ministro Alexandre Padilha.
Além, da aula da Priscila, a oficina contou com as palestras da médica e professora da Universidade Federal do Ceará, Terezinha do Menino Jesus que falou sobre a histoplasmose; e do médico e professor da Universidade de Botocatu (SP), Rinaldo Poncio Mendes que falou sobre neurocriptococose.
Na parte da tarde, foi a vez de Rosely falar sobre Diagnóstico Sorológico das Micoses: avanços e Desafios. Ela mostrou os exames disponíveis para o diagnóstico das micoses sistêmicas e suas indicações. Perguntada sobre os desafios nesse campo, ela destacou que não há ainda uma política pública consolidada para o diagnóstico de micose, revelou a necessidade de testes comerciais para padronizar em todos os países, principalmente no Brasil, para doenças como paracoco (PCM) e, por fim, jogou luz sobre a falta de capital humano na área. “Poucas pessoas estão voltadas, realmente, para trabalhar com os fungos, as micoses em geral. E claro que isso implica no diagnóstico, porque a maioria das micoses precisam ter a confirmação laboratorial que é soberano para o diagnóstico, já que a sintomatologia dessas doenças são facilmente confundidas”, explicou.
A oficina contou ainda com as participações do médico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Marcello Magri, que apresentou o tema Diagnóstico Convencional das Micoses Endêmicas: do clínico ao laboratorial; do professor e pesquisador da UnB, Marcus Teixeira que falou sobre Diagnóstico Molecular das Micoses Endêmicas: Inovações e Aplicações
Ainda na parte da tarde, na arena silenciosa número 2 do Medtrop, três pesquisadores do INI ministraram curso com foco na doença de chagas. Os médicos do instituto ficaram responsáveis por falar sobre a forma cardíaca da doença. Primeiro, Roberto Saraiva falou sobre Cardiopatia chagásica crônica: aspectos gerais, diagnóstico e prognóstico, quando apresentou um panorama geral da doença, com dados sobre a incidência das diferentes formas da comorbidade e as principais alterações no exame ECG que indicam uma forma cardíaca da doença de Chagas. Na sequência, ele deu uma aula sobre o tema Abordagem das arritmias mais comuns na cardiopatia chagásica crônica. Em seguida, Fernanda Sardinha elucidou o tema Abordagem diagnóstica e terapêutica da insuficiência cardíaca, apontando as melhores formas de lidar com essa faceta da doença de Chagas. Concluindo o dia, Andrea Silvestre falou sobre Fenômenos tromboembólicos na cardiopatia chagásica crônica, que demonstrou como o acidente vascular encefálico (AVE), assim como a morte súbita, poder ser a primeira manifestação clínica de um paciente com cardiopatia chagásica crônica. A oficina também abordou também as manifestações no aparelho digestivo da doença, sendo o tema abordado pela médica do Hospital Universitário Prof. Edgar Santos (BA), Livia Fernandes.
Considerado o maior evento multidisciplinar em Medicina Tropical da América Latina, o Medtrop reúne mais de 3 mil participantes. Saiba mais sobre a participação e a programação do INI para os próximos dias de evento aqui (INI/Fiocruz marca presença no Medtrop 2025 – INI).
Confira a programação completa do Medtrop
































