Tese de doutorado do INI concorre ao Prêmio Capes de Tese de 2016
Antonio Fuchs e Juana Portugal
A tese Evolução nutricional de pacientes com tuberculose em tratamento medicamentoso, elaborada por Adriana Costa Bacelo, sob a orientação da chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Microbacterioses do INI, Valéria Cavalcanti Rolla, está concorrendo ao Prêmio Capes de Tese 2016. A tese foi defendida em 2015, no Programa de Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas do INI (conceito 6 na Capes), e buscou descrever o estado nutricional causada pela Tuberculose (TB) em pacientes infectados ou não pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Adriana espera que seu estudo colabore na elaboração de um protocolo específico para a atenção desses pacientes, no que diz respeito à avaliação e a suplementação nutricional deles, por se tratar de uma doença muito agressiva ao corpo.
Para desenvolver o trabalho a pesquisadora acompanhou durante 180 dias o tratamento de 68 adultos, com idade média de 41 anos, predominantemente do sexo masculino, de baixa escolaridade e baixa renda, com a forma clínica pulmonar da tuberculose. Os participantes foram avaliados quanto à composição corporal, marcadores biológicos e receberam aconselhamento dietético. Todos apresentaram algum tipo de má nutrição, sendo 25% desnutridos conforme tabela de IMC, 66.1% com anemia, 95.6% tinham má nutrição proteica, 70.6% má nutrição calórica e 82.4% má nutrição específica, caracterizada pela deficiência isolada ou múltipla de vitaminas, de minerais ou de oligoelementos. Entretanto, os 22 pacientes com HIV apresentavam um maior comprometimento de proteínas totais, hemoglobina e hematócrito.
Ao final dos 180 dias, 34 pacientes completaram todo o protocolo do estudo. O consumo médio de energia, proteína e zinco desse grupo durante o tratamento ficou próximo ao mínimo recomendado pela Recommended Dietary Allowance (RDA), enquanto que para os demais nutrientes a ingestão alimentar geralmente esteve abaixo do preconizado. “A maioria dos estudos publicados monitora apenas a relação entre o peso do paciente e sua altura. No nosso caso, esse parâmetro melhorou em muitos pacientes, mas também avaliamos as deficiências de vitaminas e minerais, que não apresentaram melhorias em seus índices durante o período da pesquisa”, revelou.
Segundo Adriana, existem vários fatores que podem estar envolvidos no processo nutricional, tais como condição financeira para aquisição e ingestão do que foi recomendado pelo profissional de saúde, condição de saúde ou presença de um cuidador (familiar) para preparar os alimentos, vontade de comer (tanto na doença, quanto na parte medicamentosa, que atrapalha o apetite e que pode causar náuseas e vômitos), estado nutricional antes de adoecer (a pessoa podia já ter deficiências nutricionais antes da TB) ou até o impacto da doença no estado nutricional, quando o corpo “gasta” muitos nutrientes para se “defender” das doenças, principalmente as infecciosas.
Os resultados obtidos por Adriana revelaram que o estado nutricional dos pacientes permaneceu aquém do desejado até o final do tratamento da tuberculose. A adesão foi um grande desafio para o tratamento médico e aconselhamento nutricional, principalmente pela presença de transtornos gastrointestinais e anorexia, além de não haver diferença estatística entre infectados ou não pelo HIV. As evidências apresentadas no estudo sugerem também que o aconselhamento dietético sozinho não parece ser uma recomendação eficaz nesse caso, informou.
“Sem dúvida deixamos uma porta aberta para novas questões nessa linha de pesquisa envolvendo pacientes com tuberculose e sua nutrição, que são: quanto suplementar? O que suplementar? Por quanto tempo? O estado nutricional pode ter relação com o tempo esperado de resposta à medicação?”, concluiu Adriana.
Para realizar o estudo, Adriana seguiu as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde que sugerem o aconselhamento dietético baseado na Recommended Dietary Allowance (RDA) – recomendação de macro e micronutrientes considerados adequados para se evitar deficiências e se viver com uma alimentação saudável – para pacientes em tratamento de TB com má nutrição leve ou moderada.
Sobre a autora
Adriana Costa Bacelo possui graduação em Nutrição pela Universidade Gama Filho, mestrado em Gerontologia Biomédica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e doutorado em Ciências pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas. Sua área de atuação é a nutrição clínica, com ênfase em diagnóstico de estado nutricional, infectologia, gerontologia e alterações endocrinometabolicas.
Prêmio Capes de Tese
Criado em 2005, o Prêmio Capes de Tese é constituído pelo Prêmio Capes de Tese e o Grande Prêmio Capes de Tese, sendo outorgado anualmente em reconhecimento aos melhores trabalhos de doutorado aprovadas nos cursos de pós-graduação adimplentes e reconhecidos no Sistema Nacional de Pós-Graduação em cada uma das 48 áreas do conhecimento. Duas teses em cada uma das áreas também são agraciadas com Menção Honrosa.
O resultado da edição 2016 do Prêmio Capes de Tese será divulgado em outubro.