Atividade sobre tuberculose ao som de Noel Rosa
Priscila Sarmento
Aconteceu na última quarta-feira, 04 de março, no prédio da Vice Direção de Ensino, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), uma oficina organizada pela equipe do Laboratório de Pesquisa Epidemiologia e Determinação Social de Saúde. O tema da oficina foi “Noel Rosa: Música, Arte e Tuberculose”, ministrada por Michele Moreira, estagiária do laboratório. “Nossa ideia era fazer uma dinâmica, queríamos falar de tuberculose de forma mais branda. E resolvemos colocar a literatura de forma que todos pudessem entender. Usamos como exemplo a vida de um grande compositor devido à proximidade do carnaval e o fato dele ter morrido de tuberculose, doença pesquisada no INI”. Explica. Michele contou a história da música brasileira, a introdução da MPB e o Samba, a pré-história da música no século XVII, os chorões que surgiram no século XIX e o primeiro samba que se tornou um marco em 1917.
A atividade faz parte do projeto “Plataforma de Saberes: Envolvimento e participação da comunidade em difusão e popularização do conhecimento científico e tecnológico”, financiada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Esse projeto engloba atividades com colaboradores e pacientes do INI e seus amigos/familiares. “É importante divulgar a evolução da ciência com a população, desmistificar a tuberculose, as pessoas ainda têm dúvidas sobre a doença e transmissão, a importância do tratamento e a não interrupção. Estamos dando início ao projeto, com essa atividade, reunindo esse grupo onde a Claudia Teresa, coordenadora do projeto e que também é chefe do laboratório, vem trabalhando desde 2005”. Conta Eloisa Hora, divulgadora científica, membro da equipe do projeto.
A atividade contou com a participação dos voluntários que trocaram ideias e conhecimentos ao som de Noel Rosa, como por exemplo Conversa de Botequim e Com que roupa? O projeto vem atendendo uma demanda dos participantes da reunião mensal da Associação Lutando pra Viver Amigos do INI, onde são discutidos novos direcionamentos e estratégias de promoção da saúde com o envolvimento e a participação direta dos presentes. O mesmo acontece em reuniões periódicas com a direção e professores, das escolas da rede pública de ensino, que também participam deste projeto. Segundo Claudia o objetivo do projeto é construir novas práticas de promoção da saúde e formas de produção de conhecimento a partir de ações de difusão e popularização da ciência e tecnologia. As atividades que estão contempladas no projeto envolvem a realização de palestras e oficinas de temas solicitados pelo grupo, visitação a exposições científicas, centros e museus de ciência, espaços não formais de ensino e ações socioeducativas (facilitação de alternativas de geração de renda, processos participativos de produção de documentos visuais, atividades de intervenção ambiental, dentre outras).
É muito importante ressaltar que a tuberculose tem cura, no entanto o tratamento deve ser seguido até o fim, com o uso contínuo dos medicamentos específicos, boa alimentação e higiene. Para a assistente do projeto, Michele Meirelles essas atividades são fundamentais para os pacientes, pois melhora a qualidade de vida e os motivam a continuarem o tratamento. “No início o estudo era feito internamente com orientações, quando começamos a ouvir o que os pacientes queriam, tudo mudou, percebemos que eles precisavam sair da Fiocruz, nesse momento, fizemos visitas a museus entre outros”.
Um pouquinho de Noel de Medeiros Rosa
Noel de Medeiros Rosa nasceu em 11 de dezembro de 1910, em Vila Isabel, na cidade do Rio de Janeiro. Sua mãe, dona Marta, teve problemas no parto. O médico precisou usar fórceps e afundou o maxilar de Noel, que viria a ser um homem magro e fraco porque tinha dificuldades para mastigar. Largou a medicina para se dedicar a boemia do samba. Tocava violão com o Bando de Tangarás, ao lado de Almirante, João de Barro e outros. No início, em 1929, era músicas regionais nordestinas. O primeiro samba, Com que roupa?, nasceu ainda naquele ano. Transformou-se no grande sucesso do carnaval de 1931. Em suas músicas falava de seu bairro, seus amores, seus desafetos, suas piadas. A sábia escolha de Noel do ex-futuro médico garantiu à música brasileira momentos e composições primorosas, dentre elas a carta musicada, ao amigo Edgar, que era o médico de Noel.
Em 1933, casou com a sergipana Lindaura, mas continuou com sua vida noturna e, como era de se esperar, a vida íntima do casal acabou em seus sambas. Tuberculoso, Noel tentou se curar no clima frio e seco de Belo Horizonte, em Minas Gerais, mas voltou ao Rio, em 1935, quando entre a saúde e a boemia do samba, escolheu mais uma vez esta última opção. Morreu aos 26 anos da doença, em maio de 1937, deixando quase 300 músicas, recebe até hoje várias homenagens e suas músicas estão sendo regravadas.
Claudia finaliza “Este projeto aponta uma estratégia promissora para subsidiar a pesquisa clínica, epidemiológica, social, ambiental e cultural não somente no INI, como também em escolas da rede pública, e em outras instituições de ensino e saúde”.
Ao Meu Amigo Edgar (Noel Rosa)
Já apresento melhoras
Pois levanto muito cedo
E deitar às nove horas
Pra mim já é um brinquedo
A injeção me tortura
E muito medo me mete
Mas minha temperatura
Não passa de 37
Nessas balanças mineiras
De variados estilos
Trepei de várias maneiras
E pesei 50 quilos
Deu resultado comum
O meu exame de urina
Meu sangue 91
Por cento de hemoglobina
Creio que fiz muito mal
Em desprezar o cigarro
Pois não há material
Pro meu exame de escarro
Até agora só isto
Para o bem dos meus pulmões
E nem brincando desisto
De seguir as instruções
Que o meu amigo Edgar
Arranque desse papel
O abraço que vai mandar
O seu amigo Noel